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architectourism ISSN 1982-9930

Fazenda no interior do Estado de Minas Gerais. Foto Abilio Guerra

abstracts

português
O pôr do sol na Praia do Jacaré em Cabedelo, Paraíba, é um evento diário ao som do Bolero de Ravel. Para chegar lá é só pegar a Rodovia Transamazônica e seguir a multidão que anda apressada rumo ao Jurandy do Sax.

english
The sunset at Praia do Jacaré in Cabedelo, Paraíba, is a daily event to the sound of Ravel's Bolero. To get there just take the Transamazônica Highway and follow the crowd that hurries towards Jurandy do Sax.

español
La puesta de sol en Praia do Jacaré en Cabedelo, Paraíba, es un evento diario al sonido del Bolero de Ravel. Para llegar, toma la autopista Transamazônica y sigue a la multitud que se apresura hacia Jurandy do Sax.


how to quote

SOARES, Eduardo Oliveira. Pôr do sol musical. Arquiteturismo, São Paulo, ano 14, n. 156.02, Vitruvius, mar. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/14.156/7691>.


Esperando o espetáculo
Foto Eduardo Oliveira Soares, jan. 2020

“E se quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou” (1). E se há um lugar no Brasil para se desfrutar plenamente do sol é João Pessoa com suas praias paradisíacas. Curiosamente ao se falar nos atrativos de Jampa – como a cidade também é conhecida – uma das primeiras indicações que os conhecedores das atrações locais recomendam é o pôr do sol na orla do Rio Paraíba ao som do Bolero (2) de Ravel tocado ao saxofone.

A combinação de praia e pôr do sol, com o caleidoscópio de cores refletido na água, é sempre bem-vinda para coroar um dia de férias no litoral. Imaginei algumas pessoas observando a praia e tentando escutar alguma coisa. Na primeira oportunidade, chamamos o motorista do transporte por aplicativo e partimos rumo à tal praia do pôr do sol.

A primeira surpresa é que a praia em questão não está localizada em João Pessoa, mas sim em Cabedelo, cidade vizinha à capital da Paraíba. E é em Cabedelo que nasce a BR-230, também conhecida como Transamazônica, rodovia que cruza a Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins e Pará até chegar à cidade de Lábrea no Amazonas. Pois o caminho para o pôr do sol passa pela Rodovia Transamazônica até a interconexão com o acesso à Praia do Jacaré. A animação de trafegar por uma via que vai até o Amazonas vai se arrefecendo quando o carro para devido a um grande engarrafamento. O motorista (pessimista) explica que provavelmente vamos perder o horário do pôr do sol devido ao grande fluxo de veículos. Revela que o ideal é chegar horas antes. Realmente parece que toda a cidade resolveu ir para lá. O tempo “não para nunca de andar” (3), o sol já está baixando e no meio daquele trânsito todo perguntamos se sempre tem aquele movimento todo. A resposta é: – No verão, sim!

Quanto mais perto da orla, maior o movimento. Gente estacionando longe e indo praticamente correndo rumo à orla, dezenas de flanelinhas indicando as melhores vagas, pessoas com passos acelerados. Enfim, tudo indicava que o evento mobiliza multidões.

Ao finalmente chegarmos à orla a visão é de muita gente sedenta pelo espetáculo da natureza, pela música tocada por Jurandy do Sax e por fotografar e filmar o momento. O som do Bolero tocado com sax ao vivo a partir de uma embarcação é mixado com uma base pré-gravada e transmitido para potentes estações com caixas de som no calçadão da orla. O conjunto formado pelo sol, água e música resultam em um lindo espetáculo que neutraliza a correria e a grande quantidade de gente. No fim das contas, ou melhor, no fim da tarde, o que interessa é celebrar mais um dia próximo à natureza e à música. O espetáculo é tão bom, que retornamos outro dia, obviamente chegando bem mais cedo.

