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interview ISSN 2175-6708

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Nesta entrevista concedida à Alessandro Rosaneli, a arquiteta e paisagista Anne Vernez Moudon apresenta importantes considerações para aqueles interessados no estudo da forma urbana e nos possíveis desdobramentos metodológicos

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ROSANELI, Alessandro Filla; SHACH-PINSLY, Dalit. Anne Vernez Moudon. Entrevista, São Paulo, ano 10, n. 040.01, Vitruvius, out. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/10.040/3397/pt>.


Figura que demonstra a expansão urbana na cidade de Alnwick, Inglaterra, em vários momentos de sua história: séculos XVIII/XIX, no histórico estudo de Conzen pai. CONZEN, M. R. G. Alnwick, Northumberland: A Study in Town-Plan Analysis
[fonte: Institute of British Geographers Publication n. 27. London: George Philip & Son, 1960, p. ]

 

Alessandro Filla Rosaneli e Dalit Shach-Pinsly: Em seus artigos (1994; 1997) a senhora apresenta três escolas de morfologia urbana: a italiana, iniciada pelas investigações de Saverio Muratori e Gianfranco Caniggia; a francesa, centrada na Escola de Arquitetura de Versalhes, com destaque para Philippe Panerai; e a inglesa, representada pelo seu mais destacado contribuinte, M. G. R. Conzen. Apesar dos vários pontos convergentes e com o “tipo” fornecendo a estrutura aproximativa, a senhora e outros autores apontam que as diferenças de linguagem e os diferentes campos disciplinares traziam dificuldades para a construção de um caminho convergente. Estas questões ainda permanecem?

Anne Vernez Moudon: Em primeiro lugar, devemos focar nas similaridades e diferenças entre estas três escolas em uma ordem cronológica. De forma resumida, a escola inglesa foi desenvolvida por geógrafos e o que eles fazem? Procuram ser descritivos, explicando os fenômenos. A escola italiana foi iniciada por arquitetos e como tais eles estavam interessados em investigar como certos tipos de edifícios deveriam ser construídos e como se devia projetá-los. A escola francesa foi iniciada mais tarde, ao final dos anos 1960. Seus seguidores estavam conscientes da escola italiana – através de um livro Muratori sobre Veneza descoberto num sebo. Eram arquitetos, particularmente interessados em urbanismo, e alguns sociólogos. De fato, na década de 1960 muitos arquitetos estavam interessados nos aspectos sociais do ambiente construído. Tanto Panerai como Castex foram alunos de Lefèbvre e outros sociólogos e geógrafos franceses. Assim, cada escola, em razão da orientação profissional de seus envolvidos tinha diferentes propósitos para investigar a forma urbana. Ou seja, os geógrafos estavam interessados em desenvolver teorias da urbanização, de como as cidades se transformam, mas eles não estavam interessados diretamente em compreender ou desenvolver teorias prescritivas de como desenhar a cidade. No entanto, os italianos estavam definitivamente desenvolvendo teorias de desenho arquitetônico e urbano; eram, portanto, mais proativos em seus objetivos que os morfologistas ingleses. Os franceses estavam em algum lugar no meio – típico dos franceses [rs]. Eles eram críticos das teorias de desenho arquitetônico, interessavam-se pela escala arquitetônica e urbana e procuravam explorar as origens da teoria modernista, que para eles foi se consolidando ao longo do século XIX. Estes são os três diferentes interesses dessas escolas. O fato comum é que todas se atentam para o edifício em sua parcela mínima, ou seja, o lote urbano. Esta é a chave para se entender a forma urbana. Portanto, a fim de se compreender a forma urbana deve-se observar as tipologias construtivas baseando-se em como a terra foi dividida em distintas parcelas. Todas estas escolas defendem que o lote urbano e a(s) edificação(ões) são os elementos chave da forma urbana. Eu chamo o lote urbano como “pivô” da forma urbana, porque é o instrumento com o qual se pode entender as tipologias construtivas, como as pessoas habitam nas edificações, etc. A partir do lote urbano, pode-se aumentar a escala de observação: como vários lotes se agregam em quarteirões, e como o arranjo de quarteirões forma a cidade.

Por fim, uma interessante observação: eu nomeei estes três grupos que se concentram na morfologia urbana como “escolas” porque eu não sabia como chamá-los. E em trabalhos de amplitude internacional você deve encontrar palavras que todos entendem e concordam – palavras que devem ser “internacionais o suficiente” para serem facilmente traduzidas em diferentes línguas. Assim, eu propus o termo “escola” em 1997, neste meu artigo. Num primeiro momento foi amplamente aceito pelo pessoal envolvido com estas pesquisas, mas depois acabou sendo questionado, muito em razão dos próprios membros entenderem que suas pesquisas exploravam o mesmo conjunto de questões teóricas e estruturas metodológicas. Para dizer a verdade, eu realmente não entendi porque o uso do termo foi questionado. O que eu sei é que desde então o termo “escola” tem sido empregado.

AFR / DSP: Peter Marcuse (“The grid as city plan”, 1987) defende que “a forma urbana é residual”, ou seja, é o resultado do choque e conflito de interesses socioeconômicos e políticos. Assim, o planejamento urbano e o desenho urbano, sendo um esforço de profissionais e técnicos, representam um papel secundário nesse processo. Até que ponto a senhora acredita que essa limitação é um fator que impede a realização de melhores planos e projetos?

