Corrado Curti: Quais são as áreas de pesquisa nas quais a Arquitetura Experimental deveria se engajar atualmente e no futuro imediato?
Lebbeus Woods: O problema mais crítico e difícil é o rápido crescimento das cidades. O aumento do abismo entre pobres e ricos significa que grande parte deste crescimento acontece na forma de favelas e outros tipos de paisagens urbanas recém construídas absolutamente insustentáveis – tanto em termos humanos como ambientais. A arquitetura não pode influenciar diretamente sobre as disparidades econômicas, mas pode se recusar a cooperar com as instituições sociais que as criam. Além disso, a arquitetura pode propor as melhores soluções possíveis para as favelas e a deterioração das condições urbanas, e não apenas repetir soluções apoiadas pelos poderes políticos e econômicos em vigor. Isso ocorre porque a RIEA não depende desses âmbitos de poder para existir.
Certamente há uma grande necessidade de habitação de baixo custo – para abrigar o crescimento populacional urbano. Tenho certeza de que o termo “habitação” deve ser mudado, porque sua tipologia está baseada em categorias sociais rígidas atualmente defasadas. Habitação significava “habitação em massa” para as massas de trabalhadores de linhas de montagem de fábricas, originalmente sob a forma de “company towns”. Posteriormente, “projetos” de habitação foram pensados e construídos para as massas urbanas de baixa renda, uma subclasse ainda existente, mas que é muito diversa para ser levada em conta em bloco ou ser enfrentada como parte de um “gueto”. O atual crescimento da economia de serviços, fragmentada pelo uso da informática e nichos na internet, criou a necessidade de uma tipologia inteiramente nova nos bairros e seus arredores, que ainda que ainda está para ser inventada e testada. Esta é a prioridade para os arquitetos experimentais.
Outra prioridade – uma tarefa ainda mais difícil – é a melhoria das condições de vida nas favelas existentes. A melhor solução seria eliminar favelas – as existentes hoje – e ter a certeza de que não voltarão a ser construídas. Mas isso exigiria a supressão da pobreza. Além de estar fora do alcance do arquiteto, deve ser uma tarefa de compromisso da sociedade como um todo – um compromisso que ainda não começou a ser levado a cabo. Enquanto isso – se é que isso terá um fim – os arquitetos deverão elaborar estratégias e técnicas que os moradores das favelas possam usar para melhorar suas casas, e se necessário através de pequenos passos, um de cada vez. O que acontece hoje é que os arquitetos não querem chegar perto do problema e têm feito muito pouco.
Eu diria que os arquitetos que querem explorar as questões mais avançadas devem confrontar a relação da estética – a aparência das coisas – à ética – o que as coisas significam, no sentido mais plenamente humano do termo. Consumismo e comercialização em massa têm inscrito os arquitetos em seu gueto, especialmente aqueles mais talentosos no âmbito visual, como os designers de produtos, os designers de embalagens que pretendem tornar os produtos mais vendáveis ou simplesmente usar o seu trabalho como uma forma de marketing de prestígio. Sair desse cativeiro é a prioridade do campo da arquitetura. O que dificulta esse passo é o desenvolvimento de seus compromissos sociais sem sacrificar os ideais estéticos. Não se trata de sustentabilidade ou beleza, utilidade ou poesia, mas ambos devem ser alcançados, ao mesmo tempo, em total harmonia e apoio um ao outro.