De peso indiscutível na história da arquitetura brasileira, a obra do arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik (1896-1972) foi ao longo do século XX objeto de algumas exposições. O próprio arquiteto, atento às dimensões comunicacionais da arquitetura e ao caráter de manifesto de suas primeiras realizações, empenhou-se em divulgá-la. Organizou exposições inaugurais de algumas delas, e tomou parte de mostras coletivas tão importantes quanto o 31o. Salão Nacional de Belas Artes e as Bienais Internacionais de Arte e de Arquitetura de São Paulo. Em comum, essas exposições priorizaram seus projetos emblemáticos, as casas modernistas dos anos 1920 e 1930, que atestavam o pioneirismo do arquiteto e o nascimento da arquitetura moderna no Brasil.
Warchavchik, metrópole, arquitetura propõe-se a desviar dessas leituras. Ancora-se em dois princípios básicos: investe na dimensão inevitavelmente pública da arquitetura, fazendo a produção projetual ecoar na experiência da metrópole; e localiza a imaginação arquitetônica em um âmbito visual e cultural mais amplo.
A curadoria trabalhou com o pressuposto de que os projetos aqui expostos assinalam não somente o fio de uma trajetória profissional singular, mas carregam juízos e efeitos sobre a realidade material e simbólica da cidade de São Paulo no segundo terço do século XX. A seleção privilegiou realizações menos conhecidas de Warchavchik, projetos não construídos, versões diferentes de um mesmo projeto e trabalhos em co-autoria, diluindo enquanto tal as imagens paradigmáticas que cercam a sua obra em um campo mais heterogêneo, matizado e enredado de criação, produção e recepção.
A exposição tem como horizonte a metrópole em formação e nela o aparecimento de novas estruturas de espaços coletivos, praças públicas, conjuntos e condomínios de habitação, arranha-céus, clubes particulares. Para tal reúne desenhos e fotografias de alguns de seus projetos que falam de modos de proximidade e distância, de estar segregado e em público, dos elos entre as grandes escalas físicas e as sociabilidades urbanas, corporificados nas paisagens projetadas de bairros, quadras, torres, ruas e edificações.
Fragmentos da metrópole, as arquiteturas de Warchavchik são lançadas sobre o campo ampliado dos imaginários e materiais metropolitanos. Por isso as aproximações ao universo de visibilidade contemporâneo, metonímia de uma inscrição sorrateira da arquitetura entre as artes de massa.
Produzida a partir de pesquisas desenvolvidas em torno da coleção Warchavchik da biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a exposição inaugura um convênio entre a FAU e o Centro Universitário Maria Antônia com vistas ao conhecimento, apropriação e preservação do patrimônio cultural da Universidade. A exposição será complementada por visitas monitoradas a obras do arquiteto em São Paulo e debates relativos a temas afins.
nota
NE
Texto curatorial da exposição "Warchavchik, Arquitetura, Metrópole", com acervo da FAU USP, que abre no dia 5 de dezembro de 2013.
sobre o autor
José Tavares Correia de Lira, professor da FAU-USP e autor de Warchavchik. Fraturas da vanguarda (Cosac Naify, 2011), é curador da exposição.