Imbé fica a uma distância de 115 Km de Porto Alegre pela Free Way, no litoral norte do Rio Grande do Sul, com área total 39.549 Km², população de 15.856 habitantes e densidade de 400,9 hab/km, nos períodos do verão a sua população chega a ter 80.000 habitantes.
A origem do núcleo populacional de Imbé surgiu, segundo relatório da Comissão Emancipacionista, a partir da povoação da margem do Rio Tramandaí por pescadores e, por volta do século XVIII, pelas famílias de Vitoriano, Alberto José Nunes, Reduzino Costa, Manoel Ferreira da Silva, Alberto Firmino, João Norato, Honorato Barbosa, Sipiano, Olibio Gonçalves, Afonso Marinheiro e pela família Mello.
Naquela época, a situação e o curso do rio eram outros, pois, hoje, percebe-se que seu rumo mudou. Em 1871, o casal Antônio Quaresma Gomes e Maria Bernarda Lemos residiam nas terras onde hoje se localiza o novo Município de Imbé.
Em 1939 ao atravessar uma ponte de madeira que ligava Tramandaí e Imbé o corretor de imóveis Cezar Bergamash, Alfredo Rodolpho Mariath e Osvaldo Coufal formaram a Sociedade Territorial Praia do Imbé, que logo adquiriu as terras de Virgulina Lemos Mury, viúva de Jorge José Mury, e dos seus herdeiros conforme consta a certidão nº 6.277 de 04 de agosto de 1939.
Após o loteamento, alguns pescadores recorreram a ação judicial, sendo, dessa forma, assentados no outro lado do Rio Tramandaí, junto a Laguna do Armazém.
A Sociedade Territorial Praia do Imbé contrata o Engenheiro e Urbanista Ubatuba de Faria, que realiza um projeto de urbanização, implantado em Imbé. Este projeto apresenta uma peculiaridade: as ruas próximas da travessia do rio obedecem a um traçado curvilíneo.
Na última década houve uma explosão no desenvolvimento comercial, margeando as avenidas Osório e Paraguassu, bem como o surgimento de núcleos de moradores, constituindo os bairros: Imbé Barra Norte, Morada do Sol, Presidente, Ipiranga, Nordeste, Nova Nordeste, Mariluz, Mariluz Plano B, Mariluz Plano C, Mariluz Plano D, Mariluz Norte, Albatroz, Marisul, Santa Terezinha e Riviera.
Em 10 de abril de 1988, realiza-se a consulta plebiscitária em Imbé, quando a população opta pelo SIM, legitimando a emancipação de sua terra.
A cidade de Imbé, que se constitui como um exemplar do urbanismo do início do século XX, representando realizações de grande significação enquanto exemplo cujas características eram áreas residenciais circundadas por áreas verdes situadas na orla marítima do litoral norte, que nos possibilitara a investigação que será sobre crescimento desenvolvimento.
O projeto do Imbé do Engenheiro Ubatuba de Faria reflete o Diagrama de Ebenezer Howard como solução que se enquadra na cidade jardim e revela o início da ocupação moderna do litoral norte e de ser projetado como modelo urbano.
Implantado em um litoral desocupado e virgem na mais longa costa marítima linear, livre e desimpedida do mundo, a atual cidade do Imbé foi planejada como um bairro junto ao Balneário de Tramandaí, junto ao município de Osório/RS.
Seu objetivo era a exploração de áreas litorâneas para finalidade de veraneio de lazer sazonal. Com o crescimento desta prática social que está relacionada ao lazer e à habitação secundária, destinada a classe média emergente do Rio Grande do Sul na década de 30.
A rarefação da ocupação e desvalorização das áreas litorâneas associadas à decadência das atividades rurais e extrativas na região, criaram condições ideais para esta nova ocupação, em solo desvalorizado e livre para o desenvolvimento urbano e a conseqüência da especulação urbana.
