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reviews online ISSN 2175-6694


abstracts

português
A resenha analisa o processo de fazer arquitetura, abordando desde a categorização histórica e social até os níveis de avaliação qualitativa da edificação na obra original, que se apresenta como pertinente para compreender a complexidade da nossa práxis.

english
The review examines the process of architectural creation, covering historical and social categorization to qualitative evaluation levels of building construction in the original work. It proves relevant in comprehending the complexity of our architectura

español
La reseña examina el proceso de hacer arquitectura, abarcando desde la categorización histórica y social hasta los niveles de evaluación cualitativa de la construcción de edificios en la obra original.

how to quote

CALVETTI, Fernando dos Santos. Análise crítica de Uma introdução ao projeto arquitetônico de Elvan Silva. Reflexões sobre a relação entre teoria, prática e valor arquitetônico. Resenhas Online, São Paulo, ano 22, n. 264.01, Vitruvius, fev. 2024 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/22.264/8958>.


Elvan Silva, arquiteto, professor e autor de diversas obras que analisam diferentes escalas e dimensões do fazer arquitetônico, define como objetivo principal do seu livro Uma introdução ao projeto arquitetônico, publicado pela primeira vez em 1984: “fornecer ao estudante de arquitetura um roteiro e um apoio para obtenção do embasamento teórico necessário ao posterior desenvolvimento das habilidades críticas e instrumentais necessárias ao desempenho da atividade do arquiteto” (p. 13).

O primeiro capítulo se estrutura com o objetivo de definir o projeto arquitetônico e seu papel a partir dos esquemas antropológicos e socioeconômicos. Essa é uma missão difícil, embora essencial para o objetivo geral da obra. A identificação dessa relação entre o desenho e as necessidades e relações pessoais e interpessoais permeia todo o livro. Os apontamentos, indissociáveis de reflexões críticas a diferentes maneiras de se pensar a arquitetura, acabam definindo um processo plural e humano, mas nem por isso menos racional, de se fazer e analisar arquitetura. A obra é dividida em duas grandes partes, cada qual com suas subdivisões: Definição de projeto arquitetônico e Morfologia do projeto arquitetônico. O texto é organizado de forma clara e direta, com textos concisos que buscam respostas bem definidas a questões complexas.

Estratificando historicamente e tecnologicamente a evolução dos processos construtivos num primeiro momento, o autor define quatro tipos de aspectos da produção da arquitetura: a) sociedade mais primitiva: a construção do abrigo é uma atribuição do próprio interessado; b) sociedade intermediária: há já o reconhecimento da necessidade da especialização e consequentemente da divisão social do trabalho; c) sociedade organizada: momento em que a produção do edifício exclui a participação direta do usuário, e requer participação de intermediários; d. sociedade complexa: edifícios de grande porte, a partir do envolvimento e sobreposição de usuários institucionais.

No primeiro tipo, defende Silva, o conceito de projeto é inaplicável. Projeto não é, portanto, uma etapa inevitável no processo de produção. Há, dessa forma, mais do que apenas apontar os caminhos metodológicos da arquitetura, questionar o próprio papel do projeto. Não para eliminá-lo, e sim, pelo contrário, identificar o lugar intelectual e social da nossa prática.

Projeto se assemelha, para Silva, à uma proposta de solução para problema específico do entorno humano. Projeto é instrumento de controle do arquiteto sobre o processo e o resultado. Mas, se por um lado o projeto é evitável – não apenas na “sociedade mais primitiva”, mas também na gigante parcela da cidade contemporânea que é informal – no que se baseiam as aspirações do arquiteto?

