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architectourism ISSN 1982-9930

Fazenda Boa Esperança, Paraibuna SP. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
Para se conhecer uma cidade é preciso caminhar por suas ruas, seus becos, sentir seus cheiros e sabores, como um flâneur que se deixa perder por entre os encantos da cidade. Assim visitamos as cidades de Maceió e Marechal Deodoro.


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CAVALCANTE, Morgana Maria Pitta Duarte; CHIARELLI, Silvia Raquel. O caminho do flâneur: duas cidades. Arquiteturismo, São Paulo, ano 07, n. 073.05, Vitruvius, mar. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/07.073/4703>.


Nossa viagem por Maceió começou por causa da participação com nossas pesquisas no XXIV Congresso Panamericano de Arquitetos que ocorreu entre os dias 27 e 30 de novembro de 2012, no Centro de Convenções Ruth Cardoso, na capital do estado de Alagoas.

Sem dúvida, as paisagens naturais de Maceió e de seus arredores são exuberantes. Valeu a visita às lagoas e às praias do litoral norte e sul. As águas claras de Maragogi, onde é possível mergulhar entre corais e peixes, a Praia do Francês, a Barra de São Miguel e a Praia do Gunga, com suas falésias e seu mar azul turquesa, que impressionaram e encantam. Sem contar no passeio de jangada no mar da praia de Pajuçara.

Na orla, visitamos o Memorial Teotônio Vilela, cujas linhas curvas e suaves eternizam o projeto do grande mestre Oscar Niemeyer nas areias da praia de Pajuçara.

Continuando em direção ao centro tradicional de Maceió, paramos e caminhamos pelo bairro histórico de Jaraguá, lá visitamos o Museu da Imagem e do Som de Alagoas, o prédio eclético da Associação Comercial, além da Casa do Patrimônio de Maceió (museu e sede do Iphan) e o Museu de Arte Brasileira (Fundação Pierre Chalita), que guarda a coleção Brasil 500 anos do pintor Pierre Chalita, ambos localizados em antigos galpões de armazenamento de açúcar.

Edifício Breda, Maceió
Foto Silvia Raquel Chiarelli

Também visitamos o primeiro edifício vertical com mais de quatro pavimentos, o Edifício Breda. Construído em 1958 e implantado em um lote com formato triangular, entre duas esquinas, no Centro, parece ter tido como precedente notável o Edifício Triângulo, projetado e construído por Oscar Niemeyer no ano de 1955, no Centro de São Paulo. O projeto do edifício moderno foi muito ousado para cidade de Maceió na época de sua construção. Destaca-se sua marcação de entrada através de três imponentes colunas circulares com vista para o calçadão à frente, onde transeuntes se deslocam pelo comércio da cidade, ladeados por pitorescas barraquinhas de doces regionais. Neste ponto paramos compramos alguns doces regionais. Ainda no centro da cidade visitamos o Teatro Deodoro e a Catedral Metropolitana.

No bairro de Pontal da Barra destaque para o trabalho artesanal das rendeiras, esposas dos pescadores da região. As cores do “Filé”, rendado típico alagoano e de herança portuguesa, e a agilidade das rendeiras, que o teciam rapidamente, chamaram a atenção. Em um piscar de olhos, o bordado já estava quase pronto. O bairro resguarda o jeito simples de viver, as pessoas nas portas das casas, as rendeiras, os turistas, os cachorros perambulando pela rua, o silêncio que, só é quebrado pelo ônibus e poucos carros que passam e nos finais de semana. Não sendo raro escutarmos alguém dizer “parece que aqui o tempo não passa”.

Indo em direção ao litoral sul, a caminho da cidade histórica de Marechal Deodoro, nos deparamos com uma grata surpresa: O Tribunal de Contas da União de Alagoas, obra do arquiteto João Figueiras Lima, o Lelé.

O edifício, cujo arranjo é composto por quatro volumes, cada um com forma simples e bem definida, e por isso, quase discreto, encontra-se paralelo à via principal e em frente ao mar, em um lote plano e de esquina. Os quatro volumes (um laminar, um trapezoidal, um em forma de paralelepípedo e outro semicircular), que conformam o conjunto da obra, traduzem claramente a intenção de organizar os usos espaciais (por exemplo, trapézio: auditório, semicírculo: sanitários e caixa d’água, etc.). Sua quase discrição formal é quebrada pelas cores vibrantes do volume trapezoidal azul e do semicircular amarelo, destacando o edifício na paisagem urbana e natural de Maceió.

