Deus criou o homem à sua imagem,
à imagem de Deus ele o criou,
homem e mulher ele os criou.
Deus os abençoou e lhes disse: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra".
Gênesis, 1:27-28
No dia 14 de julho de 2019, quase final da manhã, um pequeno grupo se prepara para se despedir da pousada tornada Casa do Sesc em Paraty durante a 17ª Festa Literária Internacional de Paraty – Flip (1). As pessoas se encontram no estacionamento, com os porta-malas dos três veículos abertos sendo abarrotados de malas, livros e quitutes da cidade. Em um dos automóveis, Laura Vinci e José Miguel Wisnik; no outro, Abilio Guerra, Silvana Romano, Marcelo Ferraz e Isa Grinspun Ferraz. Na van, o líder indígena Ailton Krenak, acompanhado de esposa e casal de filhos, mais os anfitriões, um casal com aparência estrangeira, com respectivo filho. A conversa começa como despedida formal de convivas de abrigo e café da manhã, mas se desdobra na última e inesperada conferência do índio na Flip, uma apresentação para poucos, os afortunados presentes.
Ailton Krenak carrega na alcunha o nome de seu povo, que habita a região do Vale do Rio Doce, território que foi encolhendo ao longo do tempo na velocidade inversa e proporcional a do processo de ampliação da atividade mineradora. “Encolhimento” é um eufemismo para substantivos mais adequados à situação: “roubo”, “expropriação” ou “sequestro”, considerando que para os povos nativos da terra brasilis os elementos da natureza são gentes de seu convívio. De forma mais direta, “latrocínio”, crime hediondo quando se mata para roubar. Como se trata de um coletivo, estamos diante do “genocídio” de povos nativos para se apropriar de suas terras.
No café da manhã, Krenak já havia nos alertado sobre como o homem branco entendia a natureza como algo externo à humanidade, como um Outro a ser explorado (forças do capital) ou a ser protegido (pensamento ecológico). De forma didática, em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo (2), o líder indígena afirma que dada situação “me fez refletir sobre o mito da sustentabilidade, inventado pelas corporações para justificar o assalto que fazem à nossa ideia de natureza. Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade. Enquanto isso – enquanto seu lobo não vem –, fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza” (p. 16-17).
Ailton Krenak denuncia o malabarismo do pensamento ecológico contemporâneo, a outra face da moeda do capital sempre sedento de territórios virgens para explorar: também ele está embebido da visão de mundo que julga a Terra como recursos naturais. Diferente disso, os povos nativos vivem com a floresta, com os rios e com as montanhas; conversam com eles, trocam informações e gentilezas; são todos aparentados, formam um único organismo. Como nos explica Krenak em seu livro:
“Aprendi que aquela serra tem nome, Takukrak, e personalidade. De manhã cedo, de lá do terreiro da aldeia, as pessoas olham para ela e sabem se o dia vai ser bom ou se é melhor ficar quieto. Quando ela está com uma cara do tipo não estou para conversa hoje, as pessoas já ficam atentas. Quando ela amanhece esplêndida, bonita, com nuvens claras sobrevoando a sua cabeça, toda enfeitada, o pessoal fala: pode fazer festa, dançar, pescar, pode fazer o que quiser” (p. 18).
Temos aqui práticas e conhecimentos que podem sustentar uma visão transformadora da sociedade humana, como foi visto e salientado por Eduardo Viveiros de Castro – amigo de Krenak, a quem cita por duas vezes em seu livro –, citado também por Michel Hardt e Antonio Negri ao anunciarem princípios norteadores para um mundo renovado a partir de uma perspectiva ameríndia: “estamos agora em posição de oferecer provisoriamente três características que uma razão biopolítica teria de preencher: pôr a racionalidade a serviço da vida; a técnica a serviço das necessidades ecológicas, ecológicas entendidas não só como preservação da natureza, mas como desenvolvimento e reprodução de relações ‘sociais’, como diz Viveiros de Castro, entre humanos e não humanos; e a acumulação de riqueza a serviço do comum” (3).
