Oscar Eduardo Preciado Velásquez: Qual seria esse papel que essas instituições públicas e privadas agora desempenham, dentro desse processo de projeto participativo?
David Barragán: Qual seria esse papel? Primeiro que eles querem ter um papel. É assim. Se você não quer ter um papel, está tudo bem, ninguém exige, ninguém pede nada. O mundo é governado sob um sistema de capital e assim funciona. Portanto, nem tudo funciona com políticas públicas e, se no Estado fossem exigidos que os projetos de desenvolvimento social fossem trabalhados com participação, inevitavelmente a participação teria que entrar, mas enquanto não houver uma política pública que exija isso, isso não acontecerá. O que aconteceu conosco é que lá você tem um ou outro funcionário que está interessado em questões participativas ou contratado para fazer projetos, então o projeto sai por aí com essa movida, mas, o que aconteceu conosco foi por interesses individuais, não porque exista uma política pública de participação, de corresponsabilidade. Não estamos interessados nessa figura em que, como o estado não pode resolver, o privado decide, a pessoa independente resolve e, assim, o estado foge de uma responsabilidade. Não gostamos muito dessa figura, acreditamos que uma figura mais equilibrada de corresponsabilidade é melhor, onde cada um entra do seu ângulo, onde o independente entra de um jeito, onde o estado coloca outra coisa, onde a comunidade coloca outro.
OEPV: Do seu ponto de vista, o interesse que o Estado equatoriano tem em toda essa questão de projetos participativos ainda é muito escasso.
DB: Não é uma política pública. Não existe nem mesmo na contratação. Se nas leis de contratação dissesse que a participação deveria existir, seria outra coisa. Sim, no discurso se fala sobre participação e se discute porque as autoridades agora têm mais consciência de que os processos são socializados. Sim, isso existe, mas ainda há uma deturpação, há uma lógica de sair rapidamente com as atas e dizer que este é o projeto que será construído. Sim? Não? Se assina que sim, se socializa e acabou.
A participação é maior. Eu também acho que não há muita preparação para isso. E como os processos públicos são muito complicados para torná-los participativos, ou seja, os contratos públicos não são projetados para torná-los participativos, os contratos públicos têm cronogramas extremamente curtos que não permitem flexibilidade, a participação não pode entrar nisso porque a participação exige tempo super dilatado porque você nunca sabe o que vai acontecer. Então, essa flexibilidade que exige a participação não existe em um contrato público, é muito difícil de se incorporar.
É por isso que eles são feitos principalmente como processos de socialização, mostram o que é o projeto, se consulta, Sim? Não? Sim. Nenhuma comunidade vai dizer não.
OEPV: Eu estava consultando a estrutura legal que avalia esses projetos. Li algumas coisas interessantes por aí, por exemplo, existe uma lei que é a Economia Social dos Conhecimentos e o Plano Nacional do Bem Viver...
DB: Há uma pesquisadora que está fazendo seu doutorado em Barlett que pode fornecer os dados. Ela está investigando como toda a teoria do Bem viver que é colocada na constituição tornou-se espacializada, levada ao espaço. Ela está investigando, está fazendo doutorado nisso, ontem tivemos uma entrevista e ela foi morar em um de nossos projetos em uma comunidade na praia para entender como esse discurso político que é colocado em uma constituição é transferido para lá como uma realidade. Ela analisou três casos. Ela é clara sobre isso e pode explicar muitas dessas coisas.
OEPV: Finalmente, qual você considera a nova figura do arquiteto que está sendo formada à partir disso tudo? Qual é a figura que deve surgir ou melhor, que está nascendo?
DB: Eu acho que é a mesmo de sempre.
OEPV: É mantida.
DB: Tudo o que digo na entrevista pode parecer pessimista, mas não acho que haja alguma mudança.
OEPV: É simplesmente vontade individual querer se envolver.
DB: Sim.
OEPV: Você não considera que haja uma revolução nisso tudo? ...
DB: Não porque as academias continuam fazendo exatamente a mesma coisa, as academias são o sistema de modificação mais lento que eu acho que existe, elas são tão lentas quanto o estado para se modificar. O que eu estava dizendo atrás, as academias realmente não se importam com isto. Quando você tem professores ensinando projetos participativos ou fazendo tópicos de Desenvolvimento Comunitário, Desenvolvimento Social ou Desenvolvimento Local, Inovação Social ou o que chamamos, é porque há um professor que se interessou, entrou no sistema...
OEPV: Vamos trabalhar ali...
DB: Exatamente, mas não é uma vontade da academia. Não acredito que em todo o mundo haja uma vontade da academia de mudar; inclusive, acredito que existe uma vontade de se afastar o mais possível. O mesmo sistema que promove o fato de haver apenas doutores ministrando aulas, sem prática profissional no sentido técnico prático de construção e projeto, acho que afasta ainda mais a profissão. Nós estamos indo para isso. O Brasil já tem isso há muitos anos. No Brasil, no momento, você precisa ter um diploma de pós-doutorado para ser professor.
OEPV: Você precisa. Claro.
DB Aqui não, mas estamos indo para isso. Todas as pessoas que tiveram prática profissional na academia foram removidas porque não possuem mestrado. Nós, nos dedicamos a trabalhar em projetos e o espaço dentro das aulas é dado somente a todos os que possuem formação acadêmica, mas não prática. Então, com isso, acredito que ainda há menos esperança de que haja uma mudança acadêmica. Porque todos entram por questões salariais ou políticas públicas e quanto mais publicam, melhor é a sua categoria.
OEPV: Claro.
DB: Então você não precisa ter um relacionamento com a sociedade. Acho que tudo é esporádico, só conhecemos duas universidades, o Rural Studio em Auburn, Alabama e a Escola Talca no Chile. Eles são as únicas escolas que sabemos que desde que foram criados, pensaram em como treinar arquitetos que respondem às suas necessidades, a sua sociedade imediata. O restante foi criado com as mesmas malhas acadêmicas baseadas nos modelos europeus e assim permanece. E eu, pelo que vejo, por exemplo, para nós o que a reforma educacional nos fez, que, embora uma reforma educacional fosse necessária porque foi um desastre, o que ela fez é que todos os tipos de outras iniciativas só são eliminados e se focaliza na cobertura da mais rigorosa formação acadêmica. E toda vez, ao longo do tempo, como aconteceu no Brasil, você verá o que terá muito poucos professores com prática profissional. Porém, os processos de vinculação com a comunidade no Brasil são um pouco melhores, porque há muitos anos nas faculdades, existem os Escritórios Modelos, que são como escritórios de extensão que prestam assistência técnica à comunidade, há um sistema um pouco mais montado, mesmo assim, é sempre distante. O acadêmico tem que resolver outras coisas. É muito diferente, o que se faz quando vai para a aula e o que se faz quando se constrói.