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research

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architectourism ISSN 1982-9930

Forro do Convento de Santo Antônio de Igarassu PE. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
Estudo sobre a relevância da preservação arquitetura vernacular enxaimel como exemplares da cultura identitária alemã, baseado em pesquisas bibliográfica e de campo, visando sua compreensão mais aprofundada na região nordeste de Santa Catarina.

english
The present article intends to study how the preservation of such buildings is relevant to the continuity of german identity culture. It will be made a bibliographic and field research, presented in a described method.

español
En el presente artículo, nos proponemos estudiar cómo la conservación de tales construcciones es relevante para la continuación de la cultura de identidad alemana. Se realizará una investigación bibliográfica y de campo, de forma descriptiva.


how to quote

SAVIAK, Diego da Silva. Arquitetura vernacular enxaimel. A importância da preservação para a identidade dos imigrantes alemães em Pomerode. Arquiteturismo, São Paulo, ano 15, n. 168.01, Vitruvius, mar. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/15.168/8148>.


A relação da arquitetura com o homem foi incialmente provocada pela necessidade de se abrigar, tornando assim um vínculo de caráter funcional, sendo dificilmente percebida alguma expressividade aprofundada ou modificação em sua estrutura. Conquanto, a forma mais conhecida de demonstração de seu cotidiano era através de desenhos na caverna, sugerindo um desejo mesmo que pequeno e primitivo de alterar o espaço onde se era habitado.

Isso pode ser confirmado ao considerar que “desde a Pré-História, o impacto sobre o ambiente era pequeno, já que as populações eram modestas e tecnologicamente pouco desenvolvidas” (1). As primeiras construções são estruturas edificadas com matérias simples como a pedra. Um exemplo são os grandes megalíticos que resistiram à passagem do tempo, feitos com matérias primas encontradas, muitas vezes, nas proximidades.

A esse modo de construção, dá-se o nome arquitetura vernacular, que pode ser considerada “aquela linguagem arquitetônica das pessoas' com seus 'dialetos' étnicos, regionais e locais” (2). Trata-se da utilização de técnicas tradicionais e o uso de materiais locais como: taipa (pau-a-pique), adobe, palha, madeira, pedras, bambu, entre outros. Esses materiais são adaptados ou substituídos dependendo da variável de localização, em razão de cada lugar possui sua identidade social, climática distintos e disponibilidade de diferentes recursos para construção. A linguagem genérica de novos edifícios vem com grande dominação - produto de um capitalismo desenfreado e linhas de produção industrial – gerando, muitas vezes, o desinteresse da grande população para esse tipo de arquitetura tradicional, que por sua vez, carrega alto grau de identidade e apelo cultural.

Os arquitetos, com seus feitos, expendem o traçado do tempo. Em contrapartida, a “arquitetura mais natural e autêntica, apresenta e relaciona a historicidade à tradição, colocando a natureza como coautora de uma arquitetura de caráter e características onde se insere” (3). A arquitetura citada refere-se as técnicas tradicionais de construções como o enxaimel, que é um exemplo de arquitetura vernacular, segundo Oliver. Esta definição é dada para qualquer técnica arquitetônica simples e popular, característica de determinado local, que se utiliza de técnicas tradicionais e do saber popular transmitido através das gerações. Esta se incorpora também no cenário das cidades na região Nordeste no Estado de Santa Catarina e “é por meio das tipologias construtivas trazidas pelos imigrantes colonizadores europeus, entre as décadas de 20 a 70” (4).

Com grande quantidade de matéria prima e uma conexão forte com sua cultura, os imigrantes alemães pareciam tentar criar o simulacro alemão em terra virgem. De fato, essa cultura tradicionalista presente até a data atual se faz presente no chamado “Vale Europeu” através de festas, comidas típicas e as edificações presentes desde a época das grandes imigrações. Considerando essa forte relação, o presente artigo busca compreender a importância da preservação da arquitetura vernacular enxaimel, relacionando o ambiente edificado com a identidade cultural da sociedade.

Acredita-se que a expressividade na arquitetura carrega valores simbólicos iconográficos para estas edificações, trazendo consigo o equilíbrio na eficiência e sustentabilidade essas edificações de arquitetura contemporânea, quanto ainda, preservar a memória e a preservação aos exemplos dessa arquitetura enxaimel no Estado, mantendo o resgate cultural. Disciplinando um crescimento urbano de forma a aprimorar e dar qualidade à esse planejamento.

