Goma Oficina: A gente sempre tem essa questão sobre como chegam os projetos... Vocês tem trabalhado muito com comunidades. Queríamos entender como esses projetos chegam até vocês e o que garante a sustentabilidade financeira do grupo.
David Barragán: Nunca procuramos clientes. Não tem publicidade para atrair clientes, tampouco um projeto de pesquisa com comunidades para buscar onde intervir. Tudo sempre foi muito orgânico.
Depois entendemos que queríamos trabalhar em uma área muito específica de desenho, queríamos viver desenhando. E para desenhar precisávamos de uma liberdade, de um contato com o cliente muito forte. É por isso não estamos tratando de convencer ninguém de trabalhar com a gente. De cada dez projetos que chegam no escritório, acho que só um ou dois nós trabalhos, porque nós explicamos aos clientes como trabalhamos como é nosso processo. Nós trabalhamos muito devagar, nao podemos fazer um projeto de um dia para o outro. Então nem todos os clientes podem trabalhar com a gente. Trabalhamos como uma metodologia de trabalho que o cliente tem que estar contente e nós também. Se ele está contente com o projeto mas nós não estamos, não fazemos. Fazemos um outro projeto, novo, até que fique ótimo para as duas partes. Gostamos muito de ter essa relação e isso demanda muito tempo, os clientes não querem esperar. Trabalhamos com muitos materiais que têm uma forma de trabalhar muito específica. Não é um produto genérico, algo que vai ver em uma revista, algo que já se está acostumado. Então demanda um processo e contato com o cliente para que ele e nós entendamos como vai ser feita essa matéria final. Então precisamos encontrar uma boa relação de amizade e confiança com o cliente.
Desde 2014 nós fizemos uma intervenção em uma casa do centro histórico, o projeto é “casa em construção”, que é nossa maneira de viver, nossa maneira de ser. É o projeto mais extremos que você pode ver. Fizemos uma mistura entre workshop aberto e academia da construção para alunos e ali começamos a explorar tecnologias de baixo custo com muito pouco orçamento. E isso criou uma estética muito própria do lugar. Então todo cliente que entra, ou se apaixona ou sai correndo, não tem meio termo [risos]. Gostamos muito disso porque podemos ser muito honestos com nossas procuras, com pra onde vai nossa arquitetura. Isso na área tradicional de arquitetura.
Por exemplo, depois de fazer a primeira escola, Escola Nova Esperança, na praia, o projeto foi publicado na mídia de arquitetura, foi muito mostrado no mundo todo, seguimos enviando o projeto para diversas exposições de educação, de tudo. Muitas ONGs ficaram com essa imagem marcada e começam a ligar pro nosso escritório. O que nós fizemos foi mostrar nosso trabalho na mídia especializada, só isso. Procuramos muito mostrar na mídia de arquitetura porque isso produz para nós uma crítica muito forte, porque estamos muito expostos, todo nosso trabalho está exposto em muitos idiomas, palestras. Todo mundo está constantemente vendo o que estamos fazendo, e isso ajuda muito nosso pensamento, faz com o tempo tempo haja um questionamento sobre o que estamos fazendo, e porquê. “Por que estamos fazendo isso? Por que estamos trabalhando com esse cliente? Faz sentido fazer outra moradia? Como fazemos outra mordia? Agora, tendo feito muitas moradias, temos que pensar que a moradia tem que ser algo a mais”.
Então, agora trabalhamos vários componentes da construção da casa em workshops abertos para desenvolvimento da técnica, para que os estudantes aprendam a fazer muros de terra, ou trabalhar com madeira, fazer tetos de pneu, porque inventamos nossas tecnologias lowtec também
Então o tempo todo estamos procurando questionar o que fazemos, e por quê. Não sabemos qual é o passo seguinte, não temos uma projeção a futuro. Não tem uma coisa mais coorporativa, “nosso objetivo final é isso”, não. Só pensamos o próximo passo, e é por isso que trabalhamos em muitas áreas, com artistas, em exposições, em projetos temporais, em tudo que queremos, na academia... Sempre procurando entender qual é nossa proposta neste espaço.
Desenhamos e construímos nossos projetos, então temos honorários do desenho e honorários da construção. E também damos aulas no Equador, e agora somos professores convidados no Peru. Agora temos um Taller Al borde [Ateliê Al borde], uma aula de projetos Al borde, trabalhamos isso como uma marca, digamos assim, para se mover entre as distintas academias... Temos uma aula Al borde na Universidade Tecnológica de Latinoamérica, outra em Quito, e aconteceu o mesmo com o decano da Universidad SEK, ele disse “Quero que meus alunos aprendam a construir, aprendam da matéria, aprendam uma outra maneira de se aproximar da arquitetura”. Aconteceu o mesmo no Peru, temos um workshop lá, na Universidad Ucal, onde sempre construímos.