Neste quadro, a atuação do Eng. Ubatuba de Faria, na cidade do Imbé caracteriza-se como um verdadeiro empreendimento imobiliário em território, portanto livres de constrangimentos físicos e econômicos.
O projeto urbano de Imbé está ligado a este momento da sociedade, entre os anos 30, passa obrigatoriamente pela ocupação do litoral norte, aliado a um promissor e nascente mercado imobiliário favorecendo ao desenvolvimento econômico e social da região.
O território em uma situação ideal para o exercício urbanístico: terra desimpedida e valor do solo baixo.
A classe média gaúcha havia começado há tempos a se intensificar e a comprar uma segunda casa, um modelo novo no litoral desde o seu início, abrindo assim um mercado imobiliário.
O projeto do Imbé funcionou como elo de desenvolvimento da região, o modelo de cidade jardim utilizado serviu de modelo para outras cidades.
O envolvimento do Eng. Ubatuba de Faria com o ensino superior onde foi professor no Curso de Arquitetura e no Curso de Urbanismo – o qual ajudou a idealizar – do Instituto de Belas Artes em Porto Alegre, aliado a sua prática profissional e aluno no Instituto de Urbanismo de Montevidéu em 1941, fizeram dele um experimentador de novas teorias de imagens e formas, com desenvolvimento de esquemas morfológicos do urbanismo com a capacidade técnica de influenciar uma nova geração de arquitetos.
O município de Imbé foi concebido no litoral norte do Rio Grande do Sul como uma cidade jardim, modelo urbano revolucionário desenvolvido no início do século XX pelo urbanista inglês Ebenezer Howard, após ter constatado que as cidades, já naquela época, estavam ficando superpovoadas e superpoluídas e que a especulação imobiliária atingia proporções assustadoras. A idéia básica da cidade jardim era a de construir cidades que unissem o que havia de melhor no campo (ar e água de qualidade, áreas verdes, produção própria dos alimentos) com o melhor da cidade (oportunidades profissionais, infra-estrutura, opções culturais).
Na década de 30, o arquiteto Ubatuba de Faria projetou Imbé aplicando este princípio, segundo o qual a cidade seria composta basicamente por lotes residenciais. As vias mais importantes foram dispostas nos sentidos norte/sul e leste/oeste. As casas seriam circundadas por área verde, e todo o projeto levava em consideração o sistema de ventos para garantir o conforto térmico, a iluminação e a ventilação.
Pelos critérios de patrimônio cultural, Imbé é um projeto urbano que produz a melhoria da vida nas cidades, visando a um futuro de relações sociais mais justas.
As questões relacionadas ao meio ambiente natural que passou completamente esquecido na questão do Plano Diretor com relação a sua flora e fauna que estão presentes no Litoral Norte no Rio Grande do Sul, que se estende por uma imensa cadeia de rotas de imigração dessas aves que vão compondo com simplicidade a natureza e que vai premiando os seus moradores e veranistas com sua fauna compondo a resposta urbana da cidade jardim como elemento integrador das questões ambientais, onde raros momentos nos levam a observar suas aves que compõe esse cenário de rara beleza e contemplação da paisagem ambiental.
As questões relacionadas ao meio ambiente natural foram ignoradas na questão do Plano Diretor com relação a sua preservação que estão presentes na cidade do Imbé conforme levantamento realizado por Enno D. Liedke F, juntamente com o CECLIMAR (Centro de Estudos, Limnológicos e Marinhos) da UFRGS, das 49 espécies de aves que habitam a região.
Imbé que tem no potencial de suas lagoas do Litoral Norte como Itapeva, Quadros, Malvas, Pinguela, Gentil, Tramandaí, Armazém e Fortaleza que se interligam por canais num cordão de quase 20 quilômetros de extensão ao longo da costa.
As margens das lagoas e do rio Tramandaí que já sentem a descaracterização por obras de retificação, muros, mansões e ajardinamentos com espécies exóticas, que vão afastando a fauna típica da região.
