O deslocamento da capital para o interior é um projeto recorrente na história do Brasil. Originalmente, a idéia esteve relacionada à transmigração da monarquia portuguesa para seus domínios ultramarinos, onde a metrópole real terminou por estabelecer sua corte naquela que havia sido, até então, mera colônia. Tal transferência colocou em evidência a geografia de um império constituído por domínios situados em três diferentes continentes, questionando-se, invariavelmente, a conveniência da opção pela cidade do Rio de Janeiro como capital real, imperial ou republicana. Até 1953, a busca por uma capital adequada deu-se episodicamente, no estabelecimento de um centro para o império português nas Américas, no repúdio liberal em Portugal por uma monarquia Ancien Régime no Atlântico Sul, na formação de uma contra-hegemonia em uma colônia a se tornar império ou na construção de uma nação brasileira unificada, republicana e moderna. Como certa vez afirmou Lucio Costa – arquiteto e autor do projeto final na história da nova capital do Brasil – “foi o objetivo de um século, sempre adiado”. (1)
Uma das primeiras referências à transmigração da corte portuguesa de Lisboa para o outro lado do Atlântico deu-se durante o reinado de Dom João IV (1640-1656). Diante da fragilidade de Portugal frente à hostilidade espanhola e à própria geopolítica européia no século XVII, havia sido engendrado um plano de fuga a partir do qual a família real portuguesa, em caso de ameaça iminente, seguiria de navio para a cidade do Recife, na capitania de Pernambuco (2). Um projeto similar foi sugerido em 1736 pelo diplomata português Luís da Cunha para o qual os domínios do rei na Europa somente poderiam prosperar caso ele se mudasse para uma terra que lhe oferecesse todas as fontes de recursos necessárias e que “de nenhuma maneira [precisava] das de Portugal” (3). À partir de 1750, a constituição de um império luso-brasileiro economicamente integrado virou programa político e de 1797 em diante, o então secretário de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos, Rodrigo de Souza Coutinho, propus uma redistribuição oficial do território. Alertava ainda o ministro que, sem suas possessões, Portugal “reduzido a si só, seria dentro de um breve período uma província de Espanha” (4). Em 1803, a visão de Souza Coutinho de que Portugal “não é a melhor e mais essencial parte da Monarquia” mostrou-se tão impopular quanto seria premonitória pois em 1807, a disputa entre a França e a Inglaterra por Portugal ocorreu e o obrigou dom João VI à fugir da ameaça das tropas napoleônicas e atravessar o Atlântico sob proteção britânica (5). Tendo escolhido uma cidade portuária para aquela que sempre havia sido, essencialmente, uma nação marítima, a corte portuguesa se viu diante da necessidade de transformar o Rio de Janeiro em uma ‘Nova Lisboa’, bem como de libertar a América portuguesa de sua identidade colonial. Entretanto, dom João VI achara o Rio de Janeiro inadequado para o estabelecimento da família real e lamentaria não dispor de recursos suficientes para transferir a capital para o interior, como relatava o embaixador britânico Lord Strangford a seu rei, George III. (6)
Entre os primeiros a opinarem publicamente a favor da transferência da capital para o interior estava Hipólito José da Costa, editor do jornal Correio Braziliense, publicado entre 1808 e 1822. Do seu exílio em Londres, Hipólito da Costa perpetuou a idéia de um mundo português centrado no Brasil e foi ainda mais longe, ao identificar a cidade do Rio de Janeiro como “muito própria para o comércio e a outros fins; mas sumamente inadequada para ser a capital do Brasil” (7). Citando o exemplo de Washington, D.C., Hipólito da Costa acrescentava, em 1813, que quaisquer que fossem as dificuldades que pudessem advir da construção de uma cidade no interior, a partir do nada, no interior seriam “meros subterfúgios”, considerando-se “a facilidade com que nos Estados Unidos da América Setentrional se edificam novas cidades”. (8)
Com a derrota de Napoleão em 1815, dom João VI demonstrou pouco interesse em voltar a Portugal e ainda no mesmo ano elevou o Brasil ao status de reino, tornando-se regente de uma dupla monarquia. Se essa medida fornecia ao monarca a justificativa jurídica para não retornar ao reino europeu, uma vez que seu trono tinha, então, dois endereços, por outro lado, encontraria forte resistência por parte dos negociantes do Porto e de Lisboa, que almejavam recuperar a antiga hegemonia sobre as colônias. Tal descontentamento influenciou diretamente a eclosão da Revolução Liberal do Porto, em 1820, quando o rei se veria coagido pela Assembléia Revolucionária (ou seja, as Côrtes) a retornar com a corte real para Portugal. Evitando o risco de perder seus velhos domínios, Dom João VI finalmente partiu para Lisboa, em abril de 1821, deixando no Rio de Janeiro seu herdeiro presuntivo, príncipe Pedro, nomeado regente do Vice-Reino do Brasil.