Como se vê, não se trata de uma postura romântica, que cultiva uma visão paralisante do paraíso perdido, mas de uma promessa de futuro, uma aposta que ele vai existir. Krenak propõe suas “ideias para adiar o fim do mundo” com o objetivo de evitar a extinção (e, se não for viável, viver a melhor das vidas possíveis). Sugere uma alegoria maravilhosa, onde os humanos inventam magníficos artefatos multicoloridos para retardar a queda no precipício existencial:
“Por que nos causa desconforto a sensação de estarmos caindo? A gente não faz outra coisa nos últimos tempos senão despencar. Cair, cair, cair. Então por que estamos grilados agora com a queda? Vamos aproveitar toda a nossa capacidade crítica e criativa para construir paraquedas coloridos. Vamos pensar no espaço não como um lugar confinado, mas como o cosmos onde a gente pode despencar em paraquedas coloridos” (p. 30).
Sendo o fim do mundo uma possibilidade concreta, a luta inglória para revertê-lo passa pela retomada de princípios hoje soterrados pela narrativa hegemônica do desenvolvimento econômico ilimitado. E a reabilitação passa pela afirmação de formas alternativa de vida em comum, pois a aposta na homogeneização está levando ao caos: “excluímos da vida, localmente, as formas de organização que não estão integradas ao mundo da mercadoria, pondo em risco todas as outras formas de viver” (p. 47). São as formas de viver não integradas, representadas por “caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes – a sub-humanidade” (p. 21) –, que insiste “em ficar fora dessa dança civilizada, da técnica, do controle do planeta. E por dançar uma coreografia estranha são tirados de cena, por epidemias, pobreza, fome, violência dirigida” (p. 70).
Ailton Krenak, durante a refeição matutina que dividimos na pousada, sugeriu ao arquiteto Marcelo Ferraz modificações no edifício sede do Instituto Socioambiental (4), em São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, projeto de autoria do escritório Brasil Arquitetura: “você deveria fazer naquela área próxima à margem do rio, em terra batida, uma estrutura para erguer uma horta vertical, para dar sombra e ficar bonito; não sabemos como é isso, mas é preciso inventar coisas novas, que nunca existiram”. Essa abertura de Krenak para o futuro e para o novo é articulada com uma crença profunda no valor da preservação das culturas particulares. Em uma entrevista a Sergio Cohn ele se faz entender, primeiro ao falar da dinâmica da cultura, que pressupõe interações e transformações:
“Havia uma consciência média de que os índios que não tinham acabado deveriam ficar nas reservas. E também que alguma coisa da cultura desses povos podia ser catalogada, mas essas pessoas não tinham que interagir na cena da cultura brasileira. Porém, nos últimos 30 anos, esses espaços foram sendo cada vez mais conquistados, foram se alargando. Os índios também passaram a se sentir à vontade para mostrar sua cultura: desenhar, pintar, escrever, fotografar, filmar. Temos uma geração de meninos hoje concorrendo em festivais e em mostras de cinema no mundo inteiro, com narrativas, documentários, clipes, filmes, tudo feito na aldeia. Há índios sendo homenageados nas feiras do livro em eventos internacionais. Começaram a formar grupos, por exemplo, de escritores indígenas” (5).
E a seguir, ao defender a noção de pertencimento a uma tradição, que deve e merece ser preservada:
“Eu estava lendo um escritor egípcio esses tempos e olhando a literatura dele, me perguntei: Por que é que esse cara é um escritor egípcio? Por que ele não é só um escritor? Porque é um cara que passou a vida inteira refletindo sobre aquela identidade e criando uma narrativa que quer expressar um retrato ou um autorretrato para o outro. E isso é muito legal, é uma das coisas que vale na vida de alguém: ser capaz de saber onde está e reconhecer que existe o outro. [...] Deixa de ser um aculturado exótico e passa a ser algo da raiz profunda. Permite que uma árvore lance suas copas às alturas e tenha uma visão panorâmica do mundo, mas sem se ensimesmar, sem ficar apatetada com a paisagem. Lendo esse escritor egípcio, que inclusive recebeu o prêmio Nobel de Literatura no final dos anos 80 [Naguib Mahfous foi o primeiro escritor de língua árabe a receber o prêmio em 1988], vejo que ele passou a vida inteira observando e contando a história da tribo dele, do clã dele, do bairro dele [...]. Quem sabe esse papo de escritores indígenas não possa provocar e gerar uma reflexão das pessoas sobre algum detalhe das memórias indígenas. Essa tradição oral possui um acervo muito grande, independente de a gente achar importante ou não. Muitas gerações de índios vão poder traduzir essas histórias e escrevê-las. É um registro importante. Uma forma de a gente deixar uma marca interessante” (6).
