In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.
português
O autor João Paulo Grasso fala sobre os esforços recentes para a revitalização da cidade do Rio de Janeiro e critica alguns de seus aspectos, como a questão econômica envolvida nesse processo
GRASSO, José Paulo. O Rio de Janeiro e os investimentos para a sua revitalização. Minha Cidade, São Paulo, ano 12, n. 141.01, Vitruvius, abr. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/12.141/4289>.
“O Rio [...] é extraordinário. Aqui perto mesmo, na Oswaldo Cruz, há uma escola construída em 1902, um senhor prédio, com janelões. Pensavam em formar um povo. Fomos a capital, todo mundo de valor veio para cá. [...] Perdemos essa centralidade, mas temos que fazer força para voltar a ser o tambor do país. Por que? Ora, porque podemos.”
Alberto Dines, escritor, jornalista e editor do Observatório da Imprensa
Há algum tempo existia um consenso de que os problemas socioeconômicos do Rio eram consequência direta de décadas de governos de oposição ao governo federal. Pois bem, há cerca de seis anos, a sociedade elegeu um governador e apoiou seu indicado a prefeito para que os poderes estaduais e municipais trabalhassem afinados com a união. Assim a “Cidade Maravilhosa” abiscoitou os mais midiáticos eventos mundiais consecutivamente até 2016, seus investimentos bilionários em diversos setores e ainda conseguiu uma oportunidade única de se repensar, levando desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental a todo o Rio, incluindo as favelas, subúrbios, periferia e interior do estado, através da tão sonhada revitalização da área portuária, a razão da existência do Rio.
Sua localização central, oferecendo diversidade de serviços públicos, transporte modal, atrativos históricos, culturais e ambientais, além da privilegiada visão da Baia de Guanabara, ensejou o desejo de revitalizar a economia do RJ, como outras sociedades que tinham problemas iguais ou piores do que os nossos, conseguiram. Porém, esta união dos poderes instituídos revelou que não há vontade política nas nossas lideranças, acomodadas, em implantar um modelo que leva economias em crise a um desenvolvimento comprovado: planejamento de curto, médio e logo prazos, com metas factíveis amarradas por uma sólida âncora que proporcione ganhos na qualidade de vida em todos os sentidos. Ao invés disso, o que estamos assistindo é a uma imoral aliança entre dezenove partidos para partilhar secretarias, anulando a oposição para lucrarem com os investimentos bilionários que se concretizarão até 2016, que são desperdiçados em projetos condenados pela população e que, inegavelmente, não trarão retorno.
Isso revela total desrespeito ao contribuinte, que jamais terá uma qualidade de vida satisfatória, configurando um ataque ao patrimônio público. Para piorar, não há um desenvolvimento sustentável dos dois dos principais pilares da economia de uma megalópole que são a construção civil e a indústria predial e sim uma desmesurada especulação imobiliária tentando aproveitar o boom de eventos internacionais e que, como é notório, está próxima de uma quebradeira em série. Sem contar a total falência dos serviços públicos e privados que, inacreditavelmente, pioram a cada ano e que ostentam os piores índices do Brasil em todos os aspectos, o que provoca um custo social que atirará o Rio pós-2016 num cenário sombrio.
Tomemos como exemplo o Estádio do Maracanã, que já foi considerado o maior estádio do mundo e era o orgulho da população. Nos últimos seis anos foram gastos recursos públicos em reformas inexplicáveis e consecutivas que até a Copa de 2014 dilapidarão cerca de R$ 1,5 bilhão para que tenhamos um estádio padrão Fifa, que internacionalmente custa menos de R$ 350 milhões. Claro que nesta conta ainda não entrou o custo do que será gasto obrigatoriamente nos arredores para atender a protocolos assinados para a Copa, para que nos grandes jogos não aconteçam os transtornos habituais que transformam uma partida de futebol num problema de logística que atrapalha toda a cidade.
O povo será, assim, definitivamente expulso desse moderno estádio, destinado a um esporte dito popular, para que tenhamos, à revelia, um legítimo elefante branco, altamente deficitário, que jamais pagará sequer sua caríssima manutenção, mas que será licitado para que algum grupo amigo possa administrá-lo e faturar o seu, sem que haja qualquer preocupação com o retorno do investimento público bilionário, como foi com o Estádio do Engenhão.
Mesmo depois dos erros cometidos no Pan Americano, absurdamente jamais se cogitou que um investimento dessa dimensão traga retorno e qualidade de vida ao Rio, já que existem modelos como as modernas arenas esportivas americanas, que além de serem completamente autossustentáveis, ainda apresentam um entorno que dialoga com a cidade e privilegia a qualidade de vida não impondo transtornos onde estão instaladas, muito pelo contrário, são fontes de receitas vitais da administração local, o que é primordial para uma administração pública.
Os mesmos deslizes do Pan, que foram tão criticados pelos atuais dirigentes em suas campanhas, estão sendo repetidos com requintes de deboche. O legado que ficará será um rombo bilionário que será cobrado no pós-2016, junto com a vergonha de termos perdido uma oportunidade única de nos reinventarmos por total soberba administrativa.
Como a sociedade suporta governantes que não tem o menor comprometimento com o futuro e a qualidade de vida de uma cidade que, se bem planejada, será a vanguarda mundial tal a beleza natural que nos privilegia? Até quando a maior vocação natural do mundo para o turismo será destruída de forma irresponsável por administrantes que, supõe-se, estão enriquecendo de maneira incompatível com seus rendimentos? O Rio não pode permitir isso!
sobre o autor
José Paulo Grasso é engenheiro e coordenador do Acorda Rio.