A professora Norma Würding Diretora do CELIMAR/UFRGS em recente entrevista ao Jornal da Universidade:
“As ameaças ao ecossistema vêm de todos os lados, e aumentam na época de veraneio: jetskis e barcos a motor provocam o desbarrancamento das margens dos canais, resolvem o fundo lodoso das lagoas,destroem a vegetação,poluem a água e perturbam os animais.Precisamos preservar esses lugares:aves aquáticas fazem seus ninhos na vegetação das margens das lagoas, e os peixes desovam nas partes rasas.Pescadores contam que,até 50 anos atrás tubarões,miraguaias e outros peixes do mar entravam nas lagoas Tramandaí e Armazém.A ausência deles é sinal de que a poluição a e as modificações introduzidas pelo homem vêm alterando o ecossistema” (1)
De acordo com a Constituição Federal de 1988, é dever de todo cidadão cuidar do patrimônio cultural do país. No âmbito governamental, esta tarefa compete à União, aos Estados e aos Municípios, responsáveis pela proteção de bens considerados de valor histórico, artístico e cultural, além de paisagens naturais notáveis e sítios arqueológicos. Imbé poderia e deveria ser preservada, pelo seu projeto original e por reconhecimento à importância do litoral norte como referência para o lazer do gaúcho. Assim, cabe ao poder público municipal promover a ordenação urbana da cidade, tendo como principal instrumento a legislação de uso e ocupação do solo.
Devemos lembrar que as nossas cidades passam pelo processo de envelhecimento e que deveremos reavaliar as novas perspectivas para o futuro, pois o Séc. XX é parte de um passado presente.
As portas do terceiro milênio ainda se encontram fechadas para o século XXI a continuidade da nossa realidade como país urbano devera ser avaliada com muita criatividade, sensibilidade e critica do pensamento onde a reflexão nos permita buscar alternativas de linguagens de urbanicidade com parceria dos segmentos sociais como instrumentos políticos, sociais, econômicos e culturais.
Num momento histórico singular, em que até a mídia local dá amplo espaço à constatação de que o crescimento econômico desordenado ameaça não só a qualidade de vida, mas a própria sobrevivência humana, é importante chamar a atenção para exemplos positivos de planejamento urbano, como este que foi construído em Imbé e que hoje está tendo sua singularidade ameaçada.
Não permitamos que uma opção equivocada comprometa o futuro de Imbé e a torne igual a todos os lugares que já perderam o se controle no seu ambiente cultural, arquitetônico e natural.
nota 1
Jornal da Universidade, ano IX, nº 95, Janeiro e Fevereiro de 2007.
bibliografia consultada
AYMONINO, C. El significado de las ciudades. Barcelona, Blume, cap 1, 1979.
ABREU, Irlane Gonçalves de. “Geografia urbana: questões sobre sua natureza e seu objeto”, In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (Ed.). Os caminhos da reflexão sobre a cidade e o urbano. São Paulo, Edusp, 1994, p. 129-136.
BACHELARD, Gaston. Col. Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1978.
BANHAM, Reyner. Teoria e Projeto na Primeira Era da Máquina. São Paulo, Editora Perspectiva, 1975.
BACZKO, Bronislau. Imaginação Social. Lisboa, Editora Portuguesa, 1985, p. 297.
BACZKO, Bronislau. Utopia. Lisboa, Editora Portuguesa, 1985, p. 333.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. São Paulo, Brasiliense, vol. 1 a 3.
BÉNEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo, Editora Perspectiva, 1976.
BRESCIANI, Maria Stella. “Permanência e ruptura no estudo das cidades”, In: FERNANDES, A.; GOMES, M. A. F. (orgs). Cidade e história: modernização das cidades brasileiras nos séculos XIX e XX. Salvador, FAU/UFBA, 1992.
BOLLE, Willi. Fisiognomia da metrópole moderna. São Paulo, EDUSP, 1994.