Os porta-malas dos veículos continuam abertos. A conversa com José Miguel Wisnik se envereda pelo tema de sua apresentação na Flip (7), a relação de Carlos Drummond de Andrade com a mineração, presente em toda sua obra e, em especial, de forma enigmática, no poema “A máquina do mundo” (8). Ailton decide então nos contar uma história, que contempla duas dimensões: uma história real vivida pelo seu povo; e uma parábola das forças dizimadoras do capital – e ambas convergem para uma mesma mensagem: o fome insaciável do branco que só pensa em devorar o mundo (9). Todos nós intuímos que algo especial iria ocorrer e nos aproximamos para formar um círculo mais fechado. A fala calma de um excepcional contador de histórias nos encanta, nos coloca “em suspensão, flutuando”, como comentaram posteriormente Isa Grinspun e Silvana Romano. Seu sorriso maroto, de quem se deixa enganar quando na verdade está enganando, nos aprisiona em discurso cheio de palavras preciosas e precisas, escolhidas com cuidado, pois o discurso é sua grande arma e a persuasão, a vitória possível (10).
Desisto de antemão de registrar a beleza de sua fala no estacionamento da pousada em Paraty, que se apresentou como uma manifestação de um xamã. Não me sinto capaz de ser fiel ao seu percurso sinuoso, de resgatar uma trama que se desdobra em subtramas, histórias dentro de histórias, cada qual com sua moral e seu ensinamento. Sigo então o curso do rio principal, que nessa história é o Rio Doce que atravessa as terras dos krenak desde sempre, muito antes do homem branco chegar por ali.
Era uma vez, então, a exploração de minérios nas terras dos krenak pela Vale do Rio Doce, que implementa a Estrada de Ferro Vitória-Minas, paralela ao rio que dá nome à empresa. Nos anos iniciais de operação, diversos índios curiosos e indefesos morreram atropelados pelas locomotivas, chamadas pelos nativos de “guapó”, o “braço que vai e vem”. Ao impacto criado pelo “vai e vem” das composições somou-se a aproximação invasiva do desmatamento e da ocupação civilizada nas margens do rio, que fazia a divisa da reserva. O uso abusivo de defensivos agrícolas – expressão evasiva para produtos tóxicos – agravaram ainda mais a situação. Desalentados com a situação, acuados e colados em risco de sobrevivência, os krenak arrebentam os trilhos de um trecho e tomam posição de confronto. A resposta do Estado de Minas foi enviar um fiscal, que multa a tribo com um alto valor. O fiscal e outros interlocutores são aprisionados pelos índios rebelados.
Na ocasião, na condição de assessor para assuntos indígenas do governador Aécio Neves, Ailton Krenak foi contatado pelo cacique revoltoso, pedindo para que intercedesse em seu favor. A tensa negociação com assessores do governador, que se encontrava em viagem ao exterior, e com índios de sua etnia caminha para um impasse intransponível e é agravada por ameaças de envio de tropas policiais do lado branco, e de assassinato dos reféns pelos indígenas belicosos. Convocado pelos litigantes, o arcebispo Dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana, aceita o convite e tona-se negociador entre as partes. A habilidade, boa vontade e honestidade do arcebispo preocupado com os direitos humanos permitem que as negociações resultem em documento amplamente favorável aos krenak, que até hoje o utilizam na defesa dos seus direitos e do seu território.
