O Inferno é um local de expiação e sofrimento, sem possibilidade de redenção. Um lugar privado de esperança e de amor. Território inominável de desventuras, morada de tormentos e punições. Do Inferno nada escapa, a luz – palavra de Deus – inexiste. Cenário habitado por imagens grotescas, sons aterradores, miasmas sufocantes e mais do que tudo, inundado de memória...
O Inferno do qual escrevo – e também desenho – é o Inferno descrito por Dante Alighieri (1265-1321), poeta italiano, homem de multiplice natureza, político, filósofo, retórico. Sua obra maior, a Commedia, contempla uma viagem através de noventa e nove cantos, ordenados em Inferno, Purgatório e Paraíso.
Um texto com setecentos anos, um grande poema que buscava unificar e criar a língua italiana. Daí temos dois fascínios, que são um só: a poesia e o mistério. Observei, mais de perto e atentamente, a Cidade de Dite, morada dos maliciosos, fraudulentos e traidores. Na cidade viciosa estão os espíritos que se utilizaram da inteligência para cometer vilanias. Assim busquei nesta cidade despótica seus não-lugares, suas passagens e negações.
Desta maneira, busquei no poema um Inferno que não estava lá. Também não estava em deambular, pois a leitura do poema mostra que o Inferno de Dante é um Inferno da memória. A cidade de Dite é uma vasta câmara vazia, onde, por algum momento se projetam as memórias de pecadores e da história. Através da imagem de um lugar inexistente, Dante apresenta imagens fantásticas, indeléveis pois são lembranças, reminiscências... não dele, mas de toda a história. Calcado na narrativa, o poema se constrói e desconstrói na medida em que a imagem avança.
Sendo assim, a tese desmembrou-se: local de muitos lugares visitados na memória. A palavra e o texto forjam uma outra natureza, um não lugar poético.
A cidade de Dite
Dante inicia o I Canto do Inferno:
Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura
che la diritta via era smarrita...
A vivência espiritual de um poeta que assume em si toda a experiência humana e plasma uma linguagem, narrando sua perdição e o caminho percorrido para encontrar a verdade. O inferno de Dante é tecido de imagens embutidas na linguagem para suscitar situações no espírito. As imagens aparentes são aquelas baseadas na experiência visível da própria natureza; ao terem sua natureza subvertida, assumem a forma de mirabilia. Distinta de miracula, embora ambas apresentem a mesma idéia de prodígio, têm em comum suscitar a admiratio, o maravilhamento por alguma coisa de novo ou inaudito. Na miracula está contida a suspensão da ordem da natureza – praeter naturam – pela vontade do Criador, ao passo que a mirabilia espanta, pois não ser conhecida a causa. O milagre conduz a fé a admirar a onipotência de Deus que transforma a ordem que ele próprio estabeleceu. Porém, o maravilhoso suscita a curiositas do espírito humano e faz buscar a razão oculta das coisas, levando à investigação – investigatio – e ao experimentum. A maravilha excita o espírito e duplica os sentidos, elevando o pensamento às categorias mais complexas da imaginação. Surgem figuras e imagens de poder avassalador, como o fantástico, o fantasma ou a aparição e a species umbratica, a imagem que tem a forma de um homem. As almas são quasi corpora, como corpos.
Assim é quando se imagina personagens, anônimos ou não que Dante evoca no poema. Figuras da mitologia, heróis da antigüidade, poetas e filósofos, cortesãs e inimigos políticos surgem como lumem, imago, anima dos corpos que abandonaram. E seus lugares, cenários do inaudito, também reverberam como mira et prodigiosa, coisas maravilhosas e fantásticas. A subversão das coisas conhecidas, como um rio que serpenteia sangue, o lago de lágrimas congeladas, árvores que choram pois são almas, o pântano de sangue fervente, uma muralha que protege uma ruína de túmulos abertos, um sol que nunca se faz, um firmamento que não se pode distinguir, atmosfera pútrida e palpável, homens e mulheres que caminham com a cabeça voltada para as costas, serpentes que se fundem a corpos para separar-se novamente... eis um universo fecundo para a iluminação das imagens. Portanto, é preciso saber que as imagens do poema estão nas próprias palavras e na maraviglia, que inquieta e instiga o espírito.
