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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Mauro Ferreira comenta a obra do escritor uruguaio Mario Benedetti, em especial o romance “Andaimes”, escrito em 1996.

how to quote

FERREIRA, Mauro. Andaimes de Mario Benedetti. Drops, São Paulo, ano 18, n. 126.08, Vitruvius, mar. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.126/6933>.


Andaimes
Foto Nelson Kon


Sou fã de carteirinha de Mario Benedetti, o escritor uruguaio que teve que se exilar durante a ditadura militar, foi para a Argentina (que logo também teria um golpe de estado), para o Peru, Cuba e finalmente Espanha, onde se fixou até a redemocratização do país. Autor do romance “A trégua”, primeiro livro seu que tive o prazer da leitura, fui fisgado por uma prosa de qualidade impressionante. Passei a procurar outros livros dele (escreveu oitenta), mas é mais fácil encontrar best-sellers americanos que autores de países vizinhos nas livrarias. O Brasil sempre deu as costas para os hermanos latino-americanos. Achei o ótimo “A borra do café”. Falecido em 2009, aos 89 anos, Benedetti foi um dos principais escritores da América do Sul da segunda metade do século 20.

Garimpando numa livraria paulistana dia desses, encontrei outro romance que desconhecia: “Andaimes”, escrito em 1996 e publicado pela (para mim) desconhecida editora Mundaréu, que parece se preocupar com a qualidade da leitura antes de qualquer coisa: edições simples, econômicas, boa tradução, letras grandes para leitores envelhecidos como eu. Li com espanto, diria maravilhado e afogado pelo torvelinho de emoções que desperta, a construção da narrativa: são descrições, pensamentos, cartas, notícias, construindo um painel da vida de quem é exilado e retorna ao seu país, aos parentes e amigos, às ruas que viveu noutros tempos.

O personagem principal, Javier, retorna da Espanha para reconstruir sua vida, mas como a bela epígrafe usada pelo autor, atribuída a Fernando Pessoa, “o lugar a que se volta é sempre outro”. Tudo mudou, tudo se transformou, amigos e companheiros de luta se transformaram em vários sentidos, alguns aniquilados pela ditadura, outros céticos, cínicos e alguns esperançosos ainda, de ver alguma transformação numa sociedade desigual. É duro ver o que restou do país depois daquilo, dos sonhos, dos afetos, das amizades.

As análises certeiras do personagem do livro sobre o capitalismo, sobre o fracasso dos países sul-americanos em combater a pobreza, a miséria, a desigualdade e a injustiça, a desesperança e o cinismo que se abate sobre a juventude sem perspectivas remontam ao Brasil atual, de Temer, Jucá, Skaff, Alckmin, Bolsonaro, Aécio, Dória e outras tranqueiras que capturam o Estado para servir a si próprios e sua classe social, mantidos por um aparato jurídico-policial que exclui quem não faz parte do clube.

Só o que sei é que os andaimes deste Brasil estão cada vez mais inseguros.

nota

NA – artigo da série Anacrhônicas da Franca do Imperador, nº 13, 2018, publicado originalmente no Facebook.

sobre o autor

Mauro Ferreira é arquiteto.

Capa de “Andaimes”, de Mario Benedetti, Mundaréu, 1996
Imagem divulgação

 

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