Ironia maior é ter sido o arcebispo atropelado anteriormente por um caminhão imenso da Vale, que lhe causou severos danos no corpo, estigma que carregou pelo resto da vida. Airton Krenak contou esta e outras histórias para o pequeno grupo reunido em roda na terra batida do estacionamento na pousada em Paraty. Demonstrou enorme respeito pelo religioso, por sua opção preferencial pelo que é justo, pelo que é de direito. As terras são de direito dos krenak, que as habitam por gerações e gerações, que retroagem no tempo anterior à presença do homem branco:
“O nome krenak é constituído por dois termos: um é a primeira partícula, kre, que significa cabeça, a outra, nak, significa terra. Krenak é a herança que recebemos dos nossos antepassados, das nossas memórias de origem, que nos identifica como cabeça da terra, como uma humanidade que não consegue se conceber sem essa conexão, sem essa profunda comunhão com a terra” (p. 48).
Ailton Krenak não está preocupado apenas com sua tribo, com sua gente. Sabe e nos ensina que todas as coisas do mundo estão interligadas e a vida depende da relação harmoniosa entre elas. Ele denuncia o processo atual de depredação do território Yanomami em Roraima pela mineração (11), ele cultua as palavras sábias de um dos seus líderes, Davi Kopenawa, autor de A queda do céu – palavras de um xamã yanomami (12), que denuncia que o homem branco acredita que tudo é mercadoria, e que se encontra diante de um dilema insuperável: “parece que a única possibilidade para que comunidades humanas continuem a existir é à custa da exaustão de todas as outras partes da vida” (p. 46). Ele também se preocupa surpreendentemente com o destino de seus inimigos, como nos conta de forma divertida:
“Em 2018, quando estávamos na eminência de ser assaltados por uma situação nova no Brasil, me perguntaram: Como os índios vão fazer diante disso tudo? Eu falei: Tem quinhentos anos que os índios estão resistindo, eu estou é preocupado com os brancos, como que vão fazer para escapar dessa” (p. 31) (13).
Confesso derrotado que não fui capaz de registrar por escrito a fala mágica de Ailton Krenak na sua última palestra na Flip 2019. Ela pertence à memória dos poucos presentes na ocasião – Laura, Zé Miguel, Abilio, Silvana, Marcelo e Isa –, e como não foi gravada por vídeo ou áudio, sequer foi fotografada, ela vai sobreviver apenas em nossas memórias, se esvanecendo com o tempo, se tornando sonho e fantasia. Seria bom então que todos lessem o livro de Ailton Krenak antes que o fim do mundo chegue. Uma pena que seja tão curtinho, daqueles textos que se lê de uma sentada. Ele é um maravilhoso paraquedas colorido, mas suspeito que só vá retardar a queda no abismo se ultrapassarmos a leitura agradável e agarrarmos suas lições.
Deixo a última palavra para o sábio indígena:
“Se existe uma ânsia por consumir a natureza, existe também uma por consumir subjetividades – as nossas subjetividades. Então vamos vivê-las com a liberdade que formos capazes de inventar, não botar ela no mercado. Já que a natureza está sendo assaltada de uma maneira tão indefensável, vamos, pelo menos, ser capazes de manter nossas subjetividades, nossas visões, nossas poéticas sobre a existência” (p. 32-33).
notas
1
O Sesc São Paulo teve papel fundamental no evento, convidando e viabilizando a vinda de autores, artistas e palestrantes, oferecendo ao público uma rica programação gratuita em suas unidades em Paraty: Unidade Caborê, Unidade Santa Rita, Bibliosesc e Casa Edições Sesc.
2
O livro de Ailton Krenak contém três textos – duas palestras (“Ideias para adiar o fim do mundo” e “Do sonho da Terra”) e uma entrevista (“A humanidade que pensamos ser”). Por desenvolverem o mesmo tema, tratamos nessa resenha como um único texto.