No meio da vida vivida, o poeta encontra-se perdido e adentra em uma selva, como em uma catedral, admitindo o pecado e buscando a graça e a redenção. Coexistem a visão física do cenário terreno e a visão espiritual da alegoria da alma. A selva abre-se diante do poeta, que naufraga em pensamentos... como lá foi parar, não sabe, pois estava tolhido pelo sono, a dormência da ignorância (1). Não era seu propósito estar na selva escura, lá está pois perdeu-se. A condição para poder encontrar-se novamente no caminho da verdade será o abandono dos sentidos aos mais profundos e terríveis obstáculos, admitindo que a humanidade está órfã de Deus e o renega por não conhecê-lo. O sono ou sonho é a porta de entrada para o reino desconhecido e morada dos espíritos fantásticos e maléficos. A poesia o elevará da humanidade desgarrada para que possa, ele o poeta /peregrino e personagem ser mensageiro auspicioso da esperança de salvação.
O sono do poeta é a porta de entrada para o mundo do inominável e também o instrumento de seu transporte. Boccaccio escreve sobre os dois tipos de sono: il sonno corporale e sonno mentale. O primeiro é natural e dele precisamos para conservação de nossa sanidade. O sono mental, alegoricamente falando, é aquele que a alma abandona a razão aos apetites carnais, originados da concupiscência temporal, tornando a alma ociosa e negligente. Este sono pode ser temporário ou perpétuo. Temporário se desfrutamos do pecado em sonho, involuntariamente. Ao despertar, urge o arrependimento e a reconciliação com Deus, através da penitência. Perpétuo é o sono mental no qual a alma persiste em pecar, não acordando na última hora de sua existência terrena: dormire nel sonno della miseria é quando se perdeu o poder de ver, reconhecer e amar o intelecto, no qual consiste a glória dos santos. Dante sonha e desperta diante de toda a humanidade letárgica e pecadora, impossibilitada de ver-se longe de Deus. Segue seu caminho, a via da existência que lhe foi destinada, mas perde-se... vida transforma-se em via, um caminho percorrido até aqui. Desviado de seu caminho por obra de Deus? Dante personagem assombra-se com esta possibilidade. Para as almas em desvio, Deus ordena quatro Graças que prestam-se a encaminhar as almas à virtude. A primeira é denominada operante, da qual São Paulo diz: “Pela graça de Deus eu sou o que sou”. A segunda denomina-se cooperante, a terceira perseverante e a quarta, salvante. A primeira faz do homem mau um bom homem; a segunda, faz do homem bom, melhor; a terceira incita a fé em outros homens a partir daquele que recuperou para o bem e a quarta faz o homem elevar-se sobremaneira santificando-o e tornando-o exempla para a humanidade. As quatro Graças, agentes da salvação, operaram para o despertar do Dante personagem, obrigando-o a ver-se perdido, porém desejoso de despertar na virtude. Visões são formas imateriais de se despertar de um sono mental. O poeta dorme e sonha, mas está acordado, pois precisa lembrar-se do acontecimento maravilhoso que se anuncia como o início de uma jornada longa e perigosa. O meio do caminho pode significar estar entre due mondi: mezzo è dirittamente quel punto che igualmente è distante a due estremitá. Ou ainda: qualquer ponto de um círculo é distante igualmente do centro. O homem passa a primeira metade de sua vida no vício e no erro. Deus, através das Graças, desperta a homem para uma reflexão, acordando-o no exato ponto entre o nascimento e a morte, um ponto espiritual de renúncia ao vício e à iniqüidade.
A selva é selvagem, áspera, rude e forte... as árvores são nodosas e antiqüíssimas. Boccaccio escreve que a floresta é o Inferno, il quale è casa e prigione del diavolo, no qual nenhum homem entra se não cai em pecado mortal. É escura pois é plena de ignorância do amor de Deus, a luz do santo nome que não pode ser pronunciado. A selva é selvaggia, uma duplicação da intensidade de valores, pois nela inexiste habitação humana... nenhuma humanidade, piedade e clemência, mas crueldade e bestialidade. As árvores ásperas, repletas de espinhos são os pecados que continuamente ferem a consciência da alma em tentação. Forte como a tenacidade e a obstinação do demônio em derrubar almas para o Inferno. E os pecados da incontinência, da violência e da fraude são as três feras que impedem o homem de reconhecer-se na salvação. Dante encaminha-se para uma luz que brilha atrás do Monte Purgatório, mas três feras impedem seu caminho. Deverá reconhecer o universo invertido e subterrâneo da culpa e do pecado para que chegue à libertação. Não é apenas uma escalada, mas uma subida às avessas: apesar de ter avistado a luz, terá que se afastar dela e testemunhar os horrores provocados pela sua ausência: orgulho, arrependimento e purgação. Descer para poder ascender é, sem dúvida, o caminho mais longo, o dos peregrinos que vão à Jerusalém.