Procedimentos metodológicos e análise

Será, inicialmente, realizada uma busca bibliográfica em bibliotecas referentes ao assunto, assim como websites de fontes seguras para embasamento teórico. Para uma compreensão mais aprofundada foi feita uma pesquisa de campo à cidade de Pomerode, escolhida de maneira qualitativa pelos autores, onde foi possível uma imersão na cultura tradicional dos imigrantes alemães por meio de visitas às edificações. Fotografias foram tiradas e apresentadas posteriormente como prova da preservação, ou não, da arquitetura vernacular enxaimel na cidade.

Desta maneira, a pesquisa será feita de maneira descritiva, bibliográfica e de campo com o objetivo de compreender melhor a preservação arquitetônica e, portanto, a identidade alemã trazida dos imigrantes até 2019, ano da visita à cidade. A análise será dividida em 4 subcapítulos, introduzindo a técnica de arquitetura vernacular, aproximando-se do nordeste de Santa Catarina, permeando exemplares tipológicos e finalizando a análise enfocando o trabalho do Iphan (5) em Pomerode.

Arquitetura vernácula

“Quanto mais se aprende sobre o meio ambiente e como tirar proveito deste, consequentemente se acumula conhecimento empírico e prático” (6). A arquitetura vernacular emprega materiais e recursos provenientes do ambiente onde a edificação é construída, consolidando uma tipologia arquitetônica com a particularidade do local ou da regional. Por conseguinte, no cenário do processo de ordenação do crescimento urbano, essas edificações vernaculares afirmam a identidade do local, como artefatos, cheios de história e instrumentação de tempos atrás.

Compreendendo esta abordagem, a conservação não deve se limitar somente a monumentos arquitetônicos, mas abranger também a arquitetura vernacular, pois esta, reflete momentos históricos da cidade, relaciona o passado com o presente e faz dela uma arquitetura importante para compreendermos a formação da social e urbana onde estamos inseridos.

Comercial Weege, em Pomerode
Foto divulgação [Acervo Iphan-SC]

Na arquitetura vernacular não se reconhece estilos arquitetônicos, mas a sua essência tipológica e morfológica, entendida como uma construção comum e anônima que Rudofsky (7) denomina como uma arquitetura sem arquitetos, podendo ser definida como "uma arte comunal, produzida não por uns poucos intelectuais ou especialistas, mas pela atividade continua e espontânea de todo um povo com uma herança comum" (8) essa arquitetura direciona a formação da cidade, e se transforma com a particularidade e expressões culturais de cada lugar.

Estas memorias históricas estão presentes nos patrimônios construídos nas cidades colonizadas por alemães, como no nordeste de Santa Catarina, que abriga o maior conjunto de edificações enxaimel fora da Alemanha, de acordo com o Iphan.

Essa técnica construtiva foi introduzida por imigrantes europeus que se estabeleceram em Santa Catarina a partir do século 19, materializando na arquitetura a técnica enxaimel e dando início a uma identidade regional tão específica de Santa Catarina.

Técnica enxaimel no Nordeste de Santa Catarina

Weimer (9) afirma que foi com a vinda dos povos genericamente chamados germânicos para o nordeste de Estado Santa Catarina no século 19 que se materializou a arquitetura caracterizada como enxaimel. Este acontecimento gerou uma importante mudança no cenário catarinense, promovendo as técnicas e a cultura alemã em um novo território. Esta ocupação deu origem à primeira colônia que se denominava São Pedro de Alcântara no ano de 1829, marcando o início desta etapa colonizadora em Santa Catarina e recebendo os primeiros imigrantes alemães.

Anos mais tarde, foram introduzidos novos imigrantes alemães no estado, criando as colônias Blumenau em 1850 e a Dona Francisca, menos de um ano depois, propagando-se por todo o vale do Itajaí formando direta ou indiretamente Indaial (1860), Timbó (1868), Pomerode (1860), Massaranduba, Ibirama (1897), Rio do Sul, Benedito Novo, Brusque (1860) e Guabiruba. Essas colônias que hoje se conhecem como cidades da cultura alemã, retratam o enraizamento de suas tradições e técnicas construtivas que transformaram grande parte do estado de Santa Catarina.