Um dos principais artífices da instalação do governo de dom Pedro I foi José Bonifácio de Andrada e Silva, que havia elaborado o único documento a servir como instruções aos deputados brasileiros em Lisboa (representantes da província de São Paulo), que já trazia um consistente projeto de integração territorial das diferentes e tradicionalmente autônomas províncias. Em discurso proferido na Assembléia Constituinte, em 9 de junho de 1823, Andrada e Silva reiterava que a nova capital seria “útil e necessária”, sugerindo os nomes de “Petropole ou Brasilia” (10) Dois anos depois, referindo-se à política de imigração do Brasil, o jornal O Universal, publicado em Ouro Preto, apresentou um artigo favorável a uma política de imigração que uniria “pessoas de diferentes opiniões políticas e religiosas” a exemplo de outros países, como os Estados Unidos, já mencionando a necessidade de construir uma cidade no interior do país que, conseqüentemente, se tornaria a capital. (11)
Com a volta de dom Pedro I a Portugal para assumir o trono de seu pai, caberia portanto ao segundo império consolidar seu território geopolítico. O jovem Francisco Adolfo de Varnhagen – que mais tarde se tornaria o principal historiador do seu país no século XIX – muito contribuiu para a formação de uma identidade independente, bem que imperial. A localização da nova capital seria tema recorrente durante toda a sua vida e poucos meses antes da sua morte, em 1877, Varnhagen empreendeu, assumindo pessoalmente os custos e riscos, uma expedição exploratória no interior do Brasil que se tornou a base de sua obra A questão da capital: maritima ou no interior?, na qual não apenas defendia a tese de uma capital no interior, mas ainda indicava que esta se localizasse dentro de um triângulo formado por três lagoas: Formosa, Feia e Mestre d’Armas. (12)
Com o início da República em 1889, as preocupações relacionadas à salubridade, segurança nacional e integridade territorial se tornariam as principais questões a embasar a defesa da necessidade de uma nova capital. O novo regime deixava evidente que o Rio de Janeiro seria apenas uma sede provisória para o governo federal. Após a partida de dom Pedro II e a supressão do regime monárquico baseado na constituição imperial de 1824, o país via-se diante da necessidade premente de elaborar uma nova carta constitucional, no âmbito da qual diversos. O artigo 3°, dedicado ao futuro Distrito Federal, a princípio, concedia uma área de “400 léguas quadradas situada no planalto central da República” (13). Em alguns casos, até mesmo o “fenômeno da imoralidade pública do Rio de Janeiro” surgia como argumento para a transferência da capital federal (14). Na versão final da Constituição republicana de 1891, a área real do futuro Distrito Federal foi alterada para 14.400 quilômetros quadrados e, sob o artigo 3°, foi dada à União uma área ainda a ser demarcada no interior do país. Poucos meses depois, o escritor e cronista Joaquim Maria Machado de Assis, anunciou a seus leitores e amigos cariocas que, para sua surpresa, o Rio de Janeiro era apenas a “capital interina da União” (15). Após citar o mesmo artigo constitucional, Machado de Assis refletia sobre o iminente problema da necessidade de se encontrar um nome para o que seria em breve o ex-Distrito Federal do Brasil uma vez que, de acordo com o artigo 2º, ele se tornaria seu próprio Estado.