Dante penetra na selva na noite da Sexta Feira da Paixão, no ano do Jubileu, 1300. A Semana Santa recorda e revive liturgicamente a redenção. Uma viagem, peregrinação, jornada da alma que foi exilada de sua verdadeira pátria é o caminho de volta que a humanidade tenta fazer para retornar ao inacessível paraíso terrestre. Vigilate et orate: spiritus quidem pomptus, caro autem infirma, vigia e ora, contempla e lembra, escreva e aprenda... Dante saberá manter-se desperto em meio à pestilência do Inferno para assomar, libertando sua alma através da memória da mirabilia. A riqueza poética da alegoria como forma de arte alimentará a pintura do Trecento, que através de símbolos e imagens fantásticas procurará representar os inúmeros obstáculos da vida humana.
O barqueiro Flégias carrega em sua barca (2) os dois poetas, seguindo o rio em direção à cidade infernal. Antes de vê-la em sua totalidade, Dante percebe duas torres que trocam sinais uma com a outra, à guisa de faróis (VII, 130), uma edificação que seguirá outras semelhanças com as cidades construídas pelo homem. Tochas agitam-se, indício de algo que está para acontecer. O número de flamas indica quantas almas se aproximam. Flégias segue seu curso, obrigado à transportar os poetas, mesmo aquele que é vivo:
“com ‘io vidi una nave picoletta
venir per l’acqua verso noi in quella,
sotto ‘l governo d’un sol galeoto,
che gridava: “Or se’ giunta, anima fella!”.
“Flegïàs, Flegïàs, tu gridi a voto”,
disse lo mio segnore, “a questa volta;
piú non ci avrai che sol passando il loto”. (VIII, 14-21) (3)
A água do Stigue é morta gora (VIII, 31), água de pântano, escura e malcheirosa. É um rio que corre, mas está morto. Foi assassinado pelo ódio que represa.
Após seu encontro com Filippo Argenti, atacado pelos furiosos que permanecem mergulhados, o barco chega em terra firme, aportando em frente à cidade. Os gritos de Filippo se misturam ao urros das Fúrias que, do alto das muralhas, observam a chegada dos dois peregrinos. Elas dão o alarme aos demônios, pois acabam de avistar uma anima viva, e não vão deixá-la entrar... Dite (4), nome latino de Plutão, o rei dos infernos, “lo ‘mperador del doloroso reino” (XXXIV, 20), é a cidade onde são punidos os pecados da malícia e da bestialidade.
A estrutura da cidade assemelha-se às cidades medievais – muro de defesa, fossa circundante e torres – e Dante acrescenta a ela uma mesquita com minaretes. Esta cidade é obra da revolta contra Deus, simbolizada por sua construção, obra dos infiéis seguidores de Maomé, disseminador da discórdia na fé cristã. A cidade de Dite apresenta-se, portanto, como representação de seus costumes e sua forma e aparência deve refletir a corrupção dos habitantes. As construções – ou suas ruínas, como veremos mais tarde – são avermelhadas, refletindo o fogo eterno – ite in ignem aeternum ( Mat. XXV, 41) (5) . O fogo, por manter os corpos fluidos, impede o espírito de movimentar-se livremente, precipitando-o assim num tormento sem esperança. O muro da cidade é feito de ferro, evocando a cidade virgiliana (6).
Os demônios, “pi’u di mille in su l porte da ciel piovutti” (VIII, 82,83) – caídos em tal quantidade por ocasião da revolta contra Deus que assemelhavam-se à chuva – mantém-se alertas.
