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my city ISSN 1982-9922

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DIAS, Fabiano Vieira. Shopping no centro: um problema de conceito. Minha Cidade, São Paulo, ano 02, n. 017.01, Vitruvius, dez. 2001 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/02.017/2073>.


Perspectiva do Shopping mostrando seu impacto no entorno. À sua esquerda, a Praça Getúlio Vargas utilizada como área de carga e descarga, e à sua direita, a Primeira Igreja Batista de Vitória. Da forma como foi implantado, o Shopping se tornará um obstácu [www.centroshopping.com.br]


inserção do CentroShopping em um grande vazio urbano da Esplanada Capixaba na cidade de Vitória. Atentar para o fato do mesmo se projetar sobre a Av. Beira-mar com um imenso deck apoiado sobre pilotis colocados no canteiro central [www.centroshopping.com.br]

Seção que mostra o avanço sobre a Av. Beira-mar, e a colocação do estacionamento na parte superior do Shopping, devido ao nível do lençól freático (proximidade com o mar), aumentando a altura do mesmo [www.centroshopping.com.br]

Terraço Vitória, uma Praça Gourmet com 1500m2, 5 restaurantes e vista panorâmica para a Baía de Vitória [www.centroshopping.com.br]

Fotomontagem para mostar como será a implantação deste Shopping, e de que forma o avanço proposto se utiliza do espaço aéreo para agregar área para o deck. Atenção especial aos pilares no canteiro central da Av. Baira-mar [www.iab-es.org.br/Shopping.html]

Fotomontagem para mostar como será a implantação deste Shopping, e de que forma o avanço proposto se utiliza do espaço aéreo para agregar área para o deck. Atenção especial aos pilares no canteiro central da Av. Baira-mar [www.iab-es.org.br/Shopping.html]

Fotomontagem para mostar como será a implantação deste Shopping, e de que forma o avanço proposto se utiliza do espaço aéreo para agregar área para o deck. Atenção especial aos pilares no canteiro central da Av. Baira-mar [www.iab-es.org.br/Shopping.html]

 

Um fenômeno cultural da Pós-modernidade no urbano, os Shoppings Centers são ícones da Era da Globalização: em todos os Shoppings do mundo se comem os mesmo hamburgers, se vestem as mesmas roupas, se assistem os mesmos filmes e se respiram o mesmo ar purificado, controlado e refrigerado.

Inicialmente surgidos nos Estados Unidos entre as décadas de 60 e 70, chegam ao Brasil na década de 80 e afloram nos anos seguintes como modelos de desenvolvimento econômico de várias cidades brasileiras. E a cidade de Vitória não fica indiferente a isto.

Aos moldes dos glamurosos parques e praças do período Barroco, os shoppings centers são lugares do esplendor aonde as pessoas vão para ver e serem vistas, para desfilarem com suas melhores roupas como em uma missa dominical, e logicamente aqui no caso, para também consumirem.

Típicos de nossa sociedade do espetáculo e do consumo (1), os shoppings como outros modelos deste urbano Pós-moderno (os museus, os fast-foods, os parques temáticos...) conformam os lugares de atração das cidades contemporâneas; fenômenos que atualmente, não só se restringem às grandes cidades dos países desenvolvidos, mas que também exercem grande influência urbanística em países e cidades da periferia mundial (incluindo-se aí, pobres, excluídos, socialistas...). Fenômenos de uma nova urbanidade, ou ainda, os meios mais adequados de promovê-la, trazem a reboque um novo significado aos lugares da cidade. O significado do Capital, do consumo, do poder da imagem sobre a realidade: novos valores que se sobrepõem à história e às tradições, mesmo quando se utilizam destas para compor suas fachadas, seus motivos alegóricos ou qualquer citação. Conformam-se como lugares do espetáculo, pela sua presença e contribuição imagética a cidade, glamurizada e exacerbada em verdadeiros containers (2) de cultura consumista; novos lugares que compactuam deste ideal da representação de ambientes corretamente produzidos para o consumo, descolados de uma realidade externa, tanto física, quanto imagética, se comportando como lugares de atração desta nova urbanidade.

