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português
O artigo analisa os prováveis cenários para solução do impasse do Museu do Índio, e imagina cenários desvinculados a disputa politica e ideológica, estruturados fundamentalmente na compreensão da importância do projeto urbano
FONTES, Adriana Sansão; BUENO, Raul . Antigo Museu do Índio: muito impasse e pouco projeto. Minha Cidade, São Paulo, ano 13, n. 150.03, Vitruvius, jan. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/13.150/4638>.
Em meio à polarização sobre o destino do antigo Museu do Índio, onde nos vemos no centro de um duelo entre os que desejam a demolição do edifício para a “construção de um estacionamento” (sic), e os que pedem pelo seu tombamento e pela manutenção do uso ligado ao tema indígena, gostaríamos de, brevemente, defender uma terceira via, baseada no argumento principal de que devemos centrar a discussão em um projeto para o lugar.
O antigo Museu do Índio foi criado em 1953 no bairro do Maracanã, ficando lá por 25 anos, quando, em 1978, foi transferido para um casarão de Botafogo, onde permanece há quase 35 anos. Não somos de visão radicalmente preservacionista. Muitos edifícios do Rio de Janeiro provavelmente não fariam muita falta, e embelezariam a cidade caso fossem demolidos. Outros, por seu valor arquitetônico excepcional, deveriam ser tombados. O edifício do antigo Museu do Índio não se encaixa em nenhum desses dois casos. Não reconhecemos no edifício em questão grande valor histórico, mas, ao mesmo tempo, não se trata de um exemplar que mereça demolição. Sabemos que o tombamento congela o imóvel, impondo restrições que, por muitas vezes, impedem sua utilização para muitos programas arquitetônicos com alguma flexibilidade. Por outro lado, construir estacionamentos não deveria servir de argumento para nenhuma intervenção radical no espaço urbano.
Assim, baseando-se nestes argumentos, o que deverá definir o futuro do local são os prós e contras de seu próprio projeto, e não questões ideológicas que transformam o desfecho em um impasse.
O fato agravador para a análise da qualidade do projeto é que carecemos de maior transparência sobre o que realmente se pensa para a área. Alguém teve acesso ao projeto final pensado para o lugar do museu? Tudo o que apareceu na mídia, até o presente momento, não passa de imagens indefinidas e difusas do novo Maracanã e seu entorno.
Existem alguns cenários possíveis. Dois deles são os discutidos nos últimos meses, e que estamos dispostos a problematizar:
1. O edifício é demolido e em seu lugar surgem cerca de quarenta e cinco vagas de automóveis (o edifício de valor histórico tem cerca de 900m², e cada vaga mais a área de circulação equivalem a 22m²), demais áreas de estacionamento (o restante do terreno e os edifícios sem valor demolidos) e de escoamento de público para o estádio, “atendendo às exigências da FIFA” e “outros interesses obscuros do governo”.
2. O edifício é tombado, e esperamos sua restauração e a definição do uso futuro, provavelmente ligado aos indígenas, como, por exemplo, a Universidade do Índio (torcendo para que realmente algo aconteça e não permaneça a ruína indefinidamente ocupada por um acampamento indígena).
Outros cenários seriam possibilidades que fogem da polarização estacionamento versus tombamento, e cujo custo-benefício está relacionado à qualidade do projeto futuro. Destacaremos três:
3. Caso realmente seja necessário liberar a área de edificações, o edifício é demolido para a execução de um projeto urbano e paisagístico abrangente para o entorno, criando áreas livres qualificadas e espaços exclusivos para pedestres, que atendam tanto às exigências técnicas da FIFA, quanto contribuam com novas paisagens e sirvam à população, priorizando as áreas de convivência e não o transporte individual.
4. O edifício é demolido, mas é mantida alguma referência à sua presença no local, como, por exemplo, o volume do torreão, integrado ao projeto urbano e paisagístico, que segue os mesmos critérios contemporâneos e sustentáveis comentados acima.
5. O edifício é mantido sem tombamento, é revitalizado através de uma intervenção contemporânea, e integrado ao novo projeto urbano e paisagístico, acomodando algum uso complementar às atividades esportivas durante o período da Copa e dos Jogos, podendo ser revertido a outro uso no futuro. Um exemplo já sugerido (1) é a transferência da Escola Municipal Freidenreich (outra polêmica envolvendo as obras do Maracanã) para o local.
Todas as alternativas acima, se é necessário mencionar, deveriam ser conduzidas idealmente através de concursos de arquitetura.
É notável, e positivo, o grande envolvimento da sociedade em respeito ao tema, no entanto, pouco tem sido discutido sobre o projeto urbano em si e suas possibilidades infinitas, resultando o episódio em uma briga ideológica e partidária que deixa a arquitetura e o urbanismo, mais uma vez, em segundo plano.
nota
1
Proposta da arquiteta Julie Porto.
sobre os autores
Adriana Sansão é Arquiteta e Urbanista, Doutora em Urbanismo pelo PROURB-FAU/UFRJ, Professora Adjunta da FAU/UFRJ.
Raul Bueno é Arquiteto e Urbanista, Mestrando em Urbanismo pelo PROURB-FAU/UFRJ, Professor Auxiliar da PUC-Rio.