As portas do Inferno estão cerradas... Virgílio pede a Dante que não desanime, que encha seu coração de esperança, abandonando “lo spirito lasso” que ora o acomete e volta-se em direção à porta para conversar particularmente com os demônios. Lembra a Dante que a porta já teve sua resistência quebrada quando Cristo desceu ao limbo e ao Inferno, para libertar Adão e os patriarcas. Paródia clara das cidades muradas da Idade Média, Dite é cercada por uma muralha, imitação grotesca da imagem de uma cidade do mundo vivente. Virgílio segue à frente, porém nada consegue dos demônios, que cerram a porta rapidamente. As três Fúrias, do alto da torre maior, gritam e laceram-se com suas garras e Virgílio alerta a Dante que não erga os olhos, sob o risco de transformar-se em pedra, pois a cabeça da Medusa permanece suspensa nas mãos das bruxas. No entanto, um terrível vento precede a chegada de um mensageiro divino, fazendo com que as almas afastem-se atemorizadas à sua passagem. Este ordena que as portas sejam abertas, possibilitando a entrada dos dois poetas:
“vid’io piú di mille anime distrutte
fuggir cosí dinanzi ad un ch’al passo
passava Stige com le piante asciutte.
Dal volto rimovea quell’aere grasso,
meneando la sinistra innanzi spesso;
e sol di quell’angoscia parea lasso.
Bem m’accorsi ch’elli era da ciel messo,
e volsimi al maestro; e quei fé segno
ch’i’stessi queto ed inchinassi ad esso". (IX, 79-87) (7)
Aqui acaba a descrição da passagem de Dante pelos círculos da incontinência e sua travessia pelas muralhas da cidade de Dite, morada da Malícia, da traição e da fraude.
Esta cidade murada e protegida não passa de um amontoado de escombros, nada há de edificado que precise ser protegido. Os muros e as torres são erguidos para constituir um afrontamento e uma lembrança do mundo dos vivos. Para as almas que lá penetram, a cidade da memória é também punição (8).
Dite foi arruinada pelo terremoto que seguiu a morte de Cristo na cruz. Toda a terra tremeu e a cidade foi totalmente destruída (9). Esta é outra lembrança. A cidade dos vivos e dos mortos foi sacudida pela ira do Pai (10). O mundo dos vivos reconstruiu-se, pois é da natureza da vida a transformação: Dite não deseja a reconstrução, pois vive da amarga memória da queda dos anjos e do fracasso da revolta de Lúcifer contra Deus. Uma muralha que nada anuncia é como um vazio, construção arruinada e arquitetura do pecado. Mantida trancada, imita eternamente a passagem dos caminhos que os viventes já percorreram, mas ao abrirem-se suas portas, vê-se a destruição mais absoluta. Portões que nada anunciam, muralhas que coisa alguma protegem... Civitas diaboli. Dite simboliza o mundo deserdado pela justiça e pelo governo justo.
E qual cidade é esta que emblema os olhos de Dante, enquanto compõe o Inferno? Firenze, pois seu exílio é fruto da injustiça e da corrupção que assombra sua cidade. Evocando os costumes amorais e hostis dos fiorentinos, Dante pode prestar-se desta memória da cidade e criar uma cidade dissoluta. Pesa sobre o poeta a dissolução de sua cidade e as paixões políticas, mesclando-se a isto a vasta matéria do pecado e do mal, formando uma arquitetura complexa. No entanto, a cidade de Dite aparece em forma de fortaleza, uma cidade que resiste ao assédio. Os archotes de fogo que iluminam as torres, os símbolos militares e os milhares de demônios prontos para a defesa compõem um cenário urbano fantástico. O mal torna-se figurativo: o pecado cria a cidade diabólica, que luta contra a liberdade e a justiça humana e divina. Num espaço que se amplia interiormente como uma paisagem, a ação do poema prova-se de volta em volta, o mistério para o ser humano que busca compreender o senso de justiça divina. A decadência mantida eternamente, suspende-se como ruína que não mais se destrói... escombros paralisados a meio caminho por força da memória, morada do Inferno. Residência da fraude e da corrupção, Dite é “deviante della retta via”, exemplo máximo dos valores criados pela sociedade organizada das cidades. Para desfrutarmos de uma melhor comparação entre modelos da pólis, vejamos a Cidade Virtuosa, descrita por Al -Fârâbî e seu contraponto, a cidade Ignorante.