Em mensagem ao Congresso Nacional em 12 de maio de 1892, o marechal Floriano Peixoto, recém-eleito presidente da primeira República do Brasil, anunciava que, “reputando de necessidade inadiável a mudança da Capital da União, o Governo trata de fazer seguir para o planalto central a Comissão que deve proceder à demarcação da área e de fazer sobre a zona os indispensáveis estudos” (16). Na semana seguinte, era aprovada uma lei criando a Comissão Exploradora do Planalto Central, conduzida pelo belga Luiz Cruls, diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro e professor de geodésia e astronomia da Escola Superior de Guerra. Equipado com teodolitos, sextantes, barômetros, aneróides, bússolas, pedômetros, instrumentos metereológicos e fotográficos, armas, barracas etc., Cruls também levou astrônomos, médicos, um farmacêutico, um geólogo e um botânico. A expedição iniciou os trabalhos em junho de 1892 e durou até março de 1893. Em dezembro do ano seguinte, Cruls publicou o relatório da Comissão, que consistia em dois volumes bilíngues, co-editados em português e francês, pela imprensa do Observatório e a editora Lombaerts. Um dos volumes continha relatórios de Cruls e de outros líderes do grupo, além de especialistas em saúde, botânica e geologia (17); no outro, constavam informações geográficas coletadas por cada grupo durante seus “caminhamentos”, além de mapas do proposto Distrito Federal (18) O método utilizado para sua demarcação era semelhante àquele empregado na demarcação das fronteiras estaduais nos Estados Unidos. Para Cruls, os parâmetros de um quadrilátero esferóide teriam a vantagem de serem geograficamente estáveis e astronomicamente definidos por linhas de latitude (entre 15 e 16 graus) e longitude (entre 47 e 49 graus). O local proposto por Cruls coincidia com a mesma linha de latitude sul de 15 graus previamente sugerida por José Bonifácio de Andrada e Silva, e próximo ao triângulo de Francisco Adolfo de Varnhagen.
A seleção do sítio para a futura capital ficou prejudicado pelos projetos ferroviários concorrentes patrocinados pelo governo – que desviaram a expedição do recém demarcado Distrito Federal – e por ataques na imprensa, que questionava seus métodos. Vãs tentativas seriam empreendidas no Congresso para conceder à Comissão os recursos financeiros de que necessitava. Dirigindo-se ao Congresso em 3 de maio de 1897, o Presidente Prudente de Morais finalmente dissolveu a Comissão e adiou indefinidamente a necessidade de novos estudos, uma vez que a república parecia estável o suficiente para prescindir do capital político que representava o projeto de transferência da capital. O projeto retornaria eventualmente ao Congresso, sem continuidade, ressurgindo somente em 7 de setembro de 1922, na comemoração do centenário da independência do Brasil, quando uma pedra fundamental foi colocada no local da futura capital, a nove quilômetros da cidade de Planaltina, no interior do Quadrilátero de Cruls. Tal evento teve como conseqüência imediata o aumento do valor dos imóveis em Planaltina, o que incitou os proprietários de terras locais a doarem parte da Fazenda Bananal ao município em 1927, de forma a torná-la disponível a outros investidores que a desenvolveriam antes da transferência da capital constitucionalmente outorgada (19). Embora o projeto nunca tenha se materializado, chegou a ser elaborado um plano diretor, acerca do qual cabe ressaltar a incrível precisão com que era situada a capital, uma vez que Brasília terminaria por ser construída exatamente nas terras da antiga Fazenda Bananal. O plano era circular e de concepção acadêmicista, com largas avenidas partindo radialmente do centro, onde se localizava uma estação ferroviária. (20)
