O Museu de Israel, construido há quase 40 anos, é um complexo arquitetônico dos mais notáveis em Jerusalém. Obra do arquiteto Al Mansfeld, distingue-se pela sóbria mas imaginosa adaptação ao relevo topográfico e à atmosfera dourada da cidade, e pela severa observância de detalhes rigorosos, bem como pela execução de qualidade. O projeto foi de início concebido com o critério de poder responder a futuros acréscimos – inevitáveis pelo desenvolvimento no correr dos anos, pelo crescimento no número de visitantes e pelo aumento do acervo e da atividade cultural do Museu. O arquiteto também não impôs como condição que tais acréscimos fossem necessariamente executados segundo projeto seu. E a sustentar tal tese, basta salientar que ainda durante a construção do primeiro núcleo de edifícios, foi erguido ao lado do museu e como parte integrante do complexo do mesmo, o assim chamado "Palácio do Livro" - edifício que abriga os famosos Manuscritos do Mar Morto, um dos documentos mais importantes para a documentação e a pesquisa bíblica. Este edifício, projeto de outro arquiteto – insere-se como uma nota dissonante no conjunto do museu. Mas guarda para com este um respeito e uma concordância de escala e de materiais que permite vê-lo como uma licença mais "barroca" dentro da malha ortogonal do "lay-out" do museu.
Atualmente está em curso uma polêmica cuja origem vem do fato que – necessitando ampliar e modernizar parte de suas instalações para melhor atender ao grande fluxo de visitantes – o Museu apelou para o apoio financeiro de um "mecenas" estrangeiro, que exigiu recorrer a arquiteto de sua escolha. A polêmica centra-se sobre alguns pólos: o principal é que o projeto proposto é desproporcionalmente grandioso e retórico (ainda mais tendo em conta o caráter basicamente funcional dos acréscimos pedidos pelo programa), e põe em posição de inferioridade os volumes originais do conjunto, com os quais não se harmoniza. Outro pólo da discussão é o compreensível protesto de arquitetos locais, que com certa dose de razão consideram que o encargo poderia ser dado a algum deles, com igual ou maior sensibilidade programática e ambiental. Finalmente, levantou-se ao redor da questão o conhecido problema de princípio, sobre o que se poderia definir como "direitos autorais" ou "propriedade criativa" do arquiteto sobre sua obra. Este é sem dúvida um dilema que as últimas tendências do "mercado" arquitetônico só tendem a exacerbar, dada a crescente posição agressiva e prepotente do cliente economicamente poderoso, cuja maior preocupação não está em geral no aprofundamento cultural, e sim numa exibicionista e arbitrária apresentação de luxo e fartura – bem a gosto da filosofia consumista vigente. E a propria natureza da arte do arquiteto (que atua numa faixa em que a intervenção econômica, a utilitária e a tecnológica se fazem parte preponderante) não outorga a este o direito que é pacificamente reconhecido a outros artistas – defender sua obra de atentados vulgares perpetrados em nome de discutíveis objeções.
sobre o autor
Vittorio Corinaldi é arquiteto formado na FAU USP e correspondente Vitruvius em Israel.