Há em Al-Fârâbî uma estreita relação entre metafísica e política, porquanto, a busca da verdade conduz à busca da felicidade e paralelamente, a busca pela felicidade depende da conquista da verdade. Se a política pode determinar o que é a verdadeira felicidade e se esta consiste no conhecimento dos “seres separados” – Deus e os anjos – a ciência política deve se ocupar de argumentos divinos. Por conseqüência, não se pode separar o político do divino. Em Al-Fârâbî (11), a essência Prima de Deus é a inteligência primeira, que replica nos Anjos e estes refletem aos homens. A Inteligência Una de Deus emana. Os Anjos não são outros senão a representação do Intelecto. Portanto, as cidades devem refletir a emanação do Intelecto e reproduzir este equilíbrio, vivendo em sociedades e cooperando para a felicidade da cidade. No capítulo XXIV de “A Cidade Virtuosa”, Al- Fârâbî descreve quantas são as espécies de sociedades humanas e quais são as excelentes e perfeitas. Descreve também como deve ser o chefe destas cidades, o supremo e perfeito (ra’îs fâdil awwal).
As benesses da cidade bem governada emanam para o mundo ultraterreno e, correlativamente, os penosos tormentos que atingem os habitantes das sociedades perversas e cruéis criam uma cidade má, a Cidade Ignorante. Os habitantes desta má cidade não gozam de fato da existência, e nem suspeitam que exista a felicidade. Se porventura se vêem de frente à feliz idéia de existência, não a compreendem nem acreditam. Na cidade ignorante, predominam a depravação e a baixeza, cujos habitantes dedicam-se a gozar prazeres... é também uma cidade que privilegia as conquistas e os títulos, enchendo-se e vangloriando-se de feitos vãos.
Seu rei finge agir em benefício de sua cidade, mas exercita o poder com a única finalidade de satisfazer suas próprias inclinações e paixões. A cidade é pecadora (fasiqah), pois vive para os momentos presentes. Quanto aos habitantes desta cidade ignorante, diz Al-Fârâbî, suas almas constituem energias imperfeitas, mas que buscam uma forma para manifestarem-se. Ao encontrarem uma forma primitiva, possuem-nas e as decompõe, a fim de dissolverem-se nos elementos (12).
A imagem da decomposição e da recomposição da carne é comum no Juízo e as figuras demoníacas descritas por Dante existem como animais, pois são o resultado da fusão de energias e do aparecimento de uma criatura de outra natureza.
ssim os habitantes da cidade infernal circulam entre as bolgias (13), mas são impossibilitados de saírem de seus círculos determinados, como se ocupassem determinado território. Dante compara os pecadores a animais – i delfini, i ranocchi, la lontra – ou denomina um demônio “malvagio uccelo” (XXII,96), deforma o espírito e o apresenta repugnante na extrema perversidade.
Desta forma, a cidade infernal se mantém. A memória dos mortos não se apaga e as almas perdem a noção do estado presente em detrimento da eternidade As cidades, a vida e seus prazeres, os atos condenatórios e as relações de parentesco permanecem vivas, mas o palco é a ruína, metáfora da condição da alma.
Por que Dite permanece? Por que não se desfaz e pulveriza-se, tornando-se um vasto nada? Porque sua ruína é a dissolução e precisa constituir-se exemplar, criando um lugar inesquecível, sendo assim eternizada. Dite existe para que exista a cidade virtuosa descrita e ensejada por Al-Farabi, semelhante ao paraíso muçulmano, Al-Yannah no Corão, um Paraíso de sete círculos concêntricos que são separados por muros e se materializam como maravilhosas esferas luminosas. São locais denominados Jardins e Moradas (14).
Partes de uma cidade Virtuosa, o Paraíso muçulmano é concebido como local de ordem e hierarquia. O Inferno muçulmano é um lugar de expiação dos pecados e está dividido em pisos ou círculos, cada qual contendo suplícios maiores que o precedente. Designado pelo nome genérico de An-Nar, o Fogo, este Inferno é local de manifestações físicas e imagens de terror: a Destruidora, Al-Hutamah; o Ardente, As-As’ir.
A ação e a forma de punir estão embutidos na nomeação do lugar e o local é a própria memória. Na cidade de Dite ficam contidos os maliciosos, os que se utilizaram da inteligência – graça divina – para conspirar situações que puseram em perigo a integridade da sociedade constituída. Dite é o abrigo daqueles que, habitando a cidade e desfrutando de sua ordem, realizaram atos vis e decadentes.
