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PORTAL VITRUVIUS. Concurso Público Nacional de Anteprojetos de Arquitetura para a construção do edifício-sede do Crea Mato Grosso. Projetos, São Paulo, ano 08, n. 095.01, Vitruvius, set. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/08.095/2928>.


O Partido Arquitetônico

O espaço do projeto proposto localiza-se no chamado Centro Político Administrativo do município de Cuiabá, definido durante o governo de José Fontanilhas Fragelli, substituindo as antigas ocupações pela nova sede administrativa do estado do Mato Grosso.

A leitura do terreno segundo suas condições paisagísticas e urbanas identifica a vocação da expressão institucional da obra proposta.

Dotado de uma topografia acidentada, o formato longitudinal do terreno, composto por dois lotes com testadas em vias de acesso, e o gabarito máximo definido pela legislação local definem o partido arquitetônico do projeto.

A proposta para abrigar nova sede do CREA-MT em Cuiabá fica de forma composta por um bloco único de forma linear que transpõe o terreno, vencendo o desnível entre a Rua 4 e Rua 5. Desta maneira, foi possível contemplar o com duas fachadas distintas destinadas às duas ruas de acesso ao terreno.

Trata-se de um bloco solitário que resiste às outras edificações de entorno, porém com sua maior área rebaixada em relação ao nível do acesso principal constitui uma interrupção no plano do solo e permanece como parte integrante do espaço circundante.

Partimos do princípio de criar espaços integrados entre o meio externo e interno, através de um átrio no limite externo do prédio e jardins internos no saguão, proporcionando ao usuário do edifício uma interação com a paisagem.  Assim, a utilização de panos de vidro e áreas de transição entre interior-exterior, contempla o caráter contemporâneo da edificação.

Os desníveis naturais do espaço foram respeitados, definindo o corpo do projeto em três pisos distintos, ocupando o terreno de uma forma contínua e racional possibilitando um melhor aproveitamento do estacionamento no terreno. O piso grama usado como pavimentação das vagas descobertas, permite uma significativa permeabilidade do solo e um maior conforto térmico do lote. Os rebaixos propostos para o terreno, além de sua melhor ocupação, fazem alusão à natureza introvertida da edificação, de mesmo modo que revela à paisagem da cidade a fachada exposta da sede.

O Zoneamento do Programa

Quanto ao zoneamento do projeto, fica setorizado o programa de necessidades por níveis. Ao plano do subsolo, ficaram designadas as vagas de garagem cobertas, destinadas para autoridades de funcionários. Ao plano inferior ficaram localizadas as áreas de uso público, de aspecto austero, com saguão dotado de pé direito duplo, espaço para exposições integrado ao meio externo, áreas de atendimento, plenário, auditório e almoxarifado. No piso intermediário estão locadas as salas administrativas e presidenciais, bem como as áreas de escritórios. E, por fim, a área superior, que é ocupada pelas áreas mais restritas, como as áreas de treinamento e biblioteca, e as áreas de arquivo.

A forma estreita dos pavimentos permite um melhor aproveitamento da iluminação natural e da ventilação cruzada dos ambientes. Desta forma, os funcionários do edifício têm acesso direto às vistas externas e a luz solar, contribuindo para um melhor ambiente de trabalho. Essa forma, aliada a estrutura lançada em malha, também permitiu um racionamento na estrutura, de modo que foi possível a constituição de um ambiente se barreiras fixas, integrando o ambiente e permitindo uma maior mobilidade de layout dos escritórios.

Apenas as barreiras móveis se fazem presentes na maior área dos pavimentos intermediários e superior. Essas barreiras recebem uma diferente coloração, possibilitando uma melhor compreensão dos setores e contribuindo para uma disritmia programada no interior, se distinguindo do caráter monocromático presente no exterior da edificação. Foram dessa forma designados aos setores de serviços públicos, alimentação e atendimento as cores azul, vermelho e laranja respectivamente, e foi determinado o uso de divisórias verde para demarcação dos ambientes de uso privado.

Os Acessos

Todos os acessos à nova sede são oriundos da Rua 4, que é a rua mais alta em relação ao nível do terreno.

O acesso principal para pedestres, pessoas que chegam de ônibus ou que estacionem os veículos no primeiro nível de estacionamento descoberto se dá pelo nível da Rua 4. É realizado pela face noroeste da sede, a face mais protegida devido sua orientação solar. Formado por uma composição singular entre a suavidade das estruturas leves metálicas e o espelho d’água de borda em contraponto com a rigidez do concreto. Desta forma, cores, texturas e padrões de superfícies articulam a existência dos planos e influenciam o peso visual da forma, marcando a entrada na fachada e escondendo o interior da edificação, apenas revelado após o mergulho induzido ao saguão, por meio da escadaria de acesso.

O acesso secundário é o realizado pelas pessoas que chegam de automóveis e estacionam seus veículos no nível intermediário do estacionamento descoberto. Esse acesso tem ligação direta com o saguão, ligado por uma área denominada área de transição entre o interior e o exterior da sede, ao nível do saguão. As pessoas que por esse acesso adentram têm visão total da fachada sudoeste e percepção do peso visual, escala e proporção da obra.

O terceiro acesso é o acesso das pessoas que estacionam seus veículos no nível mais baixo do terreno e as pessoas que estacionam no subsolo, que fazem esse acesso pela circulação vertical do edifício.

Todos os acessos permitem a entrada de pessoas portadoras de quaisquer necessidades especiais.

