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my city ISSN 1982-9922

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GUERRA, Abilio. O artista da coragem. Minha Cidade, São Paulo, ano 01, n. 001.002, Vitruvius, ago. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/01.001/2107>.


Pinacoteca do Estado
Foto Nelson Kon


Enquanto nas reuniões de condomínios em todos os bairros de São Paulo, em edifícios dos mais nobres aos mais remediados, se discute com determinação a ampliação das grades com lanças pontiagudas, circuitos fechado de televisão, alarmes, guaritas à prova de balas e as mais sofisticadas novidades na área da segurança, importadas diretamente de Miami...

Enquanto a Caixa Econômica Federal, em plena avenida Paulista, instala ostensivas guaritas inibindo os transeuntes a usarem a Praça Paulista, local onde se sentava para conversar, namorar ou lanchar, olhando as exposições, chafarizes ou crianças brincando com triciclos e patins e que agora já não estão mais lá pois foram proibidas por estragarem o chão que achávamos que pertencia à cidade mas que a instituição financeira diz que é seu...

Enquanto nos grandes escritórios de arquitetura e construtoras, em reuniões sérias com homens ainda mais sérios, por horas a fio se conceitua uma "arquitetura defensiva" – sem marquises para abrigar "sem tetos", com faces agudas e contundentes ao invés de muretas para impedir que os "desocupados" se sentem, sem recantos ou áreas livres para as crianças "bagunçarem", com jatos d’água regulados para molharem regularmente o chão que é a cama de muitos – defensiva apenas como eufemismo pois é de pura truculência fascista..

Enquanto na avenida Cidade Jardim os patamares, escadarias e jardins do Museu da Escultura – originalmente integrados às ruas lindeiras e ao Museu da Imagem e do Som na idealização de Burle Marx para o maravilhoso projeto de Paulo Mendes da Rocha – encontram-se confinados por absurdos gradis...

Enquanto nos programas de propaganda eleitoral um político de passado maculado por uma folha corrida de serviços prestados a si mesmo e a seus asseclas – que já mereceu diversas condenações não cumpridas, esquecimento que só perde em grandeza para aquele que permite uma legião de desmemoriados comprometer seus preciosos votos para sua exumação – desperta fantasmas com brados rancorosos e promete a calmaria artificial dos brucutus...

Enquanto na avenida Paulista – eleita há alguns poucos anos pela população como monumento símbolo da cidade – se discute com seriedade sobre um possível fechamento do Belvedere sob o MASP de Lina Bo Bardi – Belvedere solicitado pela família doadora do terreno e, ao que sabemos, única exigência feita – com o argumento de autoridade de que as manifestações degradam o edifício e colocam em risco sua estrutura...

Enquanto quase todos os homens de má vontade conspiram para que tenhamos a pior entre as piores cidades de um mundo desencantado, um homem, um artista, um negro, ordena a retirada das paliçadas de ferro da Pinacoteca do Estado, abrindo seus jardins para a comunidade, para outros negros que não são artistas ou curadores, para mulatos e outras misturas que sobrevivem às duras penas, para os brancos também, aqueles poucos que ainda mantém alguma esperança na vida comum. Que Deus o abençoe, Emanoel Araújo, o artista da coragem.

sobre o autor

Abilio Guerra é arquiteto, professor da FAU PUC-Campinas e editor de vitruvius.

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