A arquitetura tem perdido, ultimamente, seus maiores ícones. Particularmente, convivi com dois deles. Aqui em Goiânia com Paulo Mendes da Rocha, como parceiro na elaboração dos projetos do Terminal Rodoviário e na adaptação do estádio Serra Dourada para competir enquanto sede da copa do mundo.
Em Londres, com Richard Rogers, encontros inusitados no hospital Saint Mary Abbot, onde nasceram nossos filhos. Por estar estudando na A.A. School of Architecture, escola que ele também estudou, motivo para conversas memoráveis – atenção: em julho de 1958 ao aplicar para estudar arquitetura na A.A, o entrevistador de Rogers recomendou não o aceitar por não ter aptidão necessária para ser arquiteto, equívoco que poderia privar a arquitetura contemporânea de um de seus maiores expoentes. Era janeiro de 1972, época que ele e Renzo Piano tinham elaborado o projeto do Musée Pompidou – Paris, o Beaubourg, polêmico para o parisiense.
Ao perguntar-lhe sobre a convivência com Renzo a resposta foi a seguinte: “os italianos são muito românticos”. Tempos depois descobri que Rogers havia nascido em Firenze.
Em 2013, fui a uma exposição dele em Londres, quando nos encontramos e lembramos de nossos encontros e conversas. Ao me apresentar ele não agiu como um fleumático inglês ao me abraçar e afirmar, “of course I remember very much”. Sir Richard Rogers, continuava simples e gentil como o conheci meio século atrás. Despedimo-nos deixando em mim a sensação de que aquele momento especial fechava um evento muito especial em minha vida.
A notícia de seu falecimento me pegou de surpresa e me levou a documentar nessas poucas linhas o gentil Richard Rogers que um dia tive o privilégio de conhecer.
nota
1
Richard Rogers, nascido em 23 julho de 1933 em Firenzi, Itália, faleceu no dia 18 de dezembro de 2021. O presente artigo está sendo publicado no número de novembro devido pequeno atraso da edição.
sobre o autor
Luiz Fernando Cruvinel Teixeira é arquiteto e urbanista pela UnB e pós-graduado na Architectural Association School of Architecture – Londres, onde teve contato com Richard Rogers. Trabalhou na Inglaterra e nos Estados Unidos, antes de fixar em Goiânia, onde nasceu. Titular do escritório de arquitetura e urbanismo Grupo Quatro, desenvolveu em 1989, com arquiteto Walfredo Antunes de Oliveira, o Plano Diretor da cidade de Palmas, Capital do recém-criado Estado do Tocantins.