Vitória, cidade-ilha com ares ainda de cidade provinciana, não se furta de querer ser grande ou mesmo de participar do movimento de Marketing urbano que aflige cidades das mais variadas escalas em todo o mundo. Nestas últimas décadas, grandes cidades como Berlim, Barcelona, Paris, Bilbao (esta última, a mais badalada atualmente), entre outras tantas, passaram por grandes transformações urbanas em suas áreas centrais, utilizando a arquitetura e o urbanismo como poderosas ferramentas de marketing pessoal atreladas à nomes de importantes arquitetos do star sistem da arquitetura. Centros históricos ganham novos prédios e novo desenho urbano, novos usos atraem novos empreendimentos e capitais econômicos, dando novos ares às áreas antes esquecidas ou degradadas pelo crescimento desordenado. Neste contexto, também a cidade de Vitória passa por um momento de discussão sobre questões da reurbanização de seu centro histórico, definida pela sua Prefeitura como "revitalização" e tendo como carro-chefe, o polêmico shopping do Centro.

Inicialmente entendemos sim, que o Centro de Vitória deva passar por transformações urbanas mas não de "revitalizações", pois o termo nos remete a um Centro que conceitualmente estaria morto ou degradado e que precisasse ser reavivado. Se dispusermos um pouco de nosso tempo passeando pelas principais ruas e avenidas desta região, perceberemos que na verdade ela ainda está muito viva e ativa (mesmo depois da saída dos "poderes" políticos para a região norte da cidade), com uma grande concentração de atividades comerciais, de serviços, pessoas trabalhando, comprando, entre outras coisas (3).

A questão é que, como uma tradicional cidade provinciana, Vitória vive e respira movimento durante o dia, e à noite, dorme! As pessoas vão para suas casas, outras se deslocam para outros cantos da cidade e outros ainda se mantêm notívagos. O que realmente traria uma drástica e importante transformação urbana ao Centro de Vitória seria adotarmos um conceito de "requalificar" seus espaços, agora a entendendo como uma cidade viva e dinâmica que possui necessidades, experiências, história e cultura próprias; uma reurbanização que ao mesmo tempo daria novos usos a prédios antigos, construiria outros novos sobre os que não possuíssem valor histórico para o patrimônio da cidade ou mesmo uso adequado; uma urbanização ousada baseada em um novo desenho urbano que apontasse as diretrizes para um novo centro, coabitando respeitosamente o novo com o histórico e tradicional. Ë pensar a cidade, nesta pequena parcela, como um todo e não como fragmentos que não possuem um elo de ligação forte que só um projeto de um novo desenho urbano poderia trazer.

Alguns setores de nossa sociedade, tendo à frente a Prefeitura de Vitória como a grande defensora, apontam o projeto para o novo Shopping do Centro de Vitória, batizado de CentroShopping, como um importante instrumento para a "revitalização" desta área central da cidade. Surgido durante as discussões em torno das intenções da Prefeitura Municipal de Vitória, já às voltas com a urbanização das orlas da cidade – o chamado Projeto Orla –, o Shopping caiu nas graças da Prefeitura como o elemento que faltava para alavancar a "revitalização" do centro. Localizado em um grande vazio urbano ainda existente nesta área, de frente para a Baia de Vitória e ladeado por uma grande loja de magazine (sua futura âncora), pela Igreja Batista e pela tradicional Praça Getúlio Vargas, o prédio do Shopping, levando-se aqui o mérito do seu conceito é inevitavelmente um equívoco no lugar onde se pretende implantá-lo.

Afora sua estética – ou seria a falta da mesma? (4) –, sua implantação no lote tem sérios problemas técnicos e formais: circulações que não resolvem o problema de escape do fluxo de pessoas, um deck que avança sobre a Avenida criando uma área perigosa pela constante passagem de veículos e pelo descuido que a mesma vai trazer para as visuais da Baia de Vitória, a transformação da Praça Getúlio Vargas como ponto "privilegiado" de observação da área técnica e de carga e descarga do Shopping, e outras tantas que dariam aqui fôlego para um outro texto.

