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my city ISSN 1982-9922

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Hoje em dia, a solidariedade coletiva foi sendo posta de lado por contradizer o espírito de competitividade que fez com que a acumulação de riquezas e de bens de consumo se tornasse o principal parâmetro de avaliação da hierarquia social.

how to quote

JANOT, Luiz Fernando. O Rio que queremos construir. Minha Cidade, São Paulo, ano 12, n. 141.05, Vitruvius, abr. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/12.141/4294>.


Pão de Açúcar, Rio de Janeiro
Foto Cyro A. Silva [Wikimedia Commons]


 

Os avanços da ciência e da tecnologia contribuíram para o ser humano recuperar o papel de protagonista da história que lhe havia sido negado em épocas de obscurantismo político e religioso. Utilizando a razão como instrumento para responder aos desafios da sociedade moderna, a humanidade imaginava que, diante de tantas certezas, nada poderia dar errado. Mas, não foi bem isso o que aconteceu. Os grandes conflitos ideológicos, instrumentados por verdades irrefutáveis e absolutismos diversos, contribuíram para acirrar os ânimos e provocar guerras e outras calamidades. Enquanto algumas nações permaneciam subjugadas pela força militar, outras se empenhavam em libertar-se das amarras colonialistas. O mundo vivia, no século passado, uma permanente inquietude política e intelectual. Os radicalismos, de diferentes matizes, alimentavam discussões acaloradas onde cada grupo tentava fazer valer as suas verdades absolutas. Esses momentos instigantes perderam a efervescência a partir dos anos 90, quando uma apatia intelectual generalizada começou a delinear um novo perfil na sociedade. As mentes brilhantes que ajudaram a construir, em outras épocas, o pensamento racionalista ocidental já não conseguiam sensibilizar a sociedade arrebatada pelo hedonismo material e pelo pragmatismo econômico do mundo contemporâneo.

Nesse cenário, a solidariedade coletiva foi sendo posta de lado por contradizer o espírito de competitividade que fez com que a acumulação de riquezas e de bens de consumo se tornasse o principal parâmetro de avaliação da hierarquia social. A casa mais luxuosa, o automóvel mais caro, o iate mais sofisticado ou o helicóptero mais veloz, além das suas próprias funções, se transformaram em signos valiosos para diferenciar, entre si, os possuidores desses bens de consumo. Essa delirante competição, inicialmente restrita a banqueiros, investidores financeiros e prósperos empresários, atualmente agrega, também, os bem sucedidos jogadores de futebol, alguns cantores sertanejos, famosos apresentadores de programas de televisão e – como não poderia deixar de ser - os não menos importantes corruptos e corruptores que se beneficiam das falcatruas institucionalizadas.

Por outro lado, mas no mesmo diapasão, desponta a exaltação dramática dos fundamentalismos religiosos, impregnados de dogmas e de verdades absolutas, tentando explicar o inexplicável através de princípios obscuros e questionáveis. Esse comportamento, beirando o fanatismo, restringe o diálogo, a aproximação e o convívio entre diferentes grupos étnicos. Na Europa, tal fenômeno gerou um difícil convívio entre os cidadãos locais e os imigrantes que deixaram as condições precárias dos seus países – geralmente, antigas colônias - para tentar a vida nas grandes capitais europeias. A profunda diferença cultural entre os antigos povos colonizados e os seus colonizadores estabeleceu uma relação preconceituosa, de parte a parte, que se evidencia pela arrogância explícita dos europeus e pelo sectarismo radical da população imigrante.

No Brasil, esse tipo de conflito social se evidencia através do perverso contraste entre a riqueza exibicionista de poucos e a pobreza humilhante de muitos. Este ano, no Rio de Janeiro, durante a realização da “Cúpula dos Povos”, um evento paralelo à “Conferência da Organização das Nações Unidas RIO+20”, haverá uma rara oportunidade para se questionar certas verdades consideradas irreversíveis. Inclusive, o atual modelo de desenvolvimento global que cria espaços excludentes, que condena jovens ao desemprego e idosos a uma aposentadoria miserável, que destrói a natureza e o futuro das sociedades, que alimenta e protege um sistema financeiro viciado em falcatruas e que condena cerca de um bilhão de pessoas à miséria absoluta. Trata-se de um paradigma econômico que está longe de oferecer soluções para os graves problemas do mundo contemporâneo.

Contestar essa e outras verdades absolutas é parte indissociável do espírito renovador da humanidade. Relativizá-la parece ser o meio mais eficaz para desconstruí-la, isto é, decifrar a sua essência e contestá-la. A partir dessa perspectiva, se espera fomentar uma política universal sustentável que estabeleça meios para mobilizar a sociedade, individualmente e coletivamente, para construir uma ordem social mais justa e solidária. As cidades bem sucedidas no século XXI serão aquelas que agregarem, em seus espaços urbanos, ambientes coletivos agradáveis, acolhedores e acessíveis a todos, sem distinção de raça e de classe social. Esse projeto tem tudo a ver com o Rio que queremos construir.

nota

NE
Publicação original: JANOT, Luiz Fernando. Cidades espetaculosas. O Globo, Rio de Janeiro, 25 fev. 2012.

sobre o autor

Luiz Fernando Janot, arquiteto urbanista, professor da FAU UFRJ.

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