Viagens conduzem-nos a buscar, além de entretenimento e descanso, conhecer cidades, arquiteturas e culturas. Viajar à Grécia pressupõe visitar seus principais centros arquitetônicos e arqueológicos da milenar cultura grega: a Acrópole e seu Partenon; a grande Ágora com sua Stoa e o Templo de Hefesto e Atenea; o Templo de Posseidon no Cabo Sonion; o maravilhoso Teatro de Epidaurus; entre tantos outros lugares magníficos. Visitar o contemporâneo museu da Acrópole, dos arquitetos Bernard Tschumi e Michael Photiadis, é quase uma obrigação.
Depois de revigorante banho de cultura, que inclui uma visita a Knossos –o sítio arqueológico da mais importante cidade da civilização minóica de há 4.000 anos–, agora em Creta, cabe restaurador banho nas límpidas águas do Mediterrâneo. Refrescantes banhos podem ser desfrutados em Elafonissi, Balos, Preveli e Matala com suas cavernas pré-históricas, para mencionar apenas alguns poucos de muitos paraísos cretenses. E os mais aventureiros poderão, inclusive, descer a Garganta de Samaria. Creta é uma ilha com cheiros, sabores, muita cultura e paisagens indescritíveis. Diz-se que se se realizasse um concurso de beleza, do qual participassem todas as ilhas gregas, provavelmente Creta levaria o prêmio.
Nesse passeio em busca de sol, praia, história, cultura e paisagem, um arquiteto não consegue desviar sua atenção da arquitetura. Num percurso, pelo qual não se destacam feitos arquitetônicos relevantes, chama a atenção um pequeno afloramento arquitetônico entre as rochas cretenses, em Elounda, nas proximidades de Ágios Nikolaos, região de Lassithi.
Projetadas pelo arquiteto Ioannis Datseris e pela engenheira civil Alexandra Friga, e ge(r)minadas num afloramento rochoso, o conjunto das três escalonadas e miméticas residências tem vistas para o deslumbrante azul do Golfo Mirabello, nas proximidades da Ilha Spinalonga e sua fortaleza veneziana. Nesse pequeno conjunto residencial pode-se apreciar o vínculo e o equilíbrio entre os elementos arquetípicos do ambiente construído e da paisagem bruta em seu estado natural.
Construídas para combinar com seu ambiente natural, as brancas e brilhantes edificações nascem das sucessivas camadas de imponentes muros de pedras do lugar e gradualmente com as rochosas formações se fundem. A paisagem e o microclima cretenses, combinados com a arquitetura e outras artes e temas tradicionais unem-se numa experiência única de consciência ambiental. Percebe-se que os materiais foram cuidadosamente escolhidos, com consciência ecológica, respeitando-se o ambiente local. As formações rochosas únicas foram cuidadosamente preservadas ou combinadas com vários elementos de água, e cada jardim apresenta variedades de árvores, além de arbustos e herbáceas em equilíbrio com a flora local e com o seco clima mediterrânico.
Gentilmente cedidas pelos autores do projeto, as plantas mostram que cada residência apresenta composição em três níveis e uma piscina com borda infinita. As salas de estar, jantar e cozinha integradas no pavimento térreo, conectam-se a terraços, dos quais se apreciam espetaculares vistas ao Golfo Mirabello. Preciosas vistas ao golfo e ao Mediterrâneo são também desfrutadas dos dormitórios, localizados no segundo pavimento, com seus respectivos banheiros e jardins privados. Um dormitório de hóspedes com banheiro e mini-cozinha, além de uma pequena sala de ginástica, estão no pavimento inferior.
Não vimos nessa viagem um conjunto arquitetônico mais integrado ao ambiente natural, tão bem disfarçado como querendo ser camaleônico (a palavra camaleão é de origem grega, Khamailion, de Khamai –no solo, contra o chão– e leon –leão–, significando ‘leão da terra’). Foi um encontro deslumbrante. Um encontro com um petrificado leão da terra.
E se as palavras de Arthur Schopenhauer ou de Johann Wolfgang von Goethe são certas, de que a arquitetura é música congelada, essa arquitetura de Datseris e Friga pode ser classificada como representação de congelada música popular grega, da qual se pode, também pela beleza em seu sentido etimológico de equilíbrio e harmonia, destacar concertos do célebre músico e compositor Mikis Theodorakis, como Axion Esti, Zorba e Canto General, este baseado no poemário homônimo do poeta chileno e latino-americano Pablo Neruda.
nota
NA
Agradecemos Ioannis Datseris e Alexandra Friga pelo envio e autorização para uso de imagens.
sobre os autores
João Francisco Noll é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, RS (1981), possui mestrado em Educação: Ensino Superior pela Universidade Regional de Blumenau (1997) e doutorado em Modernidad Contemporaneidad en la Arquitectura pela Escola Técnica Superior de Arquitetura da Universidade de Valladolid, Espanha (2005). Atualmente é sócio-proprietário da Neo Arquitetura Paisagismo Interiores, e professor da graduação em Arquitetura e Urbanismo e da pós-graduação em Arquitetura Sustentável da Universidade Regional de Blumenau – FURB.
Silvia Odebrecht é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, RS (1981), possui especialização em Engenharia Urbana e Ambiental pela Universidade Regional de Blumenau (1995) e doutorado em Modernidad Contemporaneidad en la Arquitectura pela Escola Técnica Superior de Arquitetura da Universidade de Valladolid, Espanha (2005). Atualmente é sócia-proprietária da Neo Arquitetura Paisagismo Interiores e professora da graduação em Arquitetura e Urbanismo e da pós-graduação em Arquitetura Sustentável da Universidade Regional de Blumenau – FURB.
Gisele Odebrecht Noll é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Regional de Blumenau (2013) e mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional na Universidade Regional de Blumenau. Atualmente é sócia-proprietária da Neo Arquitetura Paisagismo Interiores.