Seus pecados – o epicurismo, a homossexualidade, a traição de parentes e familiares, a traição política, o roubo, os conselhos fraudulentos, as intrigas, a discórdia e a cisão religiosa – tudo que representa o livre-arbítrio e o individualismo, nocivos se propagados, perigosos se perdoados. O uso da inteligência para perpetrar um crime torna-se um pecado a ser punido (15).
A malícia, entendida como a violação do direito, se traduz pela violência. A fraude é um mal próprio do homem, pois é intencional: é reprovada por Deus porque trai o uso da razão, presente de Deus, pois com a razão tenta-se enganar e seduzir.
Nos círculos anteriores permanecem os que agiram pelo impulso das paixões, a incontinência dos desejos humanos: “L’anima più appassionata, piu se unisce alla parte concupiscibile e piu abbandona la ragione “ (Conv, III, 10). São também comparados a animais – stornei (V,40), gru, (V, 46), ou Ciacco, o porco, eternamente num charco de lama, fustigado pela neve e chuva (VI, 40). A cidade de Dite mantém uma periferia de pecadores, orbitando suas muralhas. Dite também não se verticaliza, não ascende, mas cresce em terror e escuridão conforme se aproximam as bolgias dos traidores. Lúcifer semi-enterrado no círculo final é o anti-vértice desta cidade corrupta. Preso no poço resultado de sua queda, tendo a terra repugnância em tocar-lhe o corpo, jaz num imenso lago de gelo, ausência total de amor. Por suas costas, Dante e Virgílio passarão ao Purgatório. Portanto, Dite é também a anti-cidade: para sair, é preciso penetrar cada vez mais, até a mais completa escuridão para daí saltar para outra realidade. Esta cidade permanece arruinada sem ser uma ruína. Sua saída é constituída da visão do mais absoluto horror... não basta a aproximação do espírito, Dante terá que escalar as costas do demônio para sair do Inferno, terá que tocá-lo, saber de sua natureza. Não poderá abandonar a cidade sem ter se embrenhado fisicamente, mas poderá deixá-la por que não se deixou corromper. Uma precisará da outra. A Cidade Ignorante e sua existência justificam a Cidade Virtuosa do Paraíso.
notas
1
Para comentar os versos de Dante, escolhi Giovanni Boccaccio, Exposizioni sopra la Commedia. (Mondadori Editore, Milano, 1994). Motivado por uma encomenda de um grupo de literatos fiorentinos ao Priori delle Arti, Boccaccio foi nomeado leitor e comentador da Commedia, trabalho que iniciou em outubro de 1373 e que não chegou a termo, pois interrompeu a leitura em dezembro de 1375, acometido da peste que o mataria. A Exposizioni apresenta-se assim dividida: Boccaccio comenta cada verso de forma literária e alegórica, procurando explicitar quais figuras ou imagens Dante buscou evocar.
2
Santo Agostinho, De vita beata (1, 1-4):”A vida é neste mundo como um mar tempestuoso, através do qual devemos conduzir nossa barca até o porto”. O motivo da barca é testemunhado junto aos antigos textos egípcios, conduzindo os mortos para a vida eterna.
3
Como eu vi neste instante, uma barqueta / a nós chegando pela água lodosa /e por um só barqueiro comandada /que gritava ”Chegaste, alma culposa!” /”Flégias, tu gritas, desta vez, por nada, /porque só nos terás até esta infida /lameira”, disse o Mestre, ”ser galgada”.
4
Dite é Lúcifer.
5
Depois, o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ’Afastem-se de mim, malditos. Vão para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos’.
6
“Enéias subitamente olha para trás e vê sob um penhasco, à esquerda, largas muralhas circundadas por um tríplice muro, as quais (fortalezas) Flegetonte, rápido rio do Tártaro, rodeia com chamas abrasadoras, e revolve os retumbantes rochedos. Estava uma grande porta fronteira e colunas de sólido diamante, de tal modo que nenhuma força de homens, nem os próprios celícolas a podem derrubar com o ferro; está uma torre de ferro levantada aos ares, e Tisífone sentada, cingida com um vestido ensangüentado, sem dormir, durante as noites e os dias guarda a entrada. Dali se ouvem os gemidos, e (costumam) soar os cruéis açoites; então (soam) o estridor do ferro e as cadeias arrastadas. Enéias parou e, atônito, escutou o barulho”. (Aen, VI, 548)
7
Assim vi mais de mil almas corrutas /fugir, vendo chegar alguém que, a passo, /varava o Estigue co ’as solas enxutas. /Prá remover do rosto o miasma baço,a esquerda levantava com freqüência:isso só parecia dar-lhe embaraço / Bem vi que um núncio era da Providência, /e o Mestre fez, com gesto indicativo, /que eu me inclinasse em muda reverência...