A mudança da capital para Planaltina foi uma idéia que circulou o suficiente para terminar sendo sugerida ao arquiteto Le Corbusier pelo artista francês Fernand Léger, o primeiro a informar ao arquiteto franco-suíço o desejo do Brasil de transferir sua capital (21) Coincidentemente, Le Corbusier havia proposto, três anos antes um plano teórico de uma “Cidade contemporânea de três milhões de habitantes” e, certamente, sentiu-se tentado a vê-la materializada no outro lado do Atlântico. O projeto foi-lhe ainda sugerido pelo poeta suíço Blaise Cendrars, que em carta dirigida ao arquiteto dizia: “Planaltina: em região que até hoje permanece virgem” (22), em 1929, ano em que Le Corbusier viajou para o Brasil, “Planaltina” era novamente por ele invocada como um “sonho que estava em minha mente”. (23)
Os eventos revolucionários de 1930 resultaram na chegada ao poder de Getúlio Vargas, que assumia a presidência da República colocando um fim à primeira república do país. O Brasil preparava-se para assumir uma nova identidade política, que se desvinculava da visão tradicional de um Estado servindo aos interesses oligárquicos. A chamada Revolução de 1930 procurou definir um novo Brasil, mais urbano e atento aos interesses nacionais, que buscava modernizar suas estruturas econômicas, sociais e administrativas, prometendo-se um amplo programa de reformas. Durante o primeiro governo Vargas (1930-1937), os debates acerca da futura capital ressurgiam marcados por temas que se relacionavam mais diretamente à redistribuição geopolítica do Brasil e à segurança nacional. Nesse sentido, Mário Augusto Teixeira de Freitas, responsável pela Diretoria de Informação, Estatística e Divulgação do Ministério da Educação e Saúde, sugeriu, por exemplo, que o território brasileiro fosse subdivido em trinta “unidades”, o que implicava em transferir temporariamente a capital para Belo Horizonte, antes de finalmente assentá-la no Quadrilátero de Cruls, onde receberia a denominação de “Ibéria” ou “Lusitania”. (24)
Em 1934, a Assembléia Nacional promulgou uma nova constituição, cujo artigo 4° das “Disposições Transitórias” estabelecia que “Será transferida a Capital da União para um ponto central do Brasil” e que o presidente “nomeará uma Comissão, que, sob instruções do Governo, procederá a estudos de várias localidades adequadas à instalação da Capital” (25). Esta Constituição mantinha viva a idéia da transferência da capital, além de legitimar o mandato provisório de Vargas, que seria eleito como presidente da República, por voto indireto, pelo membros da própria Assembléia. Quanto às próximas eleições presidenciais, ficava estabelecido que se realizariam em 1938, excluindo-se a possibilidade de um segundo mandato consecutivo. Diante da impossibilidade de reeleição e tirando proveito de denúncias de supostas conspirações comunistas, Vargas promoveu o golpe de Estado de 1937, inaugurando o Estado Novo (1937-1945), uma versão mais autoritária de seu governo anterior. Uma nova Constituição foi promulgada naquele ano, contudo, sem mencionar a futura capital do Brasil.