AVM: Eu acredito que isso pode explicar porque a morfologia urbana “é” ou “não é” considerada como uma importante parte do pensamento sobre a cidade. Por exemplo, Kevin Lynch foi certamente muito interessado nas forças sociais, políticas e psicológicas que formam a cidade. Ele frequentemente dizia que não se importava com o que a cidade era fisicamente, mas, ao contrário, importava-se com o que as pessoas pensavam ou sentiam sobre a cidade. Marcuse (e Lynch na essência) têm uma atitude “pós-estruturalista”, “pós-construtivista”, que poderia também ser “Gestalt”, no qual o objeto (forma urbana) não existe, exceto aos olhos do observador. Eu entendo que isso seja um problema de posicionamento filosófico. No entanto, esta perspectiva é instrumentalmente muito limitada, porque não ajuda a entender como as cidades realmente são feitas. Entender como uma cidade é feita através do estudo do pensamento das pessoas, de como elas a concebem, como elas querem viver nela, etc., não é suficiente. Nós temos que entender também “o que” está sendo feito, e não importa como e porque é feito. Uma cidade é em parte um objeto coletivo. Um urbanista não pode entrar facilmente na cabeça de uma coletividade e resolver o que eles pensam ou desejam sobre a sua cidade. Desse modo, eu acredito que considerando ou não considerando a forma física da cidade é um tipo de questão ideológica e intelectual que pensadores como Marcuse, Lynch e outros têm infortunadamente recusado a enfrentar. Enquanto que a cidade, os edifícios, os quarteirões podem existir na realidade para o observador, os urbanistas não podem almejar conhecer todas essas perspectivas, pois é uma impossibilidade. Em razão disto, o urbanista pode assumir uma atitude “artística” e dizer, como Lynch o fez: Bem, eu tentarei entender o máximo possível como as pessoas concebem, compreendem, sentem a cidade e então, a partir disso eu darei o meu melhor para tentar trabalhar em grupos para obter uma resposta coletiva para a forma da cidade.

Eu mesma prefiro uma “abordagem científica” para compreender a objetividade e a subjetividade dos variados aspectos urbanos. Quando você observa o que planejadores, urbanistas, loteadores, empreendedores, etc., realmente fazem, eles criam a “planta física”, ou seja, eles criam a realidade objetiva da cidade – e isto é a única coisa que eles podem controlar de fato. Eles não podem controlar o que as pessoas pensam e eventualmente fazem na realidade física. O processo político é importante, ele determina porque o empreendedor ou porque este urbanista é mais seletivo que outro. Há política envolvida, há poder envolvido. Política é muito importante para se considerar. Ainda assim, quando uma decisão é tomada, quando um empreendedor e/ou um urbanista são seletivos para desenvolver uma parte da cidade, se a pessoa ou o grupo é da esquerda ou da direita, eles somente têm controle da cidade em seu plano físico. Desculpe se eu lhes desaponto! Isto é a razão pela qual eu entendo que a morfologia urbana e os aspectos objetivos da realidade urbana são essenciais para serem considerados. As questões envolvidas em torno dos aspectos qualitativos da cidade talvez não se sustentem enquanto tal (se realmente existirem) na cabeça das pessoas, mas isso é uma componente basilar essencial do processo de planejamento: isso é a única coisa que podemos medir objetivamente, quero dizer, podemos concordar acerca da realidade física, pois é o que necessariamente dividimos. A dimensão física da cidade é a base comum da qual nós podemos acessar os aspectos subjetivos como as preferências, significados, utilidade, etc. Nesse sentido, nós temos que usar uma abordagem morfológica, ou seja, uma abordagem orientada ao objeto, não porque seja “verdadeira” ou “melhor”, mas porque é a única base comum da qual se pode medir tudo o mais. Por isso eu costumo a dizer para meus alunos: “vocês não projetam o ‘lugar’, vocês projetam o ‘espaço’”. Alguns ficam horrorizados, porque eles querem muito projetar “lugares”. O fato é que planejadores, arquitetos e urbanistas e empreendedores não podem moldar diretamente o pensamento das pessoas, ou mesmo comportamentos, e assim eles não “projetam lugares”.

Voltando à posição de Marcuse, eu concordo com ele totalmente, planejamento urbano é limitado e quando uma área é planejada, mudanças e riscos estão envolvidos e o resultado final pode não corresponder com as expectativas ou necessidades dos usuários. Na produção da forma urbana (espaço mais que lugar), arquitetos e urbanistas deveriam olhar para essa “grande mercadoria” em longo prazo, deveriam ter conhecimento histórico consolidado, e deveriam tentar inserir possibilidades de mudança gradual e não deveriam olhar para o mercado futuro e sim para o valor do ambiente construído para as futuras gerações.

Figura que demonstra a expansão urbana na cidade de Alnwick, Inglaterra, em vários momentos de sua história: século XX, no histórico estudo de Conzen pai. CONZEN, M. R. G. Alnwick, Northumberland: A Study in Town-Plan Analysis
[fonte: Institute of British Geographers Publication n. 27. London: George Philip & Son, 1960, p. ]

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