Os Fluxos Internos     

Fluxo de visitantesTodos os acessos direcionam o visitante a recepção, por diferentes vias. A recepção por sua vez direciona o visitante ás áreas de uso público, localizadas no nível intermediário, como o auditório, plenário, cantina e central de atendimentos.

Fluxo de AssociadosOs associados também têm seu acesso direcionado à recepção, e poderão ser direcionados aos espaços que lhes forem necessários.

Fluxo de FuncionáriosTem acesso livre ao prédio. Duas torres de circulação vertical permitem o acesso às áreas de escritórios

Fluxo de PresidenteTambém com acesso livre, direcionado à recepção presidencial, com acesso direto ao saguão, por meio de circulação vertical.

Elementos Construtivos

O edifício proposto é constituído predominantemente de concreto nas suas circulações verticais e estrutura principal, em estruturas metálicas de fechamento, alvenaria em áreas molhadas e divisórias modulares nas áreas de trabalho que delas necessitem. Para proporcionar uma maior flexibilidade de ambientes e menores custos de execução, a estrutura foi disposta em malha de 1,25 x 1,25 metros, composta de um conjunto de vigas e pilares em pórtico que possibilitam um grande vão livre entre as lajes nervuradas. Os fechamentos das áreas de escritórios e saguão serão em estrutura metálica, composta de caixilhos, perfis, brises, vidros e telhas metálicas.

As instalações prediais dispostas em shafts localizados nas torres de áreas molhadas, de fácil acesso e manutenção.

Os pisos de saguão e áreas públicas serão confeccionados em placas de concreto desempenado, com juntas de dilatação a cada 2,50 metros.

Nas áreas de trabalhos, caminhos de pisos elevados revestidos por carpete distribuem as instalações para os pavimentos de escritórios.

As paredes de alvenarias receberão pintura de tinta acrílica, nas áreas molhadas revestimento cerâmico e verniz nas superfícies de concreto aparente.

Os tetos dos ambientes , quando cobertos por lajes, terão sua estrutura aparente, recebendo forros nas áreas molhadas e tratamento acústico nas áreas que este se faz necessário.

A Estrutura

A estrutura do projeto é composta por 04 pavimentos, sendo um subsolo, um pavimento inferior, um intermediário e um pavimento superior, com área total de 3051.22 m². O esquema estrutural adotado foi o de laje do tipo nervurada, sem enchimentos, com espessura de 6 cm para a mesa, e altura de forma de 34 cm, com espessura de total finalizada em 40 cm. Estas lajes serão apoiadas em vigas maciças, com altura mínima de 60 cm, para vencer os vãos propostos. As vigas apóiam-se nos pilares, de 40 cm de diâmetro, em linhas coincidentes, obedecendo a uma malha de 1.25x1. 25 metros.

O concreto escolhido, do tipo usinado adensado por vibradores, possui resistência a compressão igual a 25 MPa, aço CA-50 para armadura longitudinal e aço CA-60 para a armadura transversal (estribos). O composto estrutural terá peso específico de 2500 kgf/m³. As cargas acidentais serão adotadas para cada finalidade, das diversas partes da estrutura.

O teto do auditório será em estruturas de aço, através de treliças longitudinais, apoiadas em pilares de concreto, proveniente do nível do subsolo. A treliça se justifica pelo fato de não ser possível a utilização da estrutura convencional de concreto para vencer os vão desta área. Os panos do piso serão executados por lajes pré-fabricadas apoiadas sobre as treliças, e sobre estas o espelho d’água, com espessura de 40 cm. A disposição das treliças será a cada 5 metros.

Soluções Ambientais, Térmicas e Acústicas

O prédio para a nova sede do CREA-MT se propõe como uma edificação bioclimática adaptada ao clima do local, usando de forma racional os elementos naturais. A ventilação natural do saguão e a climatização por meio de ar condicionado nas épocas quentes e permitindo o aproveitamento do clima natural no inverno e nas épocas de transição e noturna.

Os elementos de paisagismo internos melhoram a umidade do ar na época mais seca do ano, porém não representam um acréscimo nas épocas mais úmidas. O uso do espelho d’água configura um isolante termo-acústico para o auditório, visto que este se encontra incrustado no terreno.

As maiores fachadas do edifício, por serem as de maiores aberturas, recebem um controle de luminosidade. Esses controles serão executados por brises metálicos, espaçados 50 cm do limite predial, para possibilitar a abertura das janelas. A possibilidade de abertura manual das janelas contribui para uma minoração da energia, utilizando o clima natural quando este estiver em condições adequadas. Esses brises percorrem toda a extensão das fachadas sudoeste e nordeste, controlando a entrada do sol, e por conseqüência a temperatura interna da edificação.

A proposta também prevê um aproveitamento de águas pluviais como fontes de abastecimento alternativo, para irrigação dos jardins e gramados e vasos sanitários. Essas águas pluviais serão coletadas nas coberturas e áreas impermeabilizadas. Os vasos sanitários de caixa acoplada, que delimitam o consumo de 6 litros por acionamento, reduzem o consumo de água.

ficha técnica

Autores
Arq. Frederico Bertolazzi Zaniol
Arq. Guilherme Zamboni Ferreira
Arq. Marcos Luciano Sica Garcia
Acad. Thaigo Yamakawa Ferraro

Colaborador estrutura
Eng. Carlos Arnaldo Gilberto Hints

Consultor Paisagismo
Arq. José Waldemar Tabacow

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Equipe premiada
Florianópolis SC Brasil

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Organização do concurso
Cuiabá MT Brasil

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