Com Vargas deposto em 1945, a Assembléia Nacional reintroduziu a questão da futura capital no artigo 4° das “Disposições Transitórias” da Constituição de 1946, pelo qual o presidente teria 60 dias para nomear uma comissão, encarregada de encontrar um local apropriado no planalto central. Para este fim, em 19 de novembro de 1946, o presidente Eurico Gaspar Dutra nomeou o General Djalma Polli Coelho como chefe da referida comissão. Polli Coelho apresentou seu relatório em 1948, no qual ampliava a área original do Quadrilátero para 77.000 metros quadrados (26). Embora o relatório de Polli Coelho tenha sido analisado no Congresso, seriam ainda necessários outros cinco anos e a própria reeleição de Getúlio Vargas, em 1950, para que fosse sancionado pelo Decreto Lei no 1803. Em 5 de janeiro de 1953, finalmente o Poder Executivo era autorizado a realizar os estudos definitivos para a escolha do local, ampliando-se a previsão da população da nova capital para meio milhão. Vargas criou a Comissão de Localização da Nova Capital Federal (CLNCF), dirigida pelo General Aguinaldo Caiado de Castro, que encarregou a companhia brasileira de Aerofotogrametria, Cruzeiro do Sul, de fazer o levantamento aerofotogramétrico. Os registros fotográficos originários deste levantamento se tornaram a base para os estudos realizados pela empresa americana Donald Belcher & Associates, que definiram cinco possíveis locais para a futura capital. Em 1955, o relatório Belcher foi submetido ao novo presidente da CLNCF, marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, e entre os cinco locais com códigos coloridos, o ‘castanho’ foi finalmente escolhido no dia 15 de abril. A área apresentava condições de clima temperado, terreno contínuo, boa drenagem e potencial para formação de lagos, pela possibilidade de represamento dos dois rios ali existentes: rio Paranoá e rio São Bartolomeu. Cavalcanti de Albuquerque havia criado também, no ano anterior, diversas subcomissões consultivas, inclusive a de ‘Planejamento urbanístico’, encarregada de propor princípios urbanísticos e um plano diretor para a nova capital. A subcomissão – formada por Raul Penna Firme, Afonso Eduardo Reidy, José de Oliveira Reis, Stelio de Morais, Roberto Burle Marx, e Roberto Lacombe – propus uma cidade que se denominava “Vera Cruz”, descrita como sendo não apenas “uma cidade orgânica, monumental, política, e administrativa”, mas ainda baseada nos conceitos de cidade-jardim do urbanista britânico Ebenezer Howard (27). Ao procurar seguir os ideais originais do modernismo, a subcomissão chegou a enviar um convite a Le Corbusier para que supervisionasse o planejamento da nova capital brasileira (28). O arquiteto, de renome internacional, como o identificavam os membros da subcomissão, foi mais do que receptivo à idéia, especialmente porque ela estava em sua mente desde 1926. Entretanto, quando Le Corbusier, foi diretamente consultado acerca da possibilidade de organização de um concurso de projetos para a nova capital, o renomado arquiteto respondeu que “os governos deveriam ter a coragem de designar um pequeno número de personalidades capazes de formar uma força apta para encarar a tarefa proposta” (29). Embora o presidente da Commisão tenha vetado a participação de um “urbanista estrangeiro”, Le Corbusier chegou a propor um processo compreendendo cinco diferentes etapas, no qual ele próprio assumiria o projeto esquemático da cidade e seu “plano piloto”, deixando a análise, implementação e desenvolvimento do projeto para a Comissão (30). O termo inédito “plano piloto”, utilizado anteriormente por Le Corbusier em 1951 para o projeto de Bogotá, estava destinado a ser sua única contribuição direta para o projeto final de Brasília.
Brasília foi concebida, projetada e erguida ao longo dos cinco anos do governo de Kubitschek. O processo de construção, do início ao fim, durou 1.310 dias, um processo que resultou das crenças, ideais e dedicação de trabalhadores, arquitetos, urbanistas, engenheiros, políticos e administradores, cujo compromisso e empenho garantiram sua conclusão a tempo de ser inaugurada em 21 de abril de 1960. Naquele dia, funcionários públicos e embaixadores estrangeiros deslocaram-se para comparecer ao evento, assim como milhares de pessoas, provocando o primeiro congestionamento de tráfego na cidade. As festividades iniciaram-se já na véspera quando, às quatro horas da tarde, em solenidade na Praça dos Três Poderes, Kubitschek recebeu as chaves da cidade das mãos do presidente da Novacap, Israel Pinheiro. Uma missa foi celebrada naquela noite quando, à meia-noite, Brasília tornou-se a capital do Brasil. No dia da inauguração, os embaixadores apresentaram suas credenciais, enquanto os diversos órgãos governamentais começavam a se instalar em suas novas sedes administrativas. Ao cair da noite, vinte toneladas de fogos de artifício explodiram nos céus da capital, enquanto trabalhadores festejavam na Praça e os dignitários jantavam em trajes de gala no palácio presidencial. Adiar o deslocamento da capital brasileira ficou doravante impossível.
