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português
O artigo de Jorge Wilheim é um protesto contra a gradual destruição da integridade do Parque Anhembi que, segundo ele, não tem seu valor artístico e cultural, motivo de eventual tombamento, devidamente reconhecido
english
The article by Jorge Wilhelm is a protest against the gradual destruction of the integrity of the Anhembi Park, which he does not have its art and cultural grounds of possible tipping duly recognized
español
El artículo de Jorge Wilheim es una protesta contra la gradual destrucción de la integridad del Parque Anhembi que, según él, no tiene valor artístico y cultural, motivo de la eventual declaración de interés especial
WILHEIM, Jorge. O Parque Anhembi e seus "puxadinhos". Minha Cidade, São Paulo, ano 10, n. 111.04, Vitruvius, out. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/10.111/1829>.
Embora o reconhecimento do valor de uma obra arquitetônica, assim como as medidas para a sua preservação e respectiva fiscalização, não caibam a seu autor, e sim às instituições públicas dedicadas a tal tarefa, penitencio-me por não ter protestado antes, de forma eficaz, pela gradual destruição da integridade do Parque Anhembi.
Durante os quarenta anos de sua vida, já que o Pavilhão de Exposições foi inaugurado em 1968 e o Palácio de Convenções, em 1971, o Parque Anhembi transformou-se de sonho idealizado por seu iniciador, Caio Alcântara Machado, em referência geográfica e cultural urbana, nacional e internacional. O seu nome, criado pelo poeta e publicitário Décio Pignatari, e o seu projeto, elaborado por meu escritório, constituem marco urbano frequentado anualmente por milhares de cidadãos brasileiros e turistas.
Menos reconhecido, no entanto, é seu valor artístico e cultural, motivo de eventual tombamento. Não cabe a mim elogiar o ambiente criado no plenário destinado a convenções, as inúmeras inovações programáticas, nem qualificar a então inovadora estrutura tridimensional do Pavilhão de Exposições. Mas fico à vontade para elogiar o feito da engenharia nacional e da firma Schwartz Hautmont, responsável pela pioneira ereção da imensa estrutura de sua cobertura (68 mil m²), construída no solo e levantada de uma só vez, por guindastes manuais, em 4 horas! Ela é, ainda hoje, a maior estrutura mundial assim erguida. De forma análoga deve-se apreciar a elegância do cálculo de concreto de Mário Franco na solução estrutural de nossa proposta para a cobertura do Palácio de Convenções, a competência da ventilação natural do pavilhão, testada em túnel de vento, da comunicação visual de Cauduro e Martino que ainda hoje, embora deturpada, se distribui pela cidade, das belas e novas luminárias de Livio Levi e da iluminação natural de todos os auditórios. Finalmente, permito-me também assinalar, neste ano em que se comemoram os cem anos de Burle Marx, seu projeto para a praça pública defronte do pavilhão e seu jardim de água e trepadeiras, parcialmente executado. Ambos hoje gravemente prejudicados.
Apesar da Resolução 26 de 2004 do Conpresp, abrindo há cinco anos o processo de tombamento, impedindo, a partir daquela data, de alterar o projeto original sem prévia e justificada autorização, sofreu o Parque Anhembi, há tempos, o desgaste tão brasileiro dos "puxadinhos", em vez de um sadio e periódico processo de atualização e planejamento de seu futuro. O primeiro "puxadinho" ocupou e destruiu toda a praça de Burle Marx com um semipavilhão (aprovado há anos com a condição de ser temporário...) imitando vulgarmente o pavilhão, a este colado de modo a esconder-lhe a fachada e a monumentalidade. A segunda alteração foi a inexplicável destruição do terraço gastronômico, antecessor, na década de 60, das praças gastronômicas dos shoppings, com a diferença de que ele se debruçava sobre bela praça.
A terceira alteração foi a ocupação pelo Sambódromo do segundo estacionamento e do plantio das árvores exigido pela lei de concessão da área ao Parque Anhembi. A quarta alteração de projeto foi a alienação da área e estrutura do hotel, previsto e projetado em conjunto com o Palácio de Convenções, à Fiesp, que pretendia lá colocar um edifício de escritórios de empresas exportadoras, intenção esdrúxula que a própria instituição jamais levou a sério. Afortunadamente, a Fiesp acabou voltando atrás e o hotel, embora diferente do projeto original, acabou sendo concluído. Porém, neste vaivém, o Anhembi perdeu para o proprietário do hotel o espaço destinado ao edifício da administração, ocupando-se hoje, para esse fim, áreas que poderiam vir a ser locadas.
Mas, apesar da resolução do Conpresp, os "puxadinhos" continuam a ameaçar a integridade do projeto: veem-se tapumes, contêineres e escavações em torno dos edifícios... O que esperam as instituições de conservação para interromper a gradual e grotesca transformação do Parque Anhembi? Aceitando-se a substituição de um dos estacionamentos pelo Sambódromo e o pequeno Teatro Elis Regina, que não afetou a volumetria original, por que não exigir uma volta ao projeto original do restante, pelo menos no que diz respeito à praça projetada por Burle Marx e à preservação dos volumes construídos e dos espaços abertos originais?
Finalmente, pode-se, naturalmente, atualizar e corrigir eventuais carências internas do projeto e adequá-lo a tecnologias novas, sendo, contudo, de praxe consultar o escritório que o elaborou. Por outro lado, o Anhembi também poderia ganhar expansões, porém não nesse terreno nem à custa da destruição de sua arquitetura. O projeto do trem de alta velocidade, ao propor instalar sua estação no Campo de Marte, propôs em seu novo uso de solo uma área de expansão do Anhembi, mediante nova construção que já obedeceria ao desenvolvimento atual dessa categoria de edifícios: modulado, como o recentemente inaugurado pavilhão de feiras de Milão. O próprio Estado e a Prefeitura, em sua contraproposta, ora sob análise e negociação, também reservam área para uma expansão do Anhembi no Campo de Marte.
Mas tudo tem limites. E a Prefeitura já realizou estudos para uma nova área, em Pirituba, destinada a exposições, congressos, hotéis e arena. Enquanto as salvaguardas da preservação legal iniciada há cinco anos não se efetivam com rigor, seria conveniente, em lugar dos imediatistas "puxadinhos", elaborar um planejamento de longo prazo daquelas atividades, admitindo que nesse setor o Anhembi não será o único e que melhor seria apostar no prestígio e qualidade dos espaços que oferece ao mercado, com respeito ao projeto construído que administram. Esta nova atitude se concretizaria desde já, demolindo-se o grande pavilhão provisório que usurpou a praça, a fim de fazer ressurgir o projeto de Burle Marx, recriando-se também o terraço gastronômico, ambos para o usufruto dos usuários e da população da zona norte.
nota
[artigo originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo, segunda-Feira, 12 out. 2009]
sobre o autor
Jorge Wilheim é arquiteto e urbanista