A partir de 1969, um grupo de pesquisadores da UnB realizou pesquisas a respeito da história da transferência da Capital, do povoamento urbano, da mobilidade intra-urbana, bem como a respeito de problemas urbanos como os ambientais, habitacionais, de transportes públicos, desemprego, e outros. Sobre o resultado das pesquisas, consultar a Coleção Brasília da UnB – uma visão ampla da urbanização no DF.
A experiência desses estudos possibilitou que urbanistas, geógrafos, economistas, arquitetos, estatísticos, sociólogos e outros, a abordagens inter e multidisciplinar abrangente do processo de urbanização. O mapa do DF resultante desse processo apresenta núcleos urbanos esparsos, pontualizados no território, pelos diversos governos, desde os anos 1960. De início, os núcleos destinavam-se ao atendimento de moradia para trabalhadores, funcionários públicos, comerciários. Os núcleos receberam a denominação de cidades-satélites. Por fim, também disseminados no território, encontram-se os condomínios, muitos deles irregulares ou ilegais por ocuparem áreas griladas antes devotadas à preservação ambiental. Pode-se afirmar, portanto, que o DF possui uma constelação urbana fixa e conjuntos com feições urbanas, os condôminos, à espera de regularização que não agrida as leis ambientais e a moralidade pública.
O quadro territorial esboçado acima não revela toda a complexidade da organização do espaço ao longo do tempo. Em fins dos anos 1950, previa-se que esse território receberia uma cidade planejada (Brasília), a partir do projeto piloto do urbanista Lúcio Costa e que as cidades-satélites seriam construídas quando o núcleo central estivesse totalmente ocupado pelos 500.000 habitantes estipulados pelo governo de Juscelino Kubitschek. Todavia, extrapolando as previsões, a imigração intensa ensejou que se alterasse a proposta inicial. Para evitar a favelização prematura da Capital, os governantes abriram espaço, em 1958, para o primeiro núcleo periférico – Taguatinga. Para essa cidade-satélite foram transferidos os milhares de trabalhadores que ocupavam as favelas próximas à Cidade Livre (Núcleo Bandeirante) e os alojados nos acampamentos das construtoras. O incremento da imigração, todavia, exigiu uma continuada ação para transferir favelados. Com isto, também continuadamente, novas satélites foram criadas: Gama, Guará, Sobradinho, Ceilândia e muitos outros, totalizando mais de 2,3 milhões de habitantes, hoje. Pensa-se em novos núcleos: Catetinho, Setor Noroeste, Setor Oeste e outros, num sem findar de loteamentos oficiais. Para além do DF, o setor privado, fez loteamentos - o Entorno – onde adotou o mesmo padrão de núcleos espalhados no território, por exemplo, Cidade Ocidental, Valparaizo, Novo Gama, Céu Azul, Pedregal, compondo funcionalmente o que se denominou de área metropolitana de Brasília (AMB).
Desta política de ocupação do espaço, resultará uma grande metrópole a ser oficializada para uma gestão interestadual. Antevemos as seguintes situações para o futuro da AMB: - continuidade da política incremental vigente, de povoamento pontual e paternalista com doação de lotes no DF e concentração dos empregos no Plano Piloto. Este modelo, perpetuando-se, levará ao congestionamento do centro e desemprego nas satélites; - uma segunda hipótese seria a da adoção do planejamento urbano, descentralização das atividades e empregos em direção às satélites. Neste modelo de gestão, as terras seriam rigorosamente controladas a partir de estratégias prevendo necessidades atuais e futuras; condomínios seriam proibidos, desconstituindo-se os que resultaram de terras griladas ou ocupadas ilegalmente. Em síntese, o governo assumiria seu papel de gestor da coisa pública e guardião da legislação urbanística e ambiental a ser respeitada.
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Artigo publicado originalmente no Jornal de Brasília, 21 abr. 2006, Caderno Brasília 46 anos, p. 37.
[Fotos do autor, registradas com máquina Isai Pentax]
sobre o autor
Aldo Paviani, pesquisador Associado/UnB.