CABRAL, Gilberto Flores. Paradoxos de uma modernidade longínqua: Le Corbusier e o imaginário urbano corbusiano. Tese de doutorado, Pós-graduação em História, UFRGS, 2002.
CALVINO, Ítalo: As cidades invisíveis. São Paulo, Companhia das Letras, 1990.
CAMPOS FILHO, Cândido Malta. Cidades brasileiras; seu controle ou o caos: o que os cidadãos brasileiros devem fazer para a humanização das cidades. São Paulo, Ed. Nobel, 1989.
FONSECA, Pedro Cezar Dutra. RS: economia & políticos na republica Velha. Porto Alegre, Editora Mercado Aberto, 1983.
LEME, Maria Cristina da Silva (org). Urbanismo no Brasil-1895-1965. São Paulo, Studio Nobel; FAUUSP, FUPAM, 1999.
LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. São Paulo, Editora UNESP, 1998.
PALLAMIN, Vera M. (org). Cidade e Cultura: esfera pública e transformação. São Paulo, Editora Liberdade, 2002.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. O imaginário da cidade. Porto Alegre, Editora da Universidade, 1999.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. “Muito além do espaço: por uma história cultural do urbano”, In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 8, n.16, 1995, p. 279-290.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. “A geografia exclusão”, In: PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma outra cidade: o mundo dos excluídos no final do século XIX. São Paulo, Companhia editora Nacional, 2001.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. As leituras da memória: a cidade imaginária de um cronista no sul. Anos 90, Porto Alegre, v. 14, dez, 2000, p. 47-60..
RAMA, Angel. “A cidade ordenada e A cidade letrada”, In: A cidade das letras. São Paulo, Brasiliense, 1985.
RONCAYOLO, Marcel. La ciudad. Barcelona, Paidós, 1988.
ROVATTI, João Faria (org). Estudos Urbanos: Porto Alegre e seu planejamento. Porto Alegre, Ed. Universidade/ UFRGS/ Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1993.
ROVATTI, João Farias. La modernité est ailleurs: “ordre et progrès" dans l'urbanisme d'Edvaldo Pereira Paiva. Tese de doutorado, Université de Paris 8; Saint-Denis; França, 2001.
SANTOS, Carlos Nelson. A cidade como um jogo de cartas. São Paulo, Projeto, 1988.
SANTOS, Milton. A Construção do Espaço. São Paulo, Editora Nobel, 1986.
SANTOS, Milton. As cidades nos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1965.
SASSEN, Saskia. As Cidades na Economia Mundial. São Paulo, Studio Nobel, 1998.
SENNET, Richard. Carne e Pedra. Rio de Janeiro, Editora Record, 2001.
SENNET, Richard. La consciencia del ojo. Barcelona, Versal, 1990.
SCHORSKE, Carl. “A cidade segundo o pensamento europeu – de Voltaire a Spengler”, In: Espaço e Debates, n. 27, ano X, 1989.
SOARES, Leda Saraiva. Imbé: histórico, turístico. Editora Evangraf Ltda, 2.ed, 2002.
SOUZA, Célia Ferraz de (org). Imagens Urbanas: os Diversos Olhares na Formação do Imaginário Urbano. Porto Alegre, Editora da Universidade / UFRGS, 1997.
TOPALOV,Christian. “Os saberes sobre a cidade: tempos de crise?”, In: Espaço e Debates. n. 34, ano XI, 1991, p.28-37.
sites consultados
IPEA: www.ipea.gov.br
IBGE: www.ibge.gov.br
Fundação João Pinheiro: www.fjp.gov.br
FEE: www.fee.tche.br
Banco Mundial: www.worldbank.org/poverty/index.htm
sobre o autor
J. Geraldo V. Costa é Arquiteto / Coordenador do GEDURB (Gabinete de Estudos e Documentação em Urbanismo) Faculdade de Arquitetura – UFRGS.