O tema genérico deste livro é a obra do arquiteto catalão José Antonio Coderch de Sentmenat (1913-1984), pouco conhecido dos brasileiros, mas considerado um dos mestres da arquitetura moderna espanhola. Na sua obra se destaca uma série de projetos, como o edifício residencial para o Instituto Social da Marinha, na Barceloneta, o edifício de escritórios Trade, a sede do Instituto Francês de Barcelona, e um grande número de casas, dentre as quais a casa Ugalde e a casa Catasús, as mais conhecidas e estudadas.

Pela sua importância, a obra de Coderch tem sido estudada com frequência – embora talvez não tanto quanto mereça – inclusive pelos autores deste livro. Antonio Armesto é o autor de um estudo aprofundado e elucidativo sobre o edifício residencial da Barceloneta (1), enquanto Rafael Diez produziu uma análise detalhada das casas projetadas por Coderch em sua tese doutoral, posteriormente publicada como livro (2).

A impressão com que se fica após a leitura do livro de Armesto e Diez é a de que se trata de um livro raro, de que não há nada comparável não apenas sobre Coderch ou qualquer outro arquiteto espanhol, mas no próprio universo das publicações sobre arquitetura. Em primeiro lugar porque é um livro profundo e denso, muito ao contrário das centenas de publicações superficiais que compõem a maior parte do catálogo atual das editoras de arquitetura. Ao lê-lo nos damos conta de que é fruto de uma longa gestação e que os autores conhecem profundamente a obra de Coderch.

Não obstante a sua profundidade, este livro não é um estudo “filosófico” da obra de Coderch – o que geralmente significa muitas palavras e pouca arquitetura –, mas um estudo arquitetônico centrado na análise de projetos. Embora a ideia de arquitetura como totalidade esteja sempre presente, o foco do livro é a discussão em detalhe dos principais componentes utilizados por Coderch em seus projetos.

A primeira parte do livro é constituída por dois textos. O primeiro, de Antonio Armesto, trata da questão da tradição na obra do modernista Coderch e tem como ponto alto a análise do Pavilhão Espanhol na IX Trienal de Milão (1931), baseada numa reconstrução gráfica do projeto e em fotos de época. No segundo texto, Rafael Diez volta a comentar a obra residencial de Coderch desde o ponto de vista da arquitetura como utensílio, como algo para ser usado, e identifica uma série de estratégias recorrentes nessa parte da produção do arquiteto.

A segunda parte do livro é dedicada a discutir a importância de alguns elementos de tamanho menor mas de grande importância na arquitetura de Coderch: o mobiliário – seja ele móvel ou fixo –, as persianas – elemento que a partir de um certo ponto passa a identificar a sua arquitetura –, as lareiras e as luminárias.

A cada ano se publica, em muitos idiomas, muitos livros mas poucos valem o  nosso tempo e dedicação. Este é um deles. O seu enfoque projetual e a qualidade das análises fazem com que, ao terminar a leitura, se tenha a convicção de que se conhece um pouco melhor a arquitetura, elogio que só pode ser feito a um número muito pequeno de livros.

notas

NE
A publicação em Vitruvius, autorizada pelo autor, aconteceu em janeiro de 2011, em procedimento de acerto da periodicidade da revista "Resenhas Online".

1
Edifício de viviendas en la Barceloneta, 1951 – 1955, Antonio Armesto, Colegio de Arquitectos de Almeria, 1996.

2
Coderch. Variaciones sobre una casa. Rafael Diez Barreñada, Fundación Caja de Arquitectos, Barcelona, 2003.

sobre o autor

Edson da Cunha Mahfuz, arquiteto, professor titular da UFRGS.