Tribunal de Contas da União de Alagoas, detalhe do pilar metálico, Maceió
Foto Silvia Raquel Chiarelli

O maior volume, com formato de lâmina ou “caixa”, tem sua área delimitada por duas vigas metálicas Vierendeel. A grande “caixa” está apoiada em quatro pilares metálicos que a elevam do solo, situando-a acima da copa das árvores e dos automóveis que circulam pela via principal, paralela ao mar. Sob ela, estão o volume “cego” trapezoidal azul e a rampa metálica de acesso ao edifício. Esta última, pendurada à “caixa” por tirantes de aço.

No interior da “caixa” elevada, o céu e o mar podem ser reverenciados através da transparência do vidro e dos vazios da viga Vierendeel sem nenhum obstáculo visual. Ao mesmo tempo, céu e mar compõem um mural “natural” e em constante movimento com tons diferentes de azul e mesclas de branco na parede, no interior do edifício.

Seguimos em direção à cidade de Marechal Deodoro, no litoral sul.

Em 2006, a cidade foi considerada Patrimônio Histórico Nacional pelo Ministério da Cultura. Seu nome é uma homenagem ao Marechal Deodoro da Fonseca, nascido na cidade, proclamador da República e o primeiro presidente do Brasil. Na sua fundação em 1611, foi chamada de Vila Madalena de Sumaúma, quando ainda era um povoado. Em 1636, já vila, foi nomeada como Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul. Em 1823 foi elevada a cidade, e somente em 1939 recebeu o nome que tem até hoje, Marechal Deodoro (1).

Em meio às casas e às igrejas coloniais, encontramos o casario onde nasceu e viveu o Marechal Deodoro da Fonseca até seus 16 anos de idade, com seus irmãos e sua mãe. Hoje, o casario abriga um museu, com objetos e mobiliários que pertenceram à família.

Os casarios coloniais conservados se destacam por sua policromia, organizados em sequência com suas cumeeiras paralelas às vias, com portas e janelas de madeira).

Igreja Nossa Senhora do Amparo, detalhe do sino, Marechal Deodoro
Foto Morgana Cavalcante Duarte

Além dos antigos casarios, há também muitas igrejas coloniais. Visitamos algumas delas, como por exemplo: a Igreja de Nossa Senhora do Amparo, que foi construída pela Confraria dos Homens Pardos para atender à demanda de fiéis negros e pardos, trabalhadores dos engenhos em atividade na redondeza; a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que surgiu no ano de 1777 em forma de capela, e em 1834 foi ampliada pela irmandade do Rosário para ser frequentada por escravos e ex -escravos; e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que é o símbolo da cidade, pois foi erguida sobre os escombros de uma igreja primitiva destruída pelos holandeses, abrigou a posse do primeiro Governador da Província e teve sua torre construída com a contribuição da comunidade.

Igreja Nossa Senhora Rosário dos Pretos, Marechal Deodoro
Foto Morgana Cavalcante Duarte

Chamam a atenção duas igrejas em estilo barroco, que fazem parte do Conjunto Conventual Franciscano de Santa Maria Madalena. A maior delas era frequentada apenas pelos senhores de engenho e suas famílias (Igreja conventual Santa Maria Madalena), enquanto que a menor (Capela da Ordem Terceira), bem ao lado, pelos escravos e ex-escravos, trabalhadores dos engenhos. O conjunto tem as fachadas valorizadas pelo entalhe da pedra e pelas portas em madeira, destacando-se as almofadas da porta da Capela da Ordem Terceira de São Francisco.

Capela da Ordem terceira, porta em almofadas, conjunto conventual Franciscano Santa Maria Madalena, Marechal Deodoro
Foto Morgana Cavalcante Duarte

Vale salientar que a presença franciscana no Nordeste, através de seus conventos, teve importância destacada por Germain Bazin, cujo estilo gerou,segundo o mesmo, a chamada “Escola Franciscana do Nordeste” (2).

As riquezas naturais e construídas em Maceió e em Marechal Deodoro não acabam por aqui. A viagem terminou sem que esgotássemos a descoberta de todos os seus tesouros, ficando as boas lembranças e a vontade de planejar outra viagem.

Igreja Santa Maria Madalena, detalhe, conjunto conventual Franciscano Santa Maria Madalena, Marechal Deodoro
Foto Morgana Cavalcante Duarte

notas

1
FERRARE, Josemary. Marechal Deodoro: um itinerário de referências culturais. Maceió, Catavento, 2002.

2
BAZIN, Germain. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro, Record, 1983.

sobre as autoras

Morgana Cavalcante Duarte é arquiteta, professora na Universidade Federal de Alagoas – UFAL, e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie – PPGAU Mackenzie.

Silvia Raquel Chiarelli é arquiteta, graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie – FAUMACK em 2009, e mestranda no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie – PPGAU Mackenzie.

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