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my city ISSN 1982-9922

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BARBOSA, Antônio Agenor. Vizinhança Invisível do Cais do Porto do Rio de Janeiro. Minha Cidade, São Paulo, ano 10, n. 109.03, Vitruvius, ago. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/10.109/1837>.


Grupo de crianças fantasiadas de Bate-Bola durante o Carnaval de Rua na Ladeira do João Homem
Foto Antônio Agenor Barbosa, 2008


Painéis do Profeta Gentileza na Área Portuária da Cidade do Rio de Janeiro
Foto Antônio Agenor Barbosa

Vista do interior do Ateliê Villa Guilhermina do artista plástico (escultor) Cláudio Aun, na Ladeira João Homem
Foto Sheila Freitas

Vista da Rua do Jogo da Bola no Morro da Conceição, Rio de Janeiro
Foto Antônio Agenor Barbosa

 

Em reportagem do Jornal O Globo (Editoria Rio - página 25), sábado, dia 13/12/2008, a Empresária Maria Ignez Barreto se declarou contra a festa de Réveillon em Ipanema e afirmou:

"A população que paga impostos caros tem que ter o direito de poder dormir em paz, de chegar em casa. Há os galpões do Cais do Porto que não têm vizinhança. Por que não fazem lá?"

Gostaria de informar à moradora de Ipanema e empresária Sra. Maria Ignez Barreto que no entorno dos galpões do Cais do Porto do Rio de Janeiro existe sim uma enorme, antiga e consolidada vizinhança.

Certamente não é uma vizinhança tão chique, refinada e elegante quanto a própria empresária e seus seletos vizinhos da Avenida Vieira Souto. E é uma vizinhança que foi, historicamente, excluída das intervenções higienistas e civilizatórias do Estado. Já entendi tudo, ou seja: Ipanema é civilizada e não merece uma festa com música barulhenta. Ipanema é Bossa Nova e o Cais do Porto é o quê?

Mas a região do Cais do Porto possui uma vizinhança que assim como a de Ipanema também "tem o direito de poder dormir em paz, de chegar em casa". E é uma vizinhança que também paga impostos como outros tantos brasileiros. E os Monges Beneditinos que residem no Mosteiro de São Bento não são considerados "vizinhança"? E os Moradores do Morro da Conceição, do Morro da Saúde, Ladeira do Livramento, Rua Sacadura Cabral e os Residentes do Hospital dos Servidores não são considerados vizinhança?

Mas, pelo teor da declaração da empresária, a área do Cais do Porto possui uma vizinhança totalmente invisível.

A região da Área Portuária da Cidade do Rio de Janeiro é composta, basicamente, por três bairros, a saber: Saúde, Gamboa e Santo Cristo e por franjas de outros bairros como o Centro da Cidade, São Cristóvão, Cidade Nova, Caju e outros. Nesta região existe a mais antiga ocupação informal da Cidade que é o outrora denominado Morro da Favela e agora conhecido como Morro da Providência. Ou isto também não é vizinhança?

Quando o Morro da Favela foi ocupado inicialmente, Ipanema sequer existia como projeto. Ali, em volta do Cais do Porto, era a Pequena África. O Cais do Porto, a Pedra do Sal e a Praça Onze era o Semba, lugar de Umbigadas e depois veio o Samba e Ipanema era o quê?

Mas, assim como no Samba de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, imortalizado na voz de João Gilberto, eu pergunto: "Pra que discutir com Madame?" Só me resta dizer que no carnaval (ou Reveillón) que vem eu também vou concorrer e o meu "Bloco de Morro vai cantar ópera."

Portanto Sra. Maria Ignez Barreto, se a senhora quer ser contra às festas no seu bairro eu acho legítimo que esteja à frente deste movimento, mas evite declarações infelizes e até discriminatórias como esta. A vizinhança do Cais do Porto é composta por gente e por seres humanos assim como a de Ipanema.

Eu tenho até medo de que esta visão seja a que vai nortear as futuras intervenções urbanísticas do Prefeito eleito do Rio nesta área onde, para as elites cariocas, não existe vizinhança.

O próprio termo e/ou conceito largamente empregado que é o da "revitalização" da área portuária me parece equivocado. Revitalizar significa trazer de volta a vitalidade. Mas, em muitas das áreas da região portuária este conceito simplesmente não se aplica pois são áreas com uma imensa, resistente e qualitativa vitalidade urbana. Só não vê quem não quer!

O Projeto Civilizatório e Higienista das elites não para nunca! Ipanema ainda brilha à noite mas o Cais do Porto é que reluz que nem ouro.

sobre o autor

Antônio Agenor Barbosa, Arquiteto e Urbanista, Professor Universitário

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