notas
1
COSTA, Lucio. Para alunos brasileiros de arquitetura residindo nos Estados Unidos. Rio de Janeiro, s.n, 1983. Fita Cassete. Acervo Casa de Lucio Costa.
2
MORAES, Alexandre José de Mello. História da trasladação da corte portuguesa para o Brasil em 1807-1808. Rio de Janeiro, E. Dupont, 1872, p. 18-20.
3
CUNHA, Luís da. Instruções políticas (1736). Lisboa, Edição Abílio Diniz Silva, 2001, p. 372.
4
COUTINHO, Dom Rodrigo de Souza. “Memória sobre o melhoramento dos domínios de sua Majestade na América”, In: Textos Políticos, Económicos e financeiros (1783-1811). Lisboa, Banco de Portugal, 1993, p. 48.
5
COUTINHO, Dom Rodrigo de Souza. “Quadro da situação política da Europa, apresentado ao Príncipe por Dom Rodrigo de Souza Coutinho” 16/08/1803, In: PEREIRA, Ângelo. Dom João VI, Príncipe e Rei I. Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1953, p. 131.
6
STRANGFORD, Visconde. Carta para George III. 24/07/1808. Apud SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO. Antecedentes Históricos 1549-1896, p. 34.
7
COSTA, Hipólito José da. Apud PIMENTEL, Antonio Martins de Azevedo. A nova capital federal e o planalto central do Brazil. Rio de Janeiro, Typ. da Papelaria e Impressora, 1894, p. 5. 8
COSTA, Hipólito José da. Correio Brasiliense. vol. X (1813). Apud SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO. Antecedentes históricos 1549-1896, p. 115.
9
Aditamento ao projeto de constituição para fazê-la aplicável ao reino do Brazil. Lisboa, Typographia Rollandiana, 1822. Apud PIMENTEL, Antonio Martins de Azevedo. “Historico da mudança da capital federal”, In: Revista do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, LXXIII, parte I, 1910, p. 284.
10
ANDRADA E SILVA, José Bonifácio de. “Memória de José Bonifácio apresentada à Assembléia Constituinte e Legislativa do Brasil”, 9/6/1823. Apud SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO. Antecedentes Históricos 1549-1896, p. 118.
11
O Universal, 15/08/1825. Apud SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO. Antecedentes Históricos 1549-1896, p. 133.
12
VARNHAGEM, Francisco Adolfo. A questão da capital: marítima ou no interior? Viena, Carlos Gerold, 1877.
13
Debate Parlamentar, 22 dez. 1890, Anais da Câmara dos Deputados, vol. I (1890-91), p. 808.
14
Pedro Américo, 27 jan. 1891, Anais da Câmara dos Deputados, vol. III (1891), p. 226.
15
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. “A Semana”, In: Gazeta de Notícias, n. 324, 20/11/1892, p. 1.
16
PEIXOTO, Marechal Floriano. Mensagem ao Congresso Nacional, 12/5/1892.
17
COMMISSÃO EXPLORADORA DO PLANALTO CENTRAL DO BRAZIL. Relatório apresentado a S. Ex. o Sr. Ministro da Industria, Viação e Obras Publicas. Rio de Janeiro, H. Lombaerts/C. Impressores do Observatório, 1894. O Relatório Parcial da Comissão, contendo informações que deveriam ser antes submetidas ao presidente Floriano e permanecerem restritas aos membros do governo, somente seria publicado em 1896.
18
COMISSÃO EXPLORADORA DO PLANALTO CENTRAL DO BRASIL. Atlas dos itinerários, perfis longitudinais e da zona demarcada. Rio de Janeiro, H. Lombaerts/C. Impressores do Observatório, 1894.
