A Fábrica de Móveis Celso Martinez Carrera e a Indústrias Cama Patente – L.Liscio – S.A são importantes referências para a compreensão de como se deu o desenvolvimento tecnológico e a passagem do fazer artesanal para a produção seriada, nas primeiras décadas do século 20, na fabricação do mobiliário brasileiro. Enquanto na prática dos artesãos/marceneiros cada peça era única, não se pretendendo a reprodução, o mesmo não acontecia com a indústria, para a qual as soluções de desenhos e as técnicas de fabricação visavam a possibilidade de reprodução.
Celso Martinez Carrera, herdeiro do fazer artesanal, une habilidade e talento técnico-criativo no desenvolvimento e fabricação dos seus produtos. Nele predomina o artesão. Luiz Liscio, de espírito empreendedor e uma visão de mercado, ao patentear a cama criada por Carrera, apropria-se do produto e o aperfeiçoa para uma fabricação em escala. Nele predomina o empresário.
O desenho da cama criada por Carrera e sua industrialização e democratização, viabilizadas por Liscio, anunciam uma nova fase na fabricação do mobiliário, decorrente das mudanças no modo de vida e na organização social, econômica e política no Brasil nas primeiras décadas do século XX.
Há quase um século a Cama Patente é lembrada como referência afetiva e resgata um momento histórico de mudanças que vão imprimir um novo perfil à cultura brasileira com a imigração de povos de diferentes países.
nota
NE
Texto curatorial da exposição “Cama patente: memória e imaginário”. Sesc Araraquara, de 18 de julho a 18 de setembro de 2011.
sobre a autora
M. Angélica Santi é curadora da exposição.