Multidão na Orla
Foto Eduardo Oliveira Soares, jan. 2020

Pôr do sol na Praia do Jacaré
Foto Eduardo Oliveira Soares, jan. 2020

Jurandy do Sax
Foto Eduardo Oliveira Soares, jan. 2020

É curiosa a dinâmica das cidades que transforma o fenômeno natural do pôr do sol em um espetáculo diário. Ocorreu toda uma organização espacial para acolher os visitantes em uma rua de pedestres que dá acesso a lojas, quiosques e, obviamente, orla para a visualização do sol. Luz do sol que se transforma “em vida, em força, em luz, reza, reza o rio, córrego pro rio, rio pro mar” (4). No caso, luz do sol refletida nas águas do Rio Paraíba que vai desaguar no mar logo mais adiante. Chegando com a necessária antecedência percebe-se a movimentação das embarcações vendendo passeios tanto para apreciar o pôr do sol a partir do rio quanto para ficar mais perto do já mítico Jurandy. Lanchas também vão se aproximando com potentes aparelhagens sonoras que respeitosamente silenciam quando o saxofonista inicia a apresentação. Também se destacam os restaurantes que estrategicamente instalam no segundo andar varandas com uma visão panorâmica do espetáculo. As mesas com visão frontal, obviamente, são as mais cobiçadas.

Como uma experiência evoca outras, recordo do Círio de Nazaré, “no mês de outubro, em Belém do Pará, são dias de alegria e muita fé” (5). Em Belém o monumental e insuperável cortejo fluvial celebra anualmente Nossa Senhora de Nazaré. Pois a quantidade de embarcações mobilizadas diariamente na Praia do Jacaré é significativa, bem como a animação dos visitantes. Algumas embarcações oferecem uma aula (expressa) de forró.

Embarcações no Rio Paraíba
Foto Eduardo Oliveira Soares, jan. 2020

Embarcações no Rio Paraíba
Foto Eduardo Oliveira Soares, jan. 2020

O tempo rege nossas vidas e se semanalmente “toda sexta-feira, toda roupa é branca” (6), diariamente todo o fim de tarde é do Jurandy e do Ravel. Antes das 18 horas o sol já se pôs, o Jurandy já desembarcou e a expectativa é de uma apresentação no calçadão da orla. “O morro inteiro no fim do dia, reza uma prece ave Maria” (7) e a praia toda no fim do dia acompanha mais uma apresentação ao sax, dessa vez da Ave Maria (8) de Schuber. Após essa derradeira apresentação, Jurandy atende a demanda por fotos e autógrafos e o público está dispensado tanto para observar as últimas luzes do crepúsculo quanto para aproveitar o calçadão da orla e o complexo de compras, artesanato e gastronomia existente na Praia do Jacaré.

Amanhã tem mais.

Orla da Praia do Jacaré
Foto Eduardo Oliveira Soares, jan. 2020

Orla da Praia do Jacaré
Foto Eduardo Oliveira Soares, jan. 2020

notas

1
O sol. Compositor Antônio Júlio Nastácia. In Até onde vai, Jota Quest, 2005 <https://spoti.fi/3dHjHaV>.

2
Bolero. Compositor Maurice Ravel. In Jurandy do Sax, Jurandy do Sax. João Pessoa, Pôr do Sol Eventos, 2014.

3
O mais velho. Compositor Paulo César Pinheiro. In Santo e Orixá, Glória Bomfim, 2007 <https://spoti.fi/2wTJ8Fz>.

4
Luz do sol. Compositor Caetano Veloso. In Caetanear, Caetano Veloso, 2012 <https://spoti.fi/3az6eQy>.

5
Festa do Círio de Nazaré. Compositores Aderbal Moreira, Dario Marciano, Esmera. In Sambas de Enredo das Escola de Samba do Grupo 1 - Carnaval 1975, Unidos de São Carlos <https://spoti.fi/3bJjDpt>.

6
Toda a sexta-feira. Compositora Adriana Calcanhoto. In Nada ficou no lugar, ÀTTØØXXÁ, 2019 <https://spoti.fi/3dM8buK>.

7
Ave Maria no morro. Compositor Herivelto Martins. In João, João Gilberto, 1991 <https://spoti.fi/3aw5wne>.

8
Ave Maria. Compositor Franz Schuber. In Jurandy do Sax, Jurandy do Sax. João Pessoa, Pôr do Sol Eventos, 2014.

sobre o autor

Eduardo Oliveira Soares é arquiteto e urbanista (Ufpel, 1995), especialista em Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanística (UnB, 2008), mestre em arquitetura e urbanismo (UnB, 2013) e doutorando na FAU UnB, tendo como tema de pesquisa as narrativas fotográficas. Trabalha na Universidade de Brasília.

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