A geometria da construção evidencia o embate entre a pendente natural da encosta e o plano construído. Implantada justamente sobre o muro de contenção – baliza do único patamar disponível neste terreno íngreme – a casa se configura como uma zona de interseção entre montanha e platô.
A obra se situa nos arredores da cidade de São Francisco Xavier, na Serra da Mantiqueira, interior de São Paulo. Um dos desafios enfrentados foi a declividade acentuada do terreno, que já possuía um pequeno terrapleno, remanescente de uma construção antiga. Uma solução usual é construir justamente sobre a área planificada, mas, devido às dimensões do patamar disponível, essa opção levaria a um confinamento indesejável. Como em uma residência de campo as áreas exteriores são tão importantes quanto os espaços do interior, implantamos a casa à meia encosta, liberando a maior parte da área plana do terreno para a vivência do espaço externo. A sala e a cozinha ficam em nível com este patamar, que é animado pelos usos coletivos da casa. Uma grande porta de correr permite que a mesa da sala seja facilmente levada ao jardim, para um eventual almoço ao ar livre. A alguns metros acima do patamar principal estão os três quartos e seus respectivos banheiros, incrustados na montanha. Os quartos são espaços menores e mais escuros que também oferecem a possibilidade de sair em nível com a parte superior do terreno e pisar diretamente a grama.
Para permitir experiências que contrastem com a vida nos apartamentos da cidade, uma variedade de percursos foi proposta partindo do aproveitamento da topografia existente. A inclinação da cobertura remete ao perfil original do terreno, mas é no muro de arrimo que a interface entre natureza e construção encontra a sua expressão mais palpável, portanto o desenho desta peça catalisa boa parte das intenções do projeto. O muro tem em sua extensão quase o triplo da largura da residência, sua continuidade é a extensão da vivenda ao exterior.
A sensação de escala obtida no percurso por este mesmo elemento, quando abrigado ou descoberto, é distinta. A escada que arremata o intervalo desta parede de contenção se repete, espelhada, dentro e fora da casa. Ou seja: sempre que se desce o primeiro lance em direção à sala, de frente e através da vidraça, se vê o lance oposto ascendendo no jardim. Esta imagem, misto de transparência e reflexo, indica que o interior da casa é apenas o trecho ocasionalmente coberto na construção de um recinto mais extenso.
Jogar com a percepção de escala é um contraponto à previsibilidade dos espaços vividos no cotidiano urbano. Esse jogo também é proposto na primeira aproximação da casa, como o acesso voltado à estrada se dá a meio nível, sempre se chega por um pequeno platô elevado que dá a impressão de uma construção menor e mais baixa. Assim o contraste entre a primeira impressão exterior e o espaço amplo e iluminado da área de estar é enfatizado.
ficha técnica
projeto
Casa de meia encosta
autoria
Denis Joelsons e Gabriela Baraúna Uchida
local
São Francisco Xavier, São Paulo, Brasil
data do projeto
2013
áreas
Terreno: 2560m2
Construída: 115m2
estrutura de madeira
Stamade consultoria em estruturas de madeira
fundações
Edu Botelho Baraúna Junior
construção
Marcos Roberto de Almeida e equipe
fotos
Pedro Kok