Que mistérios tem Clarice
que atrai mil desvairadas
a segui-la na escrita?
A centenária maldita
que segredos escondia
entre batons e cigarros?
Que enigmas encobria
nas coca colas diárias
a bendita centenária?
Que modas deu de inventar
persona sofisticada
de frases inacabadas
do ser, do âmago, do nada
do não sei se caibo em mim
que fazem a mimese
ridícula
e só aumentam a distância
de quem não tem outra estância
que ser gado ultrapassado
Macabéas nordestinas
como podem ser Clarices
sem um coração selvagem
sem o nomadismo atávico
sem deslaços da família
sem comer maçã no escuro?
Que não se arvorem em autora
nascidas para personagem
notas
NA – A escritora Clarice Lispector, a quem o poema e o desenho homenageiam, nasceu em 10 de dezembro de 1920, com seu centenário sendo comemorado no final do ano passado.
sobre as autoras
Sonia Marques é arquiteta e urbanista (1973), mestre e doutora (1983 e1997) em Sociologia. Professora no Brasil (UFPE, UFRN, UFPB, UFBA) e no exterior (Universidades de Montreal e UT-Austin). É tradutora pública de francês e poeta premiada.
Eliane Lordello é arquiteta, mestre (Arquitetura) e doutora (Desenvolvimento Urbano). Servidora pública municipal há 28 anos, atua na área de Patrimônio. Tem textos e desenhos publicados em vários periódicos. É membro do corpo editorial do portal Vitruvius.