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Participação dos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie em oficinas de habitação na periferia de São Paulo.
ALVIM, Angélica Benatti; CASTRO, Luiz Guilherme Rivera de. Aproximando teorias e práticas. A participação da FAU Mackenzie na Jornada da Habitação – SP Calling. Minha Cidade, São Paulo, ano 12, n. 142.02, Vitruvius, abr. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/12.142/4334>.
A formação de profissionais que atuam com o projeto em suas diversas escalas, com alto nível de qualificação técnica, cientifica, e profissional, combina-se ao crescente entendimento dos múltiplos campos disciplinares que conformam a realidade da cidade contemporânea, entendida como o lugar da diversidade, do encontro e de criação de novas possibilidades sociais, econômicas, culturais.
É desafio atual para as escolas de Arquitetura e Urbanismo disseminar a atuação crítica articulando teorias e práticas, integrando-se em processos socioculturais que produzem a arquitetura e a cidade.
Os cursos de Graduação em Arquitetura e Urbanismo e o Programa de Pós-Graduação "Stricto Sensu" em Arquitetura e Urbanismo, da FAU Mackenzie, vêm procurando configurar-se como um espaço de formação privilegiado para a educação, capacitação e aprimoramento de profissionais e pesquisadores que buscam aliar a prática à reflexão teórica e contribuir para a produção de conhecimento sobre o projeto e por meio do projeto em suas diversas escalas, aspecto essencial na formação do arquiteto urbanista. O desafio implica inúmeras dificuldades a superar, visto que as transformações em curso são rápidas, profundas e carregadas de incertezas, escapando-nos frequentemente suas múltiplas dimensões.
É com este propósito que alguns professores de disciplinas de Urbanismo/ Planejamento Urbano e de Projeto em conjunto com alunos da Graduação e da Pós – Graduação FAU Mackenzie aceitaram participar ativamente da “1ª Jornada da Habitação – São Paulo Calling”.
O evento, uma iniciativa da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo – Sehab, particularmente da equipe da arquiteta Elisabete França, contando com a curadoria do arquiteto italiano Stefano Boeri, atual editor da revista Abitare e professor da Faculdade de Arquitetura do Politécnico de Milão onde coordena o laboratório Multiplicity (1), constitui-se em uma experiência inovadora.
Trata-se de um evento itinerante que vem percorrendo, entre janeiro e junho de 2012, seis localidades do município de São Paulo, que, desde os anos de 1980, são alvos de intervenções – pontuais e/ ou mais amplas – mas que ainda apresentam importantes problemas e carências a serem superados.
As áreas escolhidas manifestam níveis distintos de precariedade: cinco assentamentos localizados em áreas periféricas, e os cortiços na Área Central, a saber: 1) São Francisco, na Zona Leste, considerado o 3º maior assentamento informal da cidade, foi objeto de discussão em janeiro; 2) Paraisópolis, no Sudoeste, hoje considerada a maior favela da cidade (Censo do IBGE, 2010), que foi estudada no início de março; 3) Cantinho do Céu, loteamento informal localizado no Grajaú, Zona Sul, junto ao reservatório Billings, localidade estudada no final de março; 4) Bamburral, assentamento localizado na Serra da Cantareira, zona Norte, que receberá o evento em 12 de maio; 5) Heliópolis no Sudeste, junto ao limite do município de São Caetano, segundo maior assentamento precário do município e que será objeto de discussões em 26 de maio; 6) Cortiços na área central, tema a ser discutido no final de junho, finalizando o evento e ampliando a discussão para outra modalidade de habitação precária.
O debate proposto pela Sehab em parceria com Boeri é “discutir as características, as diferenças, as causas dos assentamentos precários e os caminho para a ação política e urbanística a partir da experiência de São Paulo em confronto com as políticas públicas” e ações desenvolvidas em cidades que enfrentam problemas semelhantes, entre as quais as seis cidades escolhidas para participar do evento: Bagdá, Medelín, Moscou, Mumbai, Nairóbi e Roma (2). Os temas propostos são debatidos por políticos, técnicos, acadêmicos provenientes de instituições públicas, de ensino e de pesquisa, de escritórios autônomos, além dos lideres e representantes das comunidades.
O evento conta com palestras e exposições em mídias digitais de projetos e ações em curso tanto as realizadas em São Paulo pela Secretaria de habitação quanto nas outras seis cidades, feiras de comidas típicas e caseiras, de artesanatos, além de eventos culturais e esportivos realizados com o envolvimento da população.
A cada Jornada, um grupo de convidados estrangeiros dessas localidades vem a São Paulo e participam de formas distintas nos eventos: por meio de palestras e discussões sobre o tema, no âmbito das diversas oficinas, ou mesmo realizando estudos, ações e ensaios fotográficos nas comunidades. Para além das experiências que os visitantes nos trazem, o fato é, que todos os envolvidos – estudantes, técnicos, políticos e convidados estrangeiros – vêm aprendendo muito com cada realidade e com as comunidades que conhecem.
