A ovelha negra, o cisne preto e o arquiteto experimental
Durante o verão de 1988, luminoso e ensolarado – pelo menos é assim como queremos imaginá-lo – um grupo de arquitetos se encontrou em Emmond Farms para participar da Primeira Conferência do recém-inaugurado Research Institute for Experimental Architecture, sob a direção de Lebbeus Woods. Quase 25 anos depois, arquitetos engajados à experimentação ainda são considerados com as ovelhas negras do mundo arquitetônico, exilados na periferia da disciplina por conta da dúvida generalizada existente sobre a real necessidade de arquitetura experimental.
Entretanto ao nos determos sobre a sequência trágica do poder de destruição de massa da dobradinha arquitetura/forças naturais; a paisagem pós-humana da Detroit encolhida e transformada em uma cidade literalmente verde por conta do abandono e decadência; a redução da arquitetura a mero estilo para clientes influentes nas centenas de especulações mundiais no estilo Dubai, cujas fundações voláteis se apóiam mais sobre fluxos financeiros virtuais do que em solo firme; não poderemos fugir da evidência da falácia e crise dos paradigmas tradicionais da arquitetura.
O legado positivo modernista, que ainda perdura nos fundamentos conceituais da disciplina, não permite um entendimento correto do papel da indeterminação, imprevisibilidade e incerteza em um mundo onde a dança do cisne preto não pode mais ser considerada como mero incidente.
Se a arquitetura é considerada como o instrumento para definir o modo como habitamos o mundo, temos então um longo caminho antes de poder nomeá-la “lar”. É por isso que a arquitetura experimental de fato é necessária: para pesquisar modos como a arquitetura pode prever ou provocar mudanças e formas espaciais que questionem nosso lugar dentro do mundo.
Assim como o papel da experimentação nas ciências, a experimentação na arquitetura permite pesquisar sobre problemas e testar novas hipóteses arquitetônicas, através de desenhos e maquetes que servem de laboratório experimental.
Todos sabemos que a arquitetura não é uma ciência, pelo menos não uma positiva, mas a carreira e pesquisas de Lebbeus Woods são um exemplo claro que o arquiteto experimental de fato existe. E, ainda mais importante, de que realmente precisamos dele.
As obras e os escritos de Lebbeus Woods revelam o profundo abismo que separa a prática crítica e intelectual da arquitetura – muitas vezes exercida por um punhado de teóricos de elite e quase sempre isolados – daquela prática que se caracteriza pelo trabalho diário intensivo – não importa quão grande seja o escritório ou quão brilhante seja a capa das revistas que publicam seus projetos. O Arquiteto Experimental (1) habita o espaço que existe entre esses dois extremos. E nessa zona obscura cinzenta, ele ou ela, um pouco como Johnny Cash na música “A Boy Named Sue”, viaja sozinho por caminhos inexplorados e trajetórias que conectam as duas margens fracassadas: um “estranho em uma terra estranha”.
Nota
1
Ver link lebbeuswoods.wordpress.com/2010/08/12/the-experimental