Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste: O quê é arquitetura?
Peter Eisenman: A arquitetura é uma disciplina radical que se enfrenta com um problema muito concreto: construir o lugar. Mas, às vezes, para ser arquitetura, deve transformar o lugar. A arquitetura deve constituir o que deve ser. E isto é o que a faz da arquitetura uma disciplina difícil, específica e autônoma. Porque se alguém simplesmente cria um lugar, não está fazendo necessariamente arquitetura. Quando alguém está questionando o lugar, transformando-o, transpondo-o, readequando-o, sempre está alterando aquilo que deve situar. Essencialmente, a arquitetura deve também refletir a transformação social, política e cultural. A arquitetura sempre deverá ter cara de arquitetura e deverá resistir à lei da gravidade. Em arquitetura, as coisas têm que se manter eretas, ter a capacidade de abrigar, devem ter um programa, implantar-se em um lugar… Existem certos aspectos materiais que a definem, que eu diria que são necessários, mas não suficientes. As condições suficientes da arquitetura, no meu entendimento, estão muito além do lugar e do programa. São condições que teorizam sobre algo distinto. Isto é para mim a arquitetura.
FM/AGY: Você é um dos arquitetos contemporâneos que com mais intensidade tem se dedicado a refletir sobre da arquitetura e a intelectualizar sua própria prática.
PE: Para um arquiteto deveria ser tão importante construir como elaborar uma teoria. Manfredo Tafuri sustentava que não é necessário construir, mas, de qualquer modo, não importa o quão interessante pudesse ser minha abordagem teórica: se não construísse projetos importantes, seria esquecido. À medida que alguém vai incrementando sua capacidade para construir edifícios grandes, também vai encontrando mais dificuldades para relacionar teoria com construção. É muito mais complicado conceber grandes edifícios do que uma casa, que foi como iniciei minha carreira.
FM/AGY: Você constata que, intelectualmente, a arquitetura está se empobrecendo?
PE: Sim, creio que estamos rolando encosta abaixo neste aspecto porque não existe um consenso geral. Para a arquitetura moderna existia um consenso geral sobre o que devia ser feito, situação que desapareceu. A Deconstrução deslocou a arquitetura moderna e pós-moderna; basta dar uma olhada na última Bienal de Veneza para comprovar que tudo ali apresentado era Deconstrução. Mas eu entendo que existe um problema hoje e o motivo é porque os arquitetos não sabem o que fazer. Não há uma teoria predominante. No existem líderes teóricos. Por isso é um momento difícil. O quê se pode ensinar? Eu ensino Brunelleschi, Borromini, Le Corbusier, Mies Van der Rohe… Não sei que outra coisa poderia ensinar. Eu não dou aulas sobre Peter Eisenman.
FM/AGY: Mas outros professores dão aulas sobre Peter Eisenman. E as pessoas que trabalham aqui com você aprendem a fazer arquitetura e não a copiar suas formas.
PE: Sim. Mas eu ensino sobre o que sei. Eu não sei nada sobre Peter Eisenman.
[Eisenman gera seus projetos a partir de um processo de investigação com diagramas. Sua investigação com este elemento é o que tem sustentado a evolução de seu trabalho.]
FM/AGY: Qual é a aplicação do diagrama dos pontos de vista prático e teórico?
PE: Uso o diagrama não como forma, mas como idéia. Tento encontrar algo que funcione como diagrama para gerar algo a partir das condições que não poderia ter previsto anteriormente. O diagrama é diferente em cada caso. A mudança, ou o uso, da concepção do diagrama tem evoluído de diagramas mais simples até outros mais complexos. Meus projetos sempre surgem de uma idéia sugerida pelo programa, ou do lugar e sua história. Sempre deve se contar com uma idéia prévia sobre o motivo pelo qual se está solucionando um problema.