3
HARDT, Michel; NEGRI, Antonio. Bem-estar comum. Rio de Janeiro, Record, 2016, p. 147.
4
FANUCCI, Francisco; FERRAZ, Marcelo. Sede do Instituto Socioambiental – ISA. Projetos, São Paulo, ano 16, n. 191.01, Vitruvius, nov. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/16.191/6284>.
5
COHN, Sergio. Ailton Krenak, fundador e diretor da ONG Núcleo de Cultura Indígena. Entrevista com Ailton Krenak, 24 ju. 2010, p. 5. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100135/tde-27112017-103623/publico/ProducaoCulturalnoBrasilLivro5.pdf>.
6
Idem, ibidem, p. 5-6.
7
GUERRA, Abilio. Paraty em chamas. Do lado de fora da Flip. Resenhas Online, São Paulo, ano 18, n. 211.02, Vitruvius, jul. 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/18.211/7414>.
8
ANDRADE, Carlos Drummond de. A máquina do mundo. In Claro enigma. Rio de Janeiro, Record, 1951. O poema, na íntegra, está disponível no blog Alguma Poesia <www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond40.htm>.
9
No seu livro, Ailton Krenak lembra o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, que afetou diretamente seu povo: “O Watu, esse rio que sustentou a nossa vida às margens do rio Doce, entre Minas Gerais e o Espírito Santo, numa extensão de seiscentos quilômetros, está todo coberto por um material tóxico que desceu de uma barragem de contenção de resíduos, o que nos deixou órfãos e acompanhando o rio em coma. Faz um ano e meio que esse crime – que não pode ser chamado de acidente – atingiu nossas vidas de maneira radical, nos colocando na real condição de um mundo que acabou” (p. 41-42).
10
Sobre a palavra usada como arma, Ailton Krenak deixa muito claro sua postura em depoimento a Sergio Cohn: “Fiz uma opção pela guerrilha cultural. Isso significava me posicionar em um lugar estratégico, de onde eu pudesse me alimentar das rebeldias locais, onde eu pudesse me municiar dos modelos locais para decidir como se inserir neste cenário. Seja na favela, no mato, no morro, já dizia a música do Jards Macalé. Um MC, por exemplo, tem sua herança na comunidade, e por fazer parte dela consegue tirar um exército dali. Ele encara e conversa com todo mundo em uma posição privilegiada. Faz a guerrilha que não é de uma posição subalterna, ele conversa em posição armada. Hoje, sinto que converso com a cena toda. E mais: eu converso com a cena junto com meus jagunços todos armados. Se você optou por fazer uma guerrilha, tem que estar com a sua turma querendo ir para o pau, com vontade de fazer uma confusão. E a guerrilha cultural é isso. Precisa levar em conta quanto recurso pode arregimentar e precisa ter um grupo com vontade de lutar junto. Senão, fica como o Che Guevara na Bolívia: uma guerrilha solitária”. COHN, Sergio. Op. cit., p. 9.
11
“Esse território está sendo assolado pelo garimpo, ameaçado pela mineração, pelas mesmas corporações perversas que já mencionei e que não toleram esse tipo de cosmos, o tipo de capacidade imaginativa e de existência que um povo originário como os Yanomami é capa capaz de produzir” (p. 26).
12
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu – palavras de um xamã yanomami. São Paulo, Companhia das Letras, 2015.
13
No dia 16 de julho, na conversa ocorrida no Centro Cultural São Paulo entre Ailton Krenak e David Wallace-Wells, com a presença da debatedora Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental – ISA, o mediador Marcelo Leite comentou que esta passagem e a dos paraquedas coloridos foram as que mais lhe chamaram atenção durante a leitura do livro. Na ocasião foi exibido o filme documentário “Para onde foram as andorinhas?”, de Mari Corrêa, que apresenta o quadro dramático do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, assediado pelo desmatamento em quase todas suas fronteiras.
sobre o autor
Abilio Guerra é professor de graduação e pós-graduação da FAU Mackenzie e editor, com Silvana Romano Santos, do portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora.