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architectourism ISSN 1982-9930

arquiteturismo

abstracts

português
Este diário de viagem descreve o potencial da Casa do Rio vermelho enquanto amálgama de tradições e intervenções decorrentes dos encontros entre artistas nacionais e estrangeiros, na Salvador dos anos 60 do século 20.

english
This travel diary describes the potential of Casa do Rio Vermelho as an amalgam of traditions and interventions resulting from encounters between national and foreign artists, in Salvador in the 60s of the 20th century.

español
Este diario de viaje describe el potencial de la Casa do Rio Vermelho como amalgama de tradiciones e intervenciones resultantes de encuentros entre artistas nacionales y extranjeros, en la Salvador de los años 60 del siglo 20.


how to quote

MIRANDA, Cybelle Salvador; CARVALHO, Ronaldo Marques de. A Casa do Rio Vermelho e o tropicalismo baiano. Arquiteturismo, São Paulo, ano 17, n. 201e202.01, Vitruvius, out. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/17.196/8994>.


Entrada original da casa
Foto Cybelle Salvador Miranda, 11 jan. 2024

O passeio à Casa de Jorge e Zélia, construída nos anos 60 do século 20, foi uma imersão pelo universo cultural baiano. Arquitetura, arte, artesanato, literatura, objetos e fotografias nos conduzem pelas quatro décadas em que o casal viveu e conviveu com seus filhos, Paloma e João, sempre povoada por amigos, próximos e distantes.

Na leitura de sua materialidade, o museu casa, ou a casa museu, cumpre com louvor seu papel. Desde a entrada, na rua Alagoinhas, nos poucos minutos de espera, sorvemos a atmosfera de silêncio e tranquilidade que ainda hoje reina nesta colina. Na calçada, contemplamos a escadaria revestida de cacos de azulejos estampados, com uma mureta que separa duas portas. Eis que ingressa uma mediadora apressada e nos explica: era a entrada original da casa, hoje acesso de funcionários. A bilheteria do museu ocupa o local da antiga garagem (penso então — Era lá que se abrigava o Cara de sapo, o Citröen que o casal usou na mudança do Rio para Salvador).

A casa em meio ao jardim
Foto Cybelle Salvador Miranda, 11 jan. 2024

Adianto que este relato não se prende unicamente ao que vimos e ouvimos presencialmente, mas muitas informações nos foram contadas pela própria dona da casa, ao longo da leitura de A Casa do Rio Vermelho, livro de crônicas que Zélia Gattai publicou em 1999. Tal qual a história de que fora Lina Bo Bardi quem sugeriu o revestimento em cacos de azulejos das escadas e dos passeios, utilizando rejeitos da cerâmica de Udo Knoff, colecionador de azulejos alemão, que se radicou na cidade.

Voltando à visita, um pequeno grupo aguarda o horário da entrada, dentre eles uma espanhola, um casal paulista e, depois, outro casal, de franceses. A fama da casa atravessou o Oceano!

Somos convidados a entrar, e o acesso pode ser feito por escadas ou pelo elevador, uma vez que há um desnível substancial entre a rua e o platô onde a casa foi implantada. Lá em cima, a primeira visão é do amplo pomar arborizado, sendo a edificação situada à esquerda, com ampla varanda e telhado de barro, de modo a integrá-la à vegetação.

Uma casa térrea, com a sala de lajotas de barro, cujo telhado exibe os caibros e as curvas das telhas, sem forração. Neste ambiente, arrumado como sala de estar, há uma vitrine com a máquina de escrever, óculos e objetos de Jorge. A simplicidade acolhedora pensada no projeto do arquiteto Gilberbet Chaves recebe o mobiliário e os objetos, logo ao fundo reconheço um São Francisco de Assis, pintado por Volpi.

A sala de estar
Foto Cybelle Miranda, 11 jan. 2024

O quarto de hóspedes exibe as camisas estampadas de Jorge Amado, ao fundo o documentário mostra os hóspedes ilustres que ocuparam o cômodo, guarnecido por cama e cômodas executadas em alvenaria. Seguindo o corredor, temos acesso à cozinha, onde quase se pode sentir o odor de vatapá e outras iguarias baianas. A seguir, um dos cômodos foi adaptado para leitura de obras de Jorge Amado por atores e músicos como Othon Bastos, Jackson Antunes, Maria Betânia, dentre outros.

O quarto de hóspedes
Foto Cybelle Miranda, 11 jan. 2024

A cozinha baiana
Foto Ronaldo Marques de Carvalho, 11 jan. 2024

No entorno da piscina, vê-se os azulejos desenhados pelo amigo Caribé, os sapos, no local ocupado antes pelo roseiral de Zélia. Para ela se volta a biblioteca/escritório do autor, todos os ambientes providos de portas vermelhas desenhadas por Caribé.

Atravessando o pátio revestido por cacos, chegamos aos ambientes femininos: o quarto do casal, o gabinete com as gavetas expositores de cartas recebidas por eles, o estúdio de revelação de fotos, a montra com os bonecos que representam Jorge e Zélia e seus descendentes, povoado do imaginário das obras do escritor. O quarto se abre para o interior e para a ampla varanda repleta de objetos de várias origens, que nos conduz ao início, a entrada da casa.

O pátio
Foto Ronaldo Marques de Carvalho, 11 jan. 2024

A árvore familiar
Foto Cybelle Salvador Miranda, 11 jan. 2024

O quarto do casal
Foto Cybelle Salvador Miranda, 11 jan. 2024

Como toda casa projetada e construída em região brasileira de clima tropical, a casa de Jorge Amado compõe-se de materiais construtivos já tradicionais como paredes de tijolos, estrutura do telhado em madeira, telhas de barro, elementos vazados cerâmicos e em madeira, bem como pisos cerâmicos.

O partido geral, bem como seu desenvolvimento em planta, guarda feições da clássica casa colonial rural, onde varandas e beirais são frequentes, propiciando aos ambientes da casa a fluidez dos ventos e a entrada de iluminação confortável, sem que haja incidência direta dos raios solares nos cômodos.

Começando pela estrutura das paredes, o tijolo de barro ocupa a maior parte destas que são reforçadas por pilares, vergas e vigas de concreto e em madeira. Quanto aos telhados, há predominância da madeira, inclusive este compõe-se de grandes peças transversais, sobre as quais são fixados caibros aparelhados e deitadas telhas coloniais em forma de capa-canal.

Nas paredes é marcante a presença de cobogós cerâmicos e tijolos assentados com a criação de vazados, propiciando a circulação do ar entre os ambientes e facilitando, assim, a ventilação cruzada. Nos banheiros, a aeração é realizada por pequenos painéis vazados em treliçado de madeira.

Madeiramento e treliçados
Foto Ronaldo Marques de Carvalho, 11 jan. 2024

Varanda
Foto Ronaldo Marques de Carvalho, 11 jan. 2024

O uso do vidro é bem reduzido, havendo predominância de gradis com desenhos originais, fatores que contribuem para a marcante redução de temperatura no interior da casa. Detalhes como vazados em madeira nos forros, telhado aparente, uso de esquadrias com a presença de venezianas nas janelas e vedações de ambientes com peças verticais pivotantes facilitam a iluminação e a circulação do ar. Na maior parte do entorno da casa, a abundância de vegetação cria um microclima aconchegante aos seus moradores, sendo os pisos externos revestidos de lajotas e azulejos, que ajudam a manter a umidade do solo.

Entrada original da casa
Foto Cybelle Salvador Miranda, 11 jan. 2024

A simplicidade dos materiais e a constante de aberturas para o exterior certamente ocasiona uma circulação livre de mosquitos e outros insetos, numa vivência harmônica e ecológica com o entorno.

Ao final da visita, tomamos posse de um exemplar de A casa do rio vermelho, e, nele, pudemos nos aprofundar nos momentos vividos nestes ambientes, identificando peças e mudanças efetuadas ao longo da vida de ambos. Deste ponto de partida, seguimos as trilhas que nos conduziram ao Museu Udo Knoff de azulejaria e cerâmica, situado no Centro Histórico, bem como aos fortes de São Diogo onde se situa o Espaço Carybé de artes, e o Espaço Pierre Verger, no Forte de Santa Maria. Além do Museu de Arte Moderna, que condensa a experiência de Lina Bo Bardi na Bahia.

Museu Museu Udo Knoff
Foto Ronaldo Marques de Carvalho, 10 jan. 2024

Espaço Carybé de artes
Foto Ronaldo Marques de Carvalho, 13 jan. 2024

Espaço Pierre Verger
Foto Cybelle Salvador Miranda, 13 jan. 2024

Museu de Arte Moderna
Foto Cybelle Salvador Miranda, 10 jan. 2024

sobre os autores

Cybelle Salvador Miranda é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPA. Doutora em Antropologia, coordena o Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural — Lamemo e é pesquisadora nível 2 do CNPq.

Ronaldo Marques de Carvalho é professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA. Doutor em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia e pesquisador voluntário do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural — Lamemo.

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