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Roberto segre analisa as diversas teorias em arquitetura e o posicionamento de Dennis Sharp, consciente das complexidades e contradições em arquitetura, enquanto defensor da ortodoxia do moviento moderno.

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SEGRE, Roberto. Dennis Sharp, um modernista dialético. Resenhas Online, São Paulo, ano 11, n. 128.03, Vitruvius, set. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/11.128/4489>.


O recente e inesperado falecimento de Dennis Sharp (1933-2010) motivou a prestigiada escola de arquitetura Architectural Association de Londres — onde o historiador lecionou por um longo período; Sharp também foi editor da revista AAQ (Architectural Association Quarterly, 1968-1982), e vice-presidente da instituição —, a publicar uma coletânea dos seus artigos e ensaios; como homenagem e lembrança da sua importância na docência, na história e na crítica de arquitetura moderna inglesa. Ao longo do século XX, Sharp foi um ativo defensor e disseminador do Movimento Moderno. Alem dos inúmeros livros publicados teve uma importante participação no Docomomo Internacional – ocupou o cargo de chairman (1993-1996) da seção inglesa –; e membro fundador do CICA (International Committee of Architectural Critics), onde foi nomeado chairman em 1993. Ao mesmo tempo em que se dedicava às atividades teóricas, manteve um escritório dedicado ao restauro e conservação de obras modernas no Reino Unido.

O aspecto notável a ser destacado na obra de Sharp é sua inserção na linha da historiografia inglesa, na qual paradoxalmente dava apoio irrestrito às sucessivas vanguardas arquitetônicas, dedicando-se, ao mesmo, tempo ao resgate da herança exposta pelas tradições ancestrais. Dualidade que vem de longe, quando se superpõe o palladianismo de Inigo Jones, de Robert Adam e Christopher Wren com o medievalismo de Horace Walpole, John Ruskin e William Morris. Isso sem falar no desenvolvimento da Revolução Industrial, baseada na nova tecnologia da máquina de vapor e o uso do ferro e o vidro, que geraria algumas das mais belas obras da functional tradition da arquitetura europeia, como o Crystal Palace  de Joseph Paxton. Mas as contradições não foram nem absolutas nem radicais, o que permitiu uma sólida continuidade da tradição, especialmente no tema da casa e do urbanismo. Sem ela, não teria sido possível a proposta da Cidade Jardim de Ebenezer Howard, nem a simplicidade “protomoderna” das casas de C.F. A. Voysey, de Norman Shaw, e as idéias de William Richard Lethaby, descobertas pelo alemão Hermann Muthesius no início do século XX. Como demonstra Sharp, no capítulo do livro sobre Muthesius e Mackintosh, a aprofundada pesquisa desenvolvida pelo crítico alemã sobre a casa inglesa teve uma particular importância na Europa, com a difusão do livro Das englische Haus (1904) — cujos três volumes foram traduzidos para o inglês e publicados por Sharp em 1979 — que demonstrava a existência de um caminho alternativo ao estilo pompier do vazio ecletismo dominante no gosto da cultura burguesa do fim do século XIX. O livro foi um precedente que antecipou a difusão das Prairie Houses de F.L. Wright, publicadas pelo mesmo editor — o Wasmuth — em 1910, que abriram uma perspectiva nova na cultura arquitetônica da vanguarda incipiente.

Sharp é o continuador, na segunda metade do século XX, de uma linha que define o percurso da historiografia inglesa, que foi assumida pelos teóricos e historiadores de arquitetura latino-americanos ainda como alunos universitários. Neste sentido, quando me formei na Faculdade de Arquitetura de Buenos Aires a influência inglesa nos anos cinquenta na Argentina era muito forte, maior do que a recebida posteriormente da Itália pelo eixo Zevi-Benévolo-Tafuri. Durante o ensino acadêmico o primeiro livro de texto utilizado nos cursos de história foi o grosso volume de Banister Fletcher (1886-1953), A History of Architecture on the Comparative Method (1896); baseado na análise comparada dos monumentos dos diferentes períodos que apesar do caráter eminentemente documental e descritivo, permitia compreender obras notáveis em detalhados desenhos a traço de plantas, cortes e elevações. Uma visão crítica da história da arquitetura europeia chegou com a obra de Nikolaus Pevsner (1902-1983), Outline of European Architecture (1942); que, grande especialista da arquitetura tradicional inglesa, também se interessou pelo Movimento Moderno, no livro Pioneers of Modern Design. From William Morris to Walter Gropius (1949), onde definia a continuidade entre a vanguarda tecnológica e pictórica do século XIX e as transformações ocorridas na arquitetura e no desenho industrial no século XX. Apesar da sua formação acadêmica, Pevsner era sensível às inovações que caracterizaram a segunda metade do século XX: lembremo-lo, nas suas visitas à América Latina, do seu entusiasmo pela obra do venezuelano Carlos Raúl Villanueva, e pela polemica sede do Banco de Londres e América do Sul em Buenos Aires, de Clorindo Testa e SEPRA.