Será, perguntamos nós, que uma área desta monta já no consciente coletivo de nossa cidade necessitaria ser ocupado por um Shopping? Independente de qual forma ele venha assumir, será que não caberia no lugar outros tipos de empreendimentos? Por que não um espaço público integrado com a Praça Getúlio Vargas dando-lhe um novo desenho? Por que não um outro empreendimento comercial, em menor escala mas agora integrando-se com este grande espaço público? (5) Mas antes de qualquer especulação sobre o que é melhor para o lugar, devemos entender que qualquer empreendimento para o mesmo só iria surtir efeito como "revitalizador" do Centro se estivesse atrelado a um plano maior, a um projeto urbano que definisse sua ocupação e o interligasse conceitualmente a todo o restante da cidade de forma fluida, coerente e logicamente, democrática. O conceito shopping como aqui nos é apresentado se torna equivocado principalmente por se tratar de um elemento isolado, e o que é pior, isolador, sendo um ponto focal para a cidade e não estimulando a fluidez normal de uma cidade. Engana-se ao se pensar que somente o fato de o shopping estar no local, irá trazer outros empreendimentos ou mesmo investimentos para o Centro de Vitória, como se o próprio Centro não tivesse vida própria, um público próprio que por si só já fosse suficiente para investimentos de empresários com um tino comercial. O que se deve fazer com um bom projeto de requalificação urbana é incrementar o comércio já existente no local, atraindo novos e diversificados usos, democratizar os espaços da cidade para as pessoas utilizarem o Centro e de suas oportunidades, abrir novos espaços públicos integrados com a vida comum e normal da cidade, interagir o comércio com ruas, galerias, espaços públicos, ou seja, buscar uma qualidade em espaços urbanos que se traduzam em qualidade de vida.

Por final, entendemos que o Centro de Vitória precisa de um projeto urbano ousado, coerente e viável e não perder tempo polemizando sobre um único assunto que evidentemente não trará benefícios à cidade. Se é marketing do que se precisa, faça-o com a própria cidade que tem muito a lhe oferecer.

notas

 1
DIAS, Fabiano Vieira. O Locus Arquitetônico: Uma análise do lugar na história da cidade e de sua arquitetura. Projeto de Graduação II, pg. 167-168. DAU-UFES, 1997.

2
SOLÁ-MORALES, Ignasi de. Presentes y Futuros. La arquitectura en las ciudades (texto). Catalogo do XIX Congresso da União Internacional de Arquitetos UIA Barcelona 96. Presentes y futuros. Arquitectura en las ciudades. Comitè d'Organitzaciió del Congrés UIA Barcelona 96 et. Ail., pag. 20. Barcelona, 1996.

3
Ver em especial CASTILHO, Márcio. Consumidores ainda preferem o Centro (matéria). Jornal A Gazeta, p. 07. Vitória-ES, 10/072001. Nesta matéria é apresentada uma pesquisa onde ainda se aponta o Centro de Vitória como o local de melhores opções de compra quanto a preço e acesso. Ou ainda, em mais uma recente matéria sobre o assunto: CONDE, Walter. Vida noturna reativará negócios no Centro (matéria). Jornal A Gazeta, p. 12. Vitória-ES, 29/07/2001.

4
Não queremos discutir aqui o questões estéticas que rodeiam este prédio, mas é fato que o mesmo, ao se analisar o projeto, padece de uma estética agradável, não levando em consideração em momento algum o seu entorno, se fechando em si e usando um avanço tecnicamente preocupante sobre a Av. Beira Mar, como uma tentativa (totalmente equivocada) para se criar um deck para a Baia de Vitória. Algo claramente forçado e sem nenhum êxito.

5
Uma outra proposta já apresentada por colegas nossos, seria transformar toda a região da Esplanada Capixaba bem como esta área fronteiriça à Baia em um grande Shopping ao ar livre, com as lojas interagindo com grandes espaços livres, públicos e vivos e não excludentes como um Shopping fechado em si mesmo.

sobre o autor

Fabiano Vieira Dias é arquiteto-urbanista e conselheiro do CREA-ES.

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