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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
O novo projeto para a loja Forma tem levantado muitos comentários críticos em jornais e nas redes sociais. O artigo apresenta posicionamentos e imagens inéditas.

english
The new design for the Shape store has raised many critical comments in newspapers and on social networks. The article presents previously unseen placements and images.

español
El nuevo proyecto para la tienda Forma ha levantado muchos comentarios críticos en periódicos y en las redes sociales. El artículo presenta ubicaciones e imágenes inéditas.

how to quote

FERNANDES, Luiz Gustavo Sobral. O novo projeto para a loja Forma. Minha Cidade, São Paulo, ano 19, n. 225.05, Vitruvius, abr. 2019 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/19.225/7329>.



A Folha de São Paulo publicou, no dia 18 de fevereiro de 2019, uma reportagem sobre a recente intervenção feita por um jovem escritório de arquitetura na loja Forma, conhecido projeto de Paulo Mendes da Rocha (1). Segundo o jornal, o projeto de intervenção chama a atenção dos arquitetos por ser considerado polêmico, germinando intenso debate “ético e estético”. Tudo se iniciou com uma publicação de Renato Anelli nas redes sociais, uma imagem da fachada da reforma da antiga loja Forma com a pergunta: “A loja que já foi da Forma passa por mudanças radicais. Alguém está acompanhando?” (2). A imagem recebeu mais de 120 comentários indignados – em uma avalanche de críticas direcionadas ao novo projeto.

Projetos de reforma ou restauro feitos em obras conhecidas de arquitetura se desdobram, em muitos casos, em polêmica – vide as infinitas discussões que a FAU USP tem tido nos últimos anos apenas sobre seu espaço físico. Também estamos falando de um escritório que tem conhecimento de arquitetura, sabiam que estavam lidando com um projeto de Paulo Mendes e publicaram um livro sobre o processo de intervenção na antiga loja Forma. Portanto, não estamos tratando de um caso leigo, de proprietários desinformados ou desinteressados na autoria e na qualidade do imóvel “assinado”. Essa situação traz muitos debates interessantes. Decidi, portanto, escrever meu parecer após visitar a nova loja e estar presente no lançamento do livro feito pelo Estúdio Tupi para justificar a intervenção. Já adianto: não achei uma boa proposta. Acredito que este é apenas meu posicionamento, não tendo maior validade. Sei que existem muitas pessoas mais preparadas para falarem sobre este tipo de intervenção, mas imagino que minha leitura possa ter alguma contribuição, considerando que sou uma das primeiras pessoas que visitaram a loja recém-inaugurada e reformada.

Loja Uniflex Cidade Jardim, reforma Estúdio Tupi, arquiteto Aldo Urbinati. Projeto original de Paulo Mendes da Rocha
Foto Luiz Gustavo Sobral Fernandes

Dividi meus apontamentos em alguns tópicos, que estão abaixo:

1. Guarda corpo

Podemos dizer que Paulo Mendes da Rocha “inventou” um tipo muito engenhoso de guarda corpo, presente em inúmeros projetos a partir dos anos 1980. Entre eles, podemos mencionar: o MuBE, o interior do Edifício Jaraguá, a casa no Jardim Paulistano e a casa mais recente construída no Pacaembu. Este guarda corpo, que havia sido brilhantemente desenhado para a antiga loja Forma, se tornou um emblema do arquiteto e foi removido pelo escritório que fez a nova adaptação. A substituição foi feita por guarda corpos comuns, de vidro, que pode ser visto frequentemente em edifícios corporativos e em shopping centers – que não possuem a mesma qualidade de desenho.

2. Carpetes

Este é um elemento muito utilizado na arquitetura corporativa, e o arquiteto capixaba nunca utilizou este material em seus projetos. O uso desse revestimento no piso da loja faz com que o projeto fique com uma atmosfera que não existe nos projetos de Paulo Mendes da Rocha ou de qualquer outro arquiteto da chamada “escola paulista”. Mais ainda: inserir um material associado à arquitetura corporativa cria na intervenção uma espécie de “disputa ideológica” entre a brutalidade do concreto e a simplicidade dos revestimentos, marca de toda uma linhagem de arquitetos atuantes em São Paulo.

Loja Uniflex Cidade Jardim, reforma Estúdio Tupi, arquiteto Aldo Urbinati. Projeto original de Paulo Mendes da Rocha
Foto Luiz Gustavo Sobral Fernandes

3. Forro

Mais uma vez, uma solução mais engenhosa e elaborada foi substituída por um material sem a mesma qualidade visual e técnica. O projeto original fazia uso de grelhas metálicas, tipo forro colmeia. A solução aparece em outros projetos do arquiteto, sempre com maestria. Na reforma os forros e a iluminação original foram removidos e substituídos por placas brancas, muito possivelmente feitas de gesso comum ou algum material sintético. Essas placas impedem uma leitura mais integrada da estrutura da construção.