Um segundo grupo de historiadores alternou a pesquisa da tradição clássica com a defesa e divulgação do Movimento Moderno. O uso dos estilos gregos, a significação do resgate da herança grego-romana no Renascimento e a utilização do repertório histórico no século XIX, foram desenvolvidos por John Summerson (1904-1992); Rudolf Wittkower (1906-1971) e Peter Collins (1920-1981). Posteriormente, os primórdios da arquitetura seriam aprofundados por Joseph Rykwert (1926) nas pesquisas desenvolvidas sobre a origem e significação da cabana primitiva. Traduzido para o espanhol e para o português, teve bastante difusão um dos primeiros livros sobre arquitetura moderna, escrito por J. M. Richards (1908-1992); assim como também a historia do urbanismo universal, em um breve compendio elaborado por Arthur Korn, a partir de uma interpretação marxista, pouco comum nesse momento. O fato interessante é que Sharp manteve bom relacionamento com todos eles: primeiro, foi Summerson que o convidou para a Architectural Association como professor de história da arquitetura moderna; com Pevsner e Richards editou o livro Anti-Racionalist and the Racionalist (2000); e publicou um folheto — Planning and Architecture. Essays presented to Arthur Korn by the Architectural Association (1967) — em homenagem ao seu velho mestre Arthur Korn.

Mas a entrada de Sharp no olho da furação crítico acontece entre os anos sessenta e setenta; quando uma nova geração de historiadores e críticos de arquitetura abrem diferentes linhas de pensamento e interpretação do Movimento Moderno e da sua transformação nos caminhos alternativos do “novo brutalismo”, “novo empirismo”, “novo humanismo”, o “pós-moderno”, a high tech e os desdobramentos da arquitetura orgânica nos Estados Unidos. É a presença de Reyner Banham (1922-1988) e Alan Colquhoun (1921), Royston Landau (1927), Peter Buchanan (1942) Sherban Cantacuzino (1932); e os que emigram para os Estados Unidos: Kenneth Frampton (1930), Colin Rowe (1920-1999), Anthony Vidler (1941) e William Curtis (1948). No caminho inverso, se estabelece em Londres o norte-americano Charles Jencks (1939). E Banham descobre que o futuro da arquitetura não está prosperando no Reino Unido, mas no modelo urbanístico e tecnológico que se desenvolve na costa californiana dos Estados Unidos, e se estabelece nos anos oitenta como professor neste país.

A coletânea de artigos e ensaios que compõem este livro, assim como a sua postura como editor da revista AAQ; demonstram o desejo de Sharp de manter um equilíbrio crítico entre as tendências divergentes dos autores citados. Em primeiro lugar foi um defensor da ortodoxia do Movimento Moderno e da necessidade de preservar a sua herança, ameaçada constantemente pela derrubada dos exemplos significativos promovida pela especulação imobiliária. Daí a sua participação nos inventários organizados pelo Docomomo Internacional, e a valorização das obras dos pioneiros realizadas no Reino Unido: foi significativo o livro sobre os arquitetos Connell, Ward & Lucas, publicado em 1994. Mas ao mesmo tempo estava consciente das diferenças e das fissuras existentes na visão ortodoxa que embasava as obras de grandes mestres. Isto o levou a pesquisar sobre os temas que até os anos cinquenta, eram marginais no panorama da arquitetura moderna europeia: o expressionismo alemão, a obra de Erich Mendelsohn — logo estudada detalhadamente por Bruno Zevi —; as contribuições de Hermann Finstelin, Paul Scheerbart, Bruno Taut, Hans Poelzig, Rudolph Steiner, Josef Chochol, entre outros. Eles tem uma presença significativa no importante livro traduzido em vários idiomas, A Visual History of Twentieth-Century Architecture (1972), que detalha uma seleção das principais obras realizadas no mundo entre 1900 e 1960. E a largueza da sua visão chega até as obras produzidas na América Latina e entre os “subversivos” norte-americanos, como Bruce Goff — o livro contém uma longa entrevista com ele —; Herb Greene, Robert Venturi, e Paulo Soleri, arquiteto italiano e discípulo de Wright, radicado na Arizona.

Em uma das suas principais palestras ministrada em Hangzhou, China — Utopian Ideals and the Complexity of the Modern City (2006) — reproduzida no livro, ele acaba com a afirmação vive les différences; ou seja, demonstra a sua consciência da complexidade e das contradições existentes na arquitetura e no urbanismo na mudança de milênio. Daí que como responsável da AAQ, não deve ter sido fácil manter certa independência de critérios, entre o tradicionalismo da Architectural Review e o vanguardismo da Architectural Design, e no seu apoio a arquitetura orgânica, e as teses defendidas por Bruno Zevi na revista L´Architettura Cronache e Storia. Por um lado, apoiou o utopismo de Archigram e o realismo dos movimentos sociais que surgiram depois do Maio de 68 em Paris. E a seguir, identificou-se com as inovações técnicas e ecológicas que surgiram nas últimas décadas do século XX, como o desenvolvimento dos arranha-céus bioclimáticos; as propostas urbanísticas e arquitetônicas dos Metabolistas japoneses, e em particular de Kisho Kurokawa — recentemente valorizados no último livro de Rem Koolhaas —, e nos ostentações estruturais de Santiago Calatrava. Sem dúvida Sharp é uma referência na história e na crítica da arquitetura inglesa, na sua visão equidistante das posturas radicais de Banham, Rowe e Vidler.

sobre o autor

Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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