O arquiteto e a intenção na arquitetura

O autor reflete que para o arquiteto há dois programas distintos em cada projeto, muitas vezes opostos e contraditórios. O primeiro e evidente é o problema ao qual foi chamado a resolver. O segundo parte das suas próprias aspirações e natureza do seu desempenho como projetista. Há, já na introdução do livro, uma clara crítica de Silva à falta de investimento e tempo dedicado à discussão teórica do projeto, associando a prática à preferência pela realização pessoal, embora reconheça que a discussão pura pode cair eventualmente em armadilhas retóricas e ideológicas. Tomando consciência da predileção morfológica no estudo arquitetônico na sua contemporaneidade, Silva já havia alertado para as contribuições e limitações de metodologias propostas ao longo do século 20.

Com uma lógica que valoriza a construção a partir da análise constante de condicionantes, os “esquemas” citados no objetivo inicial e geradores da arquitetura em muito se assemelham à lógica proposta por Christopher Alexander (1) duas décadas antes. Na busca de uma racionalidade processual para além das questões formais, é inevitável a comparação dessa lógica à proposta modernista dominante em período anterior. O primeiro diagnóstico possível é o evidente: o processo projetual defendido por Christopher Alexander difere da lógica modernista corbusiana em vários aspectos.

Alexander propõe uma abordagem participativa, na qual a participação das comunidades e dos usuários finais é considerada essencial. Há, aqui, já indícios claros dos esquemas antropológicos e socioeconômicos de Silva. Alexander enfatiza a importância de compreender as necessidades, desejos e experiências das pessoas envolvidas no projeto arquitetônico. Sua visão é fundamentada na ideia de que um projeto bem-sucedido deve ser resultado de um diálogo constante entre os profissionais de arquitetura e os usuários.

Por outro lado, a lógica modernista corbusiana é caracterizada por uma abordagem mais racionalista e, porque não, autoritária. Le Corbusier (2) defendia a ideia de que o arquiteto é o único responsável por determinar as soluções adequadas para o projeto, com base em princípios universais e objetivos. Sua abordagem valorizava a funcionalidade, a estética pura e a busca por uma nova linguagem arquitetônica.

Assim, enquanto Alexander busca um processo de projeto inclusivo e participativo, a lógica corbusiana é mais autocrática e centrada no papel do arquiteto como autor da obra. Alexander propõe um método iterativo, no qual o projeto evolui por meio de feedback constante dos usuários, enquanto Le Corbusier defendia uma abordagem mais linear e rígida, na qual o projeto é concebido de forma mais estática e hierárquica. Silva reconhece, inclusive, a forma composta com que nós, arquitetos, acabamos projetando, de forma paradoxal, levando as duas propostas em consideração.

Ambas as abordagens possuem suas contribuições para a arquitetura, e é importante reconhecer que cada uma reflete uma perspectiva histórica e cultural específica. A abordagem de Alexander enfatiza a importância da contextualização e da inclusão das vozes dos usuários no processo de projeto, uma das tantas bandeiras pós-modernas, enquanto a lógica corbusiana ressalta a busca por uma linguagem arquitetônica universal e a aplicação de princípios racionalistas, numa das ideias centrais debaixo do grande guarda-chuvas que é o modernismo.

O processo de Alexander se utiliza da forma de esquemas, ao “desmontar” o problema em todas as suas condicionantes e associar diagramas e respostas simples a cada um deles, que depois vão se somando até chegar à forma final. Nessa relação problema-resposta, que Silva chama de requisito-aspecto formal, há cinco tipos de configuração de projeto: a) dois ou mais requisitos podem ser satisfeitos por um único aspecto formal; b) mesmo requisito satisfeito por mais de uma alternativa; c) determinado requisito é insatisfazível; d) a solução de um determinado requisito pode implicar impossibilidade de satisfação de outro; e) dois aspectos formais não são compatíveis.

Essa estrutura de pensamento joga luz numa dificuldade inerente à crítica arquitetônica, principalmente no contexto brasileiro de formação ainda fortemente guiada por currículos e discursos que descendem do modernismo. Reconhece-se ao longo do discurso de Silva que a estética é uma condicionante de projeto. Embora não apareça de forma explícita nem no discurso corbusiano, nem na estrutura de Alexander, é inevitável concluirmos que mesmo a forma resultante de ritmos, simetrias e proporções, é imposta pela intenção do arquiteto.