O reflexo de todas estas influências estrangeiras na arquitetura é o entendimento de técnicas construtivas utilizadas na arquitetura vernacular da região. O enxaimel é, segundo Weimer, uma antiga técnica de construção de casas originaria do centro e do norte da Europa. A técnica consiste inicialmente em uma fundação de pedras, onde a estrutura com peças de madeira encaixadas, se apoia, sem o uso de pregos, ordenadas de maneira horizontais, verticais e inclinadas, posteriormente eram preenchidas com tijolos.

No entanto, as construções enxaimel, no período que os imigrantes alemães chegaram no território brasileiro, já haviam se tornado ultrapassadas na Europa. Porém, eles utilizavam essa técnica devido à tradição e ao encargo da identidade cultural que ela carregava. Conquanto as condições do local onde esses colonizadores se estabeleciam, gerou uma adaptação à técnica construtiva, se diferenciando do enxaimel da Alemanha, criando, então, uma forma diferenciada de enxaimel.

Casa Família Siewert, em Pomerode
Foto Diego da Silva Saviak, 2019

Essa técnica se disseminou por todo nordeste de Santa Catarina, desde a segunda metade do século 19 até o inicio do século 20. Com a chegada mais próxima da revolução industrial e o apelo imobiliário, muitas destas edificações foram destruídas, apesar disto, seu valor histórico, fez com que muitas fossem preservadas, pois o entendimento do cuidado com esse bem significa em termos sociais a identidade da cultura desses imigrantes, isso se confirmar ao tomarmos nota de que o instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan realizou o tombamento de muitos exemplares na cidade de Pomerode como Patrimônio Nacional, atribuindo o valor da identidade cultural por meio desta técnica construtiva e suas tradições.

Exemplares tipológicos

Ao vivenciarmos a cidade de Pomerode, as questões das edificações conservadas e as tradições dos imigrantes alemães se tornam algo de grande valia, a preservação do patrimônio se eleva além do nível das construções enxaimel, ela captura a cultura e o modo de vida da comunidade alemã, dando a eles, uma identidade, uma história e um futuro.

A rota do enxaimel, que passa pela comunidade de Testo Alto na cidade de Pomerode, onde há a maior concentração de casas de enxaimel, assume características das raízes coloniais, preservando as tradições dos imigrantes alemães e sua cultura, assim como suas edificações. Segundo Tronco (10), este projeto que foi criado em 2002, pelo Conselho Municipal de Turismo, consiste em um caminho, a ser percorrido de carro, a pé ou de bicicleta, com 16Km que atravessa partes da região rural de Pomerode. De acordo com o Iphan, são cerca de 220 edificações deste tipo em distribuída no município de Pomerode, caracterizadas pelos tijolos aparentes, a estrutura de madeira e cobertura inclinada.

Casa Raduenz, em Pomerode
Foto divulgação [Acervo Iphan-SC]

No contexto de edificar, é muito comum que essas edificações iniciassem sua base com pedras brutas. As mesmas eram empilhada uma sobre as outras, formando uma fundação, para assim, sobre ela, poder ser montada a estrutura de madeira. Esta estrutura era composta por quatro tipos de peças segundo Weimer, os baldrames, peças horizontais que formam a base de cada andar da cada; os peitoris, também horizontais, dispostos entre os baldrames; os esteios, peças verticais, encaixadas nas duas anteriores; e as escoras. peças inclinadas, encaixadas entre as horizontais e verticais. Todas as peças em madeira sofriam um recorte, como um grande quebra-cabeça, assim poderiam ser fixadas com um prego de madeira sem sofrer o risco de se desestruturar com o tempo. Da mesma maneira era montado o telhado e as esquadrias. Com a estrutura pronta, o fechamento ocorria geralmente com tijolo de argila e, por fim, a colocação da telha na cobertura, que poderiam ser de madeira ou argila.

Fundação e fechamento
Foto Diego da Silva Saviak, 2019

Encaixe da estrutura
Foto Diego da Silva Saviak, 2019

Telhas
Foto Diego da Silva Saviak, 2019

O uso desses materiais evidencia a utilização de recursos naturais para a construção das edificações alemã em técnica enxaimel, dando-lhes uma identidade referente às suas origens e sucedendo seu patrimônio material e imaterial.

O trabalho de preservação identidade regional por meio das edificações tombadas pelo Iphan em Pomerode

A paisagem do nordeste de Santa Catarina, especificamente em Pomerode, se tornou o retrato vivo da cultura e história dos imigrantes europeus, destacando-se a materialização na arquitetura enxaimel, emoldurando a paisagem rural do estado.