4. Fachada

A alteração na fachada é uma das alterações mais polêmicas. Em primeiro lugar, devemos esclarecer: a “fachada” da loja forma de Paulo Mendes da Rocha não é uma “fachada”, mas um outdoor – que o arquiteto trabalha com lucidez ao colocar o nome da marca que utilizava o espaço originalmente em letras de grandes dimensões. É um mecanismo que, associado à vitrine elevada, funciona como um engenhoso meio de comunicação para aqueles que transitam de automóvel pela Avenida Cidade Jardim.  Portanto, no meu entendimento, o escritório responsável pela reforma faz uma interpretação equivocada do projeto ao alterar a dimensão do novo letreiro e inserindo imagens na face voltada para a avenida. Alterar a dimensão do letreiro altera substancialmente, neste caso, o lastro do projeto. A decisão mais adequada, me parece, no caso de um novo uso do espaço, era substituir o letreiro da Forma pelo da nova loja, porém em dimensões semelhantes.

5. Térreo

A nova versão da loja acrescenta um conjunto de containers no térreo da edificação. Originalmente, o nível alinhado com a Avenida Cidade Jardim era livre para ser utilizado como estacionamento. O “puxadinho” insere um novo uso para este espaço, e altera significativamente a concepção inicial do projeto. Também parece ser uma interpretação equivocada acrescentar redes de repouso, já que existe uma dimensão de uso daquele espaço que não se interpola com este tipo de mobiliário.

6. Cor

O novo projeto insiste no uso da cor vermelha em determinados locais da loja. No meu entendimento, o uso do vermelho é um engano. Paulo Mendes da Rocha não utiliza a cor em seus projetos, e, principalmente a partir dos anos 1990, as estruturas metálicas de seus projetos são pintadas na cor branca – vide FIESP e Poupatempo Itaquera. Portanto, a escolha do vermelho altera não apenas a cor da loja Forma, mas apaga um momento muito especial da trajetória de Paulo Mendes da Rocha, que é quando começam a surgir os primeiros projetos que fazem um uso brilhante da estrutura metálica.

Loja Uniflex Cidade Jardim, reforma Estúdio Tupi, arquiteto Aldo Urbinati. Projeto original de Paulo Mendes da Rocha
Foto Luiz Gustavo Sobral Fernandes

7. Blocos de vidro

O projeto original de Paulo Mendes da Rocha tinha uma continuidade espacial que se perdeu com a reforma. O escritório responsável pela reforma inseriu alguns cubos de vidro no interior da loja, com o objetivo de receber alguns usos mais privados para a comercialização dos produtos. Estas intervenções parecem sutis, mas invertem completamente uma das principais características do projeto de Mendes da Rocha. Como se não bastasse, a nova intervenção faz uso de uma infinidade de cortinas cinzas, biombos e bancos revestidos de tecido. Se a nova loja precisava de outros espaços reservados, cabia ao escritório contratado fazer uma intervenção mais discreta, em algum ponto da loja – com desenho primoroso e possível futura remoção. 

Loja Uniflex Cidade Jardim, reforma Estúdio Tupi, arquiteto Aldo Urbinati. Projeto original de Paulo Mendes da Rocha
Foto Luiz Gustavo Sobral Fernandes

Últimos comentários

O Estúdio Tupi, responsável pela reforma, parece ter feito um outro projeto sobre a estrutura originalmente projetada por Paulo Mendes da Rocha. No lançamento do livro elaborado pelo escritório, que fala sobre a reforma, Aldo Urbinati, arquiteto autor e responsável técnico pelo projeto, apresentou debates teóricos para justificar a intervenção realizada, parte dos argumentos já presentes na reportagem da Folha de São Paulo, como a citação a Bernard Tschumi, onde afirma que “o vermelho não é uma cor” – e que, portanto, existiria uma suposta sintonia entre o vermelho (nova cor) e o branco (cor original). Também reforçou, na ocasião, a impressão do Templo Malatestiano na fachada, mencionada na Folha como uma “homenagem ao gênio Paulo Mendes da Rocha”. Para além dessas leituras teóricas, que são interessantes, e que Urbinati parece conhecer muito, falando com consistência e paixão, vale ainda considerar que elas não substituem a materialidade do projeto – no caso, e no meu entendimento, outros projetos de reforma são exemplos mais lúcidos de intervenção, como a reforma da casa Olga Baeta, feita por Angelo Bucci (3) em um projeto original de Vilanova Artigas.

Loja Uniflex Cidade Jardim, reforma Estúdio Tupi, arquiteto Aldo Urbinati. Projeto original de Paulo Mendes da Rocha
Foto Luiz Gustavo Sobral Fernandes

notas

1
ANGIOLILLO, Francesca. Reforma de loja gera debate ético e estético. Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 fev. 2019 <https://bit.ly/2IoQmX2>.

2
ANELLI, Renato. Postagem no Facebook, 2 fev. 2019 <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10211687324933391&set=pb.1675401443.-2207520000.1554805309.&type>.

3
Casa Baeta. Website do escritório SPBR / arquiteto Angelo Bucci <www.spbr.arq.br/portfolio-items/reforma-casa-olga-baeta-2>.

sobre o autor

Luiz Gustavo Sobral Fernandes é arquiteto, com graduação pelo Mackenzie e pela FFLCH USP. Faz mestrado na USP, com passagem pela Universidade do Texas em Austin e pela University College London.

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