A partir dessa constatação, ganha ainda mais complexidade a crítica de Silva à dicotomia teoria-prática no processo projetual. A condição individual de satisfação do arquiteto na prática da sua profissão esconde, portanto, uma questão condicionante essencial. A condição de artisticidade é, para o autor, a possibilidade de escolhas entre possibilidades, mais do que um eventual capricho seu. Há racionalidade, desse modo, no estabelecimento de questões plásticas, pois o próprio cartesianismo e minimalismo defendido por uma das principais correntes do século 20 é, assim, uma escolha plástica. Essa crítica é construída na forma de constatação ao evidenciar os pontos do inevitável papel de uma série de intenções no projeto.

A partir desse entendimento, Silva estrutura dois níveis complementares de avaliação qualitativa do projeto: a) planos de significação da forma, a partir de adequação instrumental, racionalidade construtiva e resultado plástico, e; b) valores semânticos, a partir da análise da originalidade, simplicidade e modicidade da obra.

O projeto é o resultado final antes da forma construída. É, para Silva, o último passo da nossa práxis, que se dá a partir do crescendo de condicionantes e decisões: Do programa para os estudos iniciais, destes para o anteprojeto, e do anteprojeto até o projeto. Por mais irresistível que nos pareça simplificar o exercício do projeto em uma esteira linear de etapas bem delimitadas, tanto Alexander quanto Silva e outros pensadores contemporâneos nos alertam que essa linha é uma espiral. Passamos diversas vezes pelas análises, pelas condicionantes, com cada vez mais conhecimento delas e cada vez mais capacitados a resolvê-las.

Ao reconhecer a necessidade da iteração de Alexander, Silva aponta que o valor arquitetônico está na obra, e não no projeto. A análise da solução se dá apenas no pós-ocupação, e não no desenho. Para tanto, Silva define seis categorias de análise do projeto: necessidade, resolubilidade, otimização, viabilidade, grau de definição e comunicação. Essa constante iteração é um aspecto que define a prática do projeto como projetação, como reflexão-na-ação. A partir dessa construção lógica, Silva define o partido como o nome que se dá à consequência formal de uma série de determinantes – inclusive a intenção plástica do artista.

Considerações finais

Em conclusão, a obra Uma introdução ao projeto arquitetônico de Elvan Silva oferece uma abordagem abrangente e reflexiva sobre o processo projetual na arquitetura. Ao comparar as perspectivas de Christopher Alexander e da lógica modernista corbusiana, o autor nos leva a refletir sobre a importância da participação dos usuários, da contextualização e da estética na arquitetura.

Através da análise das contribuições e limitações de diferentes abordagens, Silva nos convida a repensar a dicotomia entre teoria e prática, reconhecendo a complexidade e a importância das intenções do arquiteto na concepção do projeto. Sua proposta de avaliação qualitativa do projeto e a ênfase na iteração e na reflexão-na-ação demonstram a busca por um processo projetual mais abrangente e significativo.

Dessa forma, Uma introdução ao projeto arquitetônico se destaca como uma obra relevante para estudantes e profissionais da arquitetura, oferecendo um embasamento teórico necessário para o desenvolvimento de habilidades críticas e instrumentais, ao mesmo tempo em que promove uma reflexão sobre o papel do arquiteto na sociedade contemporânea.

notas

1
ALEXANDER, Christopher. A Pattern Language: Towns, Buildings, Construction. Oxford University Press, 1977.

2
LE CORBUSIER. Towards a New Architecture. Dover Publications, 1927.

sobre o autor

Fernando dos Santos Calvetti é arquiteto e urbanista (FA UFRGS), mestre (Propur UFRGS) e doutor (FAU USP). Professor Adjunto do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Santa Catarina.

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resenha do livro

Uma introdução ao projeto arquitetônico

Uma introdução ao projeto arquitetônico

Elvan Silva

1988

264.01 teoria da arquitetura
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