Esse cenário de preservação do patrimônio, caracterizando o local como vale europeu, só se fez possível por estar em um meio rural, afastado dos centros, sendo assim não sofriam ameaças direta em relação a sua materialização física. Outro fator decisivo foi o interesse entre o Iphan, o Estado de Santa Catarina e os municípios envolvidos, entendendo o espaço como importante para a história da colonização nacional.

Neste contexto, deve-se ressaltar que se abriu as portas para a rota enxaimel, pois, a arquitetura vernacular de Testo Alto se sobressai, mantendo esse espaço um conjunto de construção, história e tradições alemã de maneira íntegra e assegurada de qualquer esquecimento. Pomerode possui 11 imóveis tombados pelo Iphan, além do Conjunto Rural de Testo Alto, e outras 221 edificações protegidas em nível municipal e estadual. De acordo com o Iphan, ainda hoje, as comunidades prezam por suas raízes germânicas mantendo a paisagem bucólica dos vales e perpetuando tradições e costumes, como a língua, a culinária, o artesanato, as celebrações e as técnicas construtivas.

Podemos assim, associar a importância na preservação de valores identitários e históricos dentro de um grupo social migratório localizado na região Nordeste de Santa Catarina, assegurando as características desse povo e lhe fornecendo uma estrutura de apoio para seus valores culturais, constituindo um espaço justo e equilibrado no contexto social.

Conclusão

O indivíduo constitui a sociedade e o ambiente onde vive, se apropriando, construindo, e como consequência cria raízes, tradições, história e deixa o legado a gerações futuras por meio de suas intervenções e produtos. Como indivíduos, se entender como parte de uma história, levando-nos a um conhecimento identitário, onde percebemos e consideramos o potencial dessa herança e podermos se perguntar quais valores, nas mais variadas áreas, estruturam a linguagem da cidade, e como isso se relaciona ao vinculo estabelecido de uma sociedade de múltiplas dimensões, ou seja, as variadas possibilidades que o espaço pode significar.

A figura do arquiteto perante a sociedade contribui para esse entendimento nas mais variadas escalas, do mesmo modo o Iphan e os poderes municipal, estadual e nacional, fornecendo uma justiça a essa herança, possibilitando o discernimento do bem e sua importância, colocando-o como representante de uma conscientização juntamente com a população.

Com a união das instituições e órgãos, Pomerode pode ser reconhecida em níveis nacionais e internacionais como uns dos principais berços da imigração alemã no Brasil. A preservação das casas vernaculares enxaimel, possibilitou, a colônia estabelecida nesse município se reconhecer como parte de uma sociedade e identificar seus valores e raízes, pois sem referência não sabemos quem somos de verdade.

Cabe a nós, compreender o espaço em seus múltiplos universos, e faze-lo somente um, onde todas as culturas, etnias e história se completam, respeitando seus espaços e formando uma sociedade que se compreende como parte de uma herança possibilitando, por meio desse conhecimento a preservação de nossa identidade.

notas

1
CASTELLO, Lineu. Revitalização de áreas centrais e a percepção dos elementos da memória. Anais do XXII International Congress of the Latin American Studies Association. Flórida, LASA, 2000.

2
OLIVER, Paul. Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge, University Press, 1997.

3
BARDA, Marisa. Porque conservar. AU – Arquitetura e Urbanismo, n. 162, out. 2007.

4
ZANI, Antonio Carlos. Arquitetura em madeira. Londrina/São Paulo, Eduel/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003.

5
IPHAN. Superintendência do Iphan. Acervo Digital da imigração

6
LIMA JÚNIOR, Genival Costa de Barros. Arquitetura vernacular praieira. Recife, Edição do Autor,  2007.

7
RUDOFSKY, Bernard. Architecture Without Architects: A Short Introduction to Non-Pedigreed Architecture. Londres, Academy Editions, 1964.

8
Idem, ibidem.

9
WEIMER, Günter. Arquitetura popular da imigração alemã. 2a edição. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2005.

10
TRONCO, Selma. Rota do enxaimel: uma trilha de histórias em Pomerode. Blumenau, Odorizzi, 2010.

sobre o autor

Diego da Silva Saviak, formado no ensino médio em 2015, no colégio E.E.B Prof José Arantes, é estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade do Vale do Itajaí.

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