A participação da FAU Mackenzie vem se dando por meio de Oficinas de Projeto que envolve diretamente cerca de 35 alunos de Graduação coordenados pelos professores Angélica Benatti Alvim, Denise Antonucci, Luiz Guilherme Castro, Maria Augusta Pisani e Paula R. Jorge em parceria com as arquitetas Eliene Coelho, Maria Teresa Dinis e Vanessa Padiá (mestranda do PPPGAU- FAUUPM) da Sehab. Além disso, contamos com a essencial contribuição das doutorandas Débora Sanchez e Silvia Vitale, da mestranda Ligia Oliveira, do graduando Hebert Puzzi e de arquitetos que possuem experiências de projeto com destaque para Viviane Manzione Rubio (ex-mestranda PPGAU FAUUPM) e Marcos Boldarini.
As oficinas vêm procurando discutir, a partir de alguns temas específicos definidos para cada assentamento, a melhoria das condições de urbanidade por meio da implementação da acessibilidade, de espaços e equipamentos públicos, densidades e mescla de usos.
Consideramos que as ações e as discussões desenvolvidas nessas oficinas são de grande relevância para a formação de arquitetos e urbanistas, na medida em que na atualidade 11,4 milhões de brasileiros vivem em assentamentos classificados como subnormais, segundo dados do Censo de 2010 do IBGE. Apenas na cidade São Paulo o número de pessoas que vivem em assentamentos precários (incluindo formas distintas de precariedade para além dos assentamentos subnormais da classificação do IBGE) aproxima-se de 3,4 milhões, segundo dados do Habisp (3).
Os assentamentos precários são parte da cidade contemporânea e os projetos habitacionais, de urbanização e de provisão de infraestruturas e equipamentos públicos constituem-se como ferramenta para a melhoria das condições de vida dos seus habitantes, ampliando as oportunidades e as possibilidades de acesso às melhores condições de urbanidade e de vida que a cidade pode oferecer.
O principal mérito dessa iniciativa está em ampliar a escala e o alcance do debate acerca dos projetos de urbanização de assentamentos precários, colocando-os como instrumentos de ação que ultrapassam os limites de intervenções pontuais sejam de desenho urbano, de provisão de habitação, infraestruturas e serviços, ou de recuperação ambiental. Tal abordagem necessariamente ultrapassa também os limites temporais a que se encontram sujeitas as administrações públicas, estabelecendo campos de ação que devem ter continuidade em governos sucessivos. Remetem também à necessidade de planos de ação que integrem os diferentes órgãos públicos, articulando diferentes níveis de governo e secretarias. Assim, torna-se possível ampliar o olhar sobre tais realidades, reconhecendo ao mesmo tempo suas singularidades e sua multiplicidade, bem como os esforços, a produtividade e a criatividade de seus habitantes na construção do habitar e do direito à cidade, com todas as suas possibilidades. Neste contexto, o entendimento das preexistências – não apenas no sentido arquitetônico, mas também das condições de vida e das aspirações das pessoas que ali residem – e o reconhecimento do potencial de cada realidade são condições essenciais para legitimar e validar as propostas, os dispositivos e as intervenções imaginadas e expressas nos projetos.
Para nós, estudantes e professores, a participação na Jornada da Habitação tem sido uma excelente oportunidade de aprofundarmos a discussão contemporânea relativa à qualificação e à integração dos assentamentos precários à urbanidade contemporânea, para além da produção de dispositivos – que são também arquitetônicos e urbanísticos – que reforçam a anticidade, para usar a expressão cara a Stefano Boeri, ou seja, os processos de fragmentação, isolamento e dissipação presentes na urbanização contemporânea. A ênfase está no potencial desenvolvimento de estudos de políticas e projetos de intervenção vinculados ao conhecimento das preexistências, dos processos e das práticas sociais, com vistas à inclusão socioespacial das comunidades carentes do município de São Paulo.
Esperamos que os saberes adquiridos e os conhecimentos produzidos a partir deste intercâmbio contribuam para o fortalecimento do ensino, da pesquisa e da extensão nos cursos de Graduação e Pós-Graduação de nossa escola, bem como produzam subsídios úteis à comunidade e ao poder público.
nota
1
Laboratório Multiplicity <www.multiplicity.it>.
2
YURI, Débora; PALHARES, Marcos. Jornada da Habitação faz intercâmbio entre São Paulo e seis cidades de outros países. São Paulo, Secretaria da Habitação/Prefeitura de São Paulo, 03 fev. 2012 <www.habisp.inf.br/pagina/b54h15_jornada-da-habitacao-faz-intercambio-entre-sao-paulo-e-seis-cidades>.
3
Portal Habisp, Secretaria da Habitação/Prefeitura de São Paulo <www.habisp.inf.br>.
sobre os autores
Angélica Benatti Alvim é arquiteta, doutora pela FAU USP, e ministra disciplinas de planejamento Urbano desde 1991 no curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo e desde 2005 na pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU Mackenzie, onde atualmente exerce o cargo de coordenadora.
Luiz Guilherme Rivera de Castro é arquiteto, doutor pela FAU USP, e ministra disciplinas de planejamento Urbano desde 1990 no curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, onde atualmente é o coordenador do Eixo Temático de Urbanismo.