8
“Antes da mesma entrada e nas primeiras gargantas do Orco (Inferno) puseram seus covis o Choro e os Cuidados Vingadores; e habitam aqui as Pálidas Doenças, a Velhice Triste e o Medo e a Fome, má conselheira, e a Indulgência Repugnante, figuras terríveis à vista e a Morte e as más alegrias dum coração (perverso) e a Guerra Mortífera na entrada fronteira do vestíbulo e os férreos tálamos das Euménides (Fúrias), e a insensata Discórdia, tendo atada com fitas ensangüentadas a cabeleira de víboras. No meio (deste pátio) um olmeiro opaco, enorme estende os ramos e os braços anosos, o qual assento dizem que os mentirosos sonhos ocupam por toda a parte, e se fixam debaixo de todas as folhas”. (Aen, 273)
9
Em Mateus 27,50-52: Então Jesus deu outra vez um forte grito, e entregou o espírito. Imediatamente a cortina do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo; a terra tremeu e as pedras se partiram. Os túmulos se abriram e muitos santos falecidos ressuscitaram”.
10
Hoje é visível uma fenda na rocha (1,70X0,25) ao longo da parte rochosa do Calvário, incorporado na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém.
11
Pensador impregnado da filosofia grega, grandemente responsável pelo que se denominou filosofia greco-árabe; contribuiu, juntamente com Avicenna, Avempace e Averróis para a constituição do castelo metafísico da Idade Média. Nascido, em 870 e falecido em 950, aproximadamente. Escreveu inúmeros livros sobre metafísica e ética e estudou Platão e Aristóteles. (Massimo Campanini in La Città Virtuosa, 1996)
12
(Cap. XXXII). “Quando a matéria que é o substrato desta alma se corrompe, a potência caminha para a parte corrupta (...). isto é, o que resta toma forma da coisa na qual foi decomposta a matéria. Tudo à volta dela se decompõe numa outra (...), com a finalidade de dissolver-se no elemento. O que se produzirá a seguir será de acordo com o modo desta parte elementar, ao final da decomposição. Se esta parte se mesclou assim, se recomporá numa imagem de homem. E se desejou se recompor como outra espécie animal, se reconstituirá na forma daquela espécie. Tais são destinados à perdição (...), como as bestas selvagens, os leões e as víboras.”
13
Bolgias: Valo, fosso... Círculos inferiores, concêntricos, morada dos maliciosos. Os demônios não podem sair do limite de seus círculos. Um exemplo é a perseguição de Dante e Virgílio pelos demônios da quinta bolgia: “Já sentia me eriçar o pêlo todo, /pelo medo, e pra trás olhava, atento: /”Mestre, roguei, “se não tiveres modo /de já nos ocultar, eu temo o advento /dos Malebranche; estão já em nossa via; /até já os sinto como os represento”. (...) / Não completara o dito ainda a intenção /que os alados já eu via, em sua fereza, /juntos chegando, prontos para a incursão. / (...) Ao tocarem seus pés do vale o leito, /lá no cimo pudemos avistá-los, /mas vão já se tornara o seu despeito. /que a Providência, que quis destiná-los /guardiães de sua quinta fossa sofrida, /lhes proibia de ultrapassar seus valos. XXIII,19-57.
14
Yannatu-‘Adn, Jardins do Eden; Yannatu-l-Firdaus; Jardins do Paraíso;Yannatu-n-Na’im, o Jardim das delícias;Yannatu-l-Ma’wa, Jardim da Morada;Yannatu-l-Juld, O Jardim da Eternidade; Daru-s-Salam, a Morada da Paz e Illiún, o Empíreo, o lugar mais alto do Paraíso.
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sobre o autor
Maria do Céu Diel de Oliveira é artista plástica, doutora em educação, pela Universidade Estadual de Campinas e Pesquisadora do OLHO – Laboratório de Estudos Áudio Visuais da FE–UNICAMP.