As pixações acompanham o paulistano pela cidade inteira, mas poucos entendem o que essas letras enigmáticas significam ou pretendem. Djan Ivson, mais conhecido como Cripta Djan Ivson ou Cripta Djan, por conta da liderança que exerce no grupo de pixadores Cripta, tem sido um dos responsáveis por pressionar a leitura social desse tipo de intervenção na cidade e já se tornou tão famoso no mundo da pixação que se fosse justo eleger, dentro do universo da pixação, um líder, um dos fortes candidatos seria ele.
Fora a sua atuação nas ruas desde 1996, Djan tem um currículo de fazer inveja a qualquer candidato a artista ou cineasta. Em 2009 participou da exposição Né dans la rue, na fundação Cartier, em Paris, no Brasil figurou na 29ª Bienal de São Paulo, e já está escalado para participar da Bienal de Arte Contemporânea de Berlin em 2012. Desde 2006 vem se dedicando a produzir e distribuir filmes sobre pixação, já lançou quatro títulos com o nome Escrita urbana e cinco títulos com o nome 100 comédia, sendo o último, um apanhado sobre a pixação nas cinco capitais do Sul e Sudeste. Além de suas produções, também contribui para filmes sobre o assunto feitos por outros produtores, entre eles, convêm destacar a sua coautoria no documentário “Pixo”, exibido em 2009 na mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Djan cedeu entrevista no sofá de sua sala, em Osasco, São Paulo. Dotado de uma voz firme e determinada, possui presença de espírito marcante. Apesar de ser figura constante na mídia quando o assunto é pixação, não perde contato com suas origens e é visto constantemente com seus pares nas ruas e nos encontros e festas de pixadores. O espírito de liderança e a personalidade pró-ativa também fizeram dele um pixador de destaque, ao arriscar sua vida escalando prédios e muros pela cidade, mas não pense que ele apenas suja a cidade, pois tem plena consciência dos seus atos e é capaz de, em segundos, lançar mão de frases como a que figura no seu perfil no Facebook: “Pixar é crime num país onde roubar é arte”.
glossário
Na edição da entrevista foi mantido o coloquialismo e o vocabulário particular do entrevistado, cheio de gírias do mundo da pixação. Para facilitar o entendimento, segue um pequeno glossário das expressões mais usadas por Djan Ivison.
Bafo – iniciante, inexperiente, sem credibilidade.
Baguio – coisa, acontecimento.
Bancar – pagar; “bancar a lata” significa pagar/patrocinar a lata de spray.
Colar – marcar presença, comparecer.
Corró – tipo de cela ou xadrez existente em delegacias de polícia, destinada à detenção temporária em razão de prisão em flagrante delito ou cumprimento de determinação judicial.
Embaçado – complicado, difícil, imprevisível.
Espirrado – expulso.
Explodir – pixar intensamente.
Pixação – ao grafar o termo com “x” e não com “ch” subentende-se falarmos da pixação feita pelo pixadores paulistanos.
Pixo – grafismo confeccionado com letras de pixação tendo o meio urbano (muros, fachadas, etc) como suporte, normalmente executado com spray ou rolo de espuma. O pixo normalmente é um logotipo de um pixador ou de uma gangue escrito com estilo de letra conhecido como tag reto.
Picadilha – escondido, discreto, disfarçado
Point – local de encontro dos pixadores.
Quebrada – bairro onde o pixador reside ou frequenta constantemente.
Rolê – deslocamento dos pixadores pela cidade.
Rodar – ser pego pela polícia.
Trampo – trabalho.
Três em pé – quando um pixador usa o ombro do outro como apoio para ficar em pé e pixar o mais alto possível, criando uma espécie de pirâmide humana.
Treta – briga, conflito.
União ou Grife – união de gangues de pixadores.
Zé povinho – Pessoa que se preocupa com a vida alheia.