19
De acordo com documentação da Prefeitura Municipal de Planaltina, datada de 30 nov. 1927, os proprietários da Fazenda Bananal, Gabriel Campos Guimarães, Francisca da Ressurreição Lobo, Deodato do Amaral Louly e Minervina de Souza Louly, doaram uma porção de suas terras à cidade de Planaltina, de forma que estas pudessem ser alocadas e disponibilizadas como “propaganda for Brazil’s Central Plateau”. Disponível em: <www.hcgallery.com.br/curiosid6.htm>.
20
MOELHECKE, Renata. “As precursoras de Brasília: pesquisador resgata projetos para uma nova capital federal elaborados desde 1927” In: Ciência Hoje On-line, 1/7/2004. <http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/1569>. Para uma relação detalhada de todas as propostas urbanísticas conhecidas para a capital federal desde os anos de 1920, ver TAVARES, Jeferson Cristiano. “Os projetos para Brasília e a construção da identidade nacional”. Comunicação apresentada no 6º Seminário Docomomo Brasil: Moderno e Nacional, Niterói, 16-19 nov. 2005.
21
LÉGER, Fernand. Carta a Le Corbusier, 1926. Acervo Fondation Le Corbusier, U.2.9.1.
22
Blaise Cendrars, que em Paris havia feito amizade com dois protagonistas do modernismo no Brasil, a pintora Tarsila do Amaral e o escritor Oswald de Andrade, viajara exaustivamente pelo país em 1924, acompanhado por seus amigos brasileiros. CENDRARS, Blaise. Carta a Le Corbusier, 13/7/1926, Acervo Fondation Le Corbusier, E.1.13.9.
23
CORBUSIER, Le. Carta a Paulo Prado, 28/7/1929. Fondation Le Corbusier Archives, C.3.5.288.
24
FREITAS, Mário Augusto Teixeira de. “O Reajustamento territorial do quadro político do Brasil” (1932). Apud SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO. Antecedentes Históricos 1896-1945, p. 206.
25
CONGRESSO NACIONAL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 16/7/1934.
26
COMISSÃO DE ESTUDOS PARA A LOCALIZAÇÃO DA NOVA CAPITAL DO BRASIL. Relatório técnico. Rio de Janeiro, Barlow, 1948.
27
ALBUQUERQUE, José Pessoa Cavalcanti de. Nova metrópole do Brasil. Rio de Janeiro, Imprensa do Exército, 1958, p. 192.
28
GONTIER, Hugo. Telegrama para Le Corbusier, 2/6/1955. Acervo Fondation Le Corbusier, I1.1.XX.7.
29
CORBUSIER, Le. Carta a Hugo Gontier, 10/5/1955. Acervo Fondation Le Corbusier, I1.1.XX.5.6.
30
ALBUQUERQUE, José Pessoa Cavalcanti de. op. cit., p. 189.
31
Lei Federal n. 2874, 19/09/1956.
32
NIEMEYER, Oscar. “Minha experiência de Brasília”, In: Módulo, n. 18, Rio de Janeiro, 1960, p. 12.
33
SILVA, Ernesto. História de Brasília. Brasília, Editora de Brasília, 1970, p. 157.
sobre o autor
Farès el-Dahdah é Professor de Arquitetura na Rice University (EUA), onde coordena o programa de Pós-graduação e dirige o projeto arkheBrasil, uma base de dados visual sobre a arquitetura moderna no Brasil. Organizou os livros Roberto Burle Marx 100 Anos: a permanência do instável (2009) e Brasilia´s Superquadra: Lucio Costa (2005), tendo ainda colaborado nas obras A doce revolução de Oscar Niemeyer (2007) e Brasilia: l'épanouissement d'une capitale (2006). Recentemente, concluiu uma monografia sobre Lucio Costa, a ser publicada pela editora suíça Infolio