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ALMEIDA, Lutero Proscholdt; POTRATZ, Raphael; GRISONI, Renan. A expansão urbana em debate no Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura. Minha Cidade, São Paulo, ano 15, n. 169.02, Vitruvius, ago. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.169/5250>.
Reuniram-se no distrito de Itaúnas, no norte do Espírito Santo, cerca de 600 estudantes de arquitetura de várias escolas do país, além de arquitetos, professores e interessados no debate sobre arquitetura, para o XVII Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura (EREA- Leste). O evento trouxe para Itaúnas temas delicados que abordavam o crescimento urbano da vila e o desenvolvimento cultural e ambiental.
Itaúnas é um território cercado, assim como grande parte do território norte do Espírito Santo e sul da Bahia, por terrenos cuja posse pertence a madeireiras para o plantio do eucalipto, como também está localizada dentro de um parque estadual ambiental, portanto, o crescimento urbano passou a ser o grande desafio da vila. Concomitantemente, se prevê o desvio da Rodovia ES-010 fazendo com que ela passe perimetralmente à vila de Itaúnas, possibilitando a restrição do acesso de automóveis no interior da vila em feriados e datas comemorativas como a virada de ano, carnaval e o festival de forró. Ainda, muitos são os lotes que acomodam mais de duas famílias por conta de não haver áreas destinadas a uma expansão urbana, neste viés, uma das atividades propostas durante o encontro, foi uma maratona de projetos destinada a tratar do assunto.
Na maratona de projetos muitas questões foram levantadas, porém, o que chamou atenção foram os conflitos internos da vila, principalmente as intenções particulares dos envolvido nas interlocuções. A ideia de que uma comunidade possui ideias e características homogêneas, se desfaz completamente neste território, o que se viu, foram micropolíticas guerreando por questões privadas. Um senhor quer um lote, pois vendeu o terreno para uma pousada por precisar do dinheiro; outro trabalha para a prefeitura e quer esconder o novo loteamento, pois ele ficaria perto das áreas das pousadas mais abastadas; outro quer impedir a ocupação das matas de amortecimento por questões ambientais e de preservação das aves da região.
Itaúnas, comparada às cidades do sul da Bahia, famosas pelo turismo que cada vez mais se elitiza, ainda não excluiu os moradores antigos da malha urbana original, porém, este processo parece se iniciar de forma rápida. A vila, que é composta de pescadores, quilombolas, pequenos empresários e agricultores, parece viver momentos divergentes: de um lado há uma calmaria do cotidiano que faz tudo parecer parado no tempo, do outro, micropolíticas agem em prol de uma Itaúnas turística, que se consolida principalmente com o controle do território como um todo, assentamentos, pousadas, tráfegos, cada vez mais fazem insurgir uma cidade cenográfica.
Analisando o território e suas zonas de conflito, sobrou pouco para definir as áreas de expansão para a vila, a primeira área (verde no mapa), foi reivindicada inclusive por moradores da vila como assentamento, porém, foi descartada no parecer final por se tratar de uma área de amortecimento e recuperação de mata nativa já em avançado processo de crescimento vegetativo e de abrigo de animais, principalmente de aves. Já a segunda área (vermelho no mapa), tratava de uma área de plantio de eucalipto, mostrando-se, tanto urbanisticamente, quanto ambientalmente, o local mais apropriado para a ampliação da malha urbana. Por estar vinculada a uma malha urbana já existente ela consolidará um assentamento único, diminuindo o espraiamento do território e facilitando o controle da ocupação urbana. E ambientalmente ela se torna a área mais apropriada por ser tratar de uma ocupação agropecuária já consolidada, portanto, livre de impedimentos ambientais. Indo contra os anseios de um pequeno grupo que almejava esconder o novo assentamento dos olhos de quem visita a vila, a maratona se articulou a favor de um território coerente com a realidade socioambiental de Itaúnas.
Atentando ao proposto, o planejamento urbano é questionável quando se faz sem a consulta pública de todos os grupos atuantes no território. É necessário, portanto, uma postura urgente e decisiva em relação à Expansão Urbana da Vila de Itaúnas. E que esses planos e projetos sejam construídos em conjunto com a comunidade por grupos isentos das influências dos minoritários, mas poderosos grupos atuantes.
sobre os autores
Raphael Potratz é organizador da Maratona de Projetos do Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura de Itaúnas 2014 (EREA Leste), e estudante da Universidade Federal do Espírito Santo.
Renan Grisoni é organizador da Maratona de Projetos do Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura de Itaúnas 2014 (EREA Leste), e estudante da Universidade Federal do Espírito Santo.
Lutero Pröscholdt Almeida é arquiteto e urbanista pela Universidade Federal do Espírito Santo (2007) e organizador da Maratona de Projetos do Encontro Regional de Estudantes de Arquitetura de Itaúnas 2014 (EREA Leste). Mestrado pela Universidade Federal da Bahia (2011). Tem experiência em projeto, com participação em diversos concursos de projetos de arquitetura. Atualmente é doutorando da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia e pesquisa o espaço urbano como um campo partilhado.