Ação e preservação na área de patrimônio cultural são dois aspectos que têm sido realizados conjuntamente pela prefeitura de Viçosa e pela Universidade Federal, com uma efetiva contribuição dos professores do Departamento de Arquitetura e Urbanismo - DAU. O envolvimento do DAU/UFV teve início, praticamente, desde a sua criação, já a partir da elaboração do ambicioso Uni-cidade. Esta proposta identificou o potencial da linha férrea que corta a cidade tem, como eixo de ligação entre a cidade e o Campus, e principalmente entre as inúmeras cidades, marcadamente entre a barroca Ouro Preto e a modernista Cataguases.
Seguiu-se o projeto de requalificação da Estação Ferroviária de Viçosa, inicialmente com a instalação de um pequeno teatro (1994), da melhoria paulatina das condições na área de entorno (a partir de 1997) e da adaptação para a instalação da Biblioteca Pública (1999). Este espaço ressurge após um longo período de abandono e se transformou em um lugar atraente.
Outro trabalho muito significativo teve como início a elaboração do projeto de recuperação e do futuro anexo da Casa Arthur Bernardes (1993), com a contínua colaboração de vários professores. A seguir, veio o desenvolvimento dos trabalhos para a criação do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural e Ambiental de Viçosa - CMCPCA e da Política de Proteção Cultural (Leis Municipais 1146 e 1147, de 1996). O CMCPCA foi instalado em 1998, contando com dois professores do DAU/UFV e de vários outros departamentos da UFV.
Um dos principais trabalhos desenvolvidos pelo Conselho com dois anos de existência, a cargo de uma comissão específica, resultou na elaboração dos processos (dossiês, laudos técnicos, pareceres) que orientaram favoravelmente para o tombamento (já realizado) de sete imóveis pelo município: a Casa Arthur Bernardes, já anteriormente tombada pelo estado (IEPHA - 1989), o Colégio de Viçosa; o Colégio Municipal Edmundo Lins, a Estação Ferroviária; a Estação Ferroviária do Silvestre; o Balaústre e a Escola Municipal Dona Nanete. Inclui-se nesta lista o tombamento do Livro de Atas da Câmara Municipal de Viçosa, no período 1903-1909. Paralelamente a comissão coordenou a elaboração dos inventários de vários outros bens imóveis e móveis do município, assessorada por professores do DAU/UFV.
A comissão trabalha no desenvolvimento de futuros projetos como o planejamento adequado para a recuperação dos demais bens tombados e outros por tombar. O Colégio de Viçosa está nas mãos de professores e alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo, com grande parte dos recursos já garantidos, a começar pela licitação em andamento para a recuperação total do telhado. Foi aprovado pela Câmara Municipal uma lei que determina a elaboração de projeto de urbanização para a grande área em seu entorno.
Uma próxima etapa, que conta com o interesse da administração atual, tem em vista o riquíssimo patrimônio existente no Campus da UFV, desde o estilo neoclássico dos Edifícios Arthur Bernardes (sede inicial da Escola Superior de Agronomia e Veterinária) e Bello Lisboa (Alojamento de estudantes) ao conjunto modernista de 56 casas construídas para professores, conhecido como Vila Gianetti.
Um passo necessário, já iniciado envolve a colaboração e participação no desenvolvimento da Campanha de Educação Patrimonial, tida como essencial para alcançar os segmentos da sociedade que ainda desconhecem o verdadeiro significado do patrimônio cultural. A Educação Patrimonial vê como fundamental o entendimento da importância da proteção e desenvolvimento da cultura como atitude fortalecedora, beneficiadora e irradiadora de seus benefícios de uma sociedade madura. Algumas dessas ações que visam à preservação agregaram normas eficazes, além do instrumento do tombamento racionalmente utilizado, como as constantes de um processo de planejamento, ancorados no Plano Diretor, nas leis de Ocupação e Uso do Solo, Zoneamento e de Parcelamento, além do Código de Obras, tendo os dois primeiros já sido aprovados pela Câmara Municipal. Desperta-se a atenção entre a população para o patrimônio cultural. Como conseqüência Viçosa se beneficia através da Lei Robin Hood, com cerca de R$120.000,00 por ano. Estudantes, futuros arquitetos, vêm pesquisando, trabalhando com o CMCPCA, aplicando o conhecimento adquirido e transformando-se em profissionais altamente estimulados e treinados, enfim já se preparando para aplicar esta experiência em várias outras cidades do país.
sobre o autor
Ítalo Itamar Caixeiro Stephan é arquiteto e professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa.