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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Breve reflexão sobre as medidas de segurança implantadas pela Prefeitura de Belo Horizonte para minimizar os riscos no período de chuvas fortes.

english
Brief reflection on the security measures implemented by the Municipality of Belo Horizonte to minimize risks during the heavy rains.

español
Breve reflexión sobre las medidas de seguridad implementadas por la Municipalidad de Belo Horizonte para reducir al mínimo los riesgos durante las fuertes lluvias.

how to quote

OLIVEIRA, Carlos Alberto. Horizonte submerso. Minha Cidade, São Paulo, ano 13, n. 151.01, Vitruvius, fev. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/13.151/4665>.


Enchentes em Belo Horizonte
foto Carlos Alberto Oliveira


Todas as áreas urbanizadas do país entram em estado de alerta no período de chuvas. O risco de inundações possui variação enorme de cidade para cidade, mas com o aumento das populações urbanas, da verticalização e da impermeabilização do solo sem planejamento, tais riscos devem sempre ser considerados. Nas próximas linhas pretendo apresentar uma breve reflexão sobre a tensão que cidadãos de Belo Horizonte estão vivendo no período de chuvas e a falta de sensibilidade dos órgãos públicos, sobretudo da prefeitura da Capital.

Em Belo Horizonte a preocupação com o período de chuvas tem sido levada muito a sério pela população, tanto por pobres habitantes de áreas de risco, quanto pelas classes B e A. No entanto, parece estar sendo menosprezada pelos poderes públicos municipal e estadual. Na capital de Minas Gerais, terra onde “Linha Verde” e “Boulevard Arrudas” sepultaram córregos e ribeirões para ampliar as vias públicas em favorecimento do tráfego de automóveis, a memória das enchentes de 1923, 1977, 1979, 1983, 1997, 2003 parece ter sido afogada e levada pelas águas (1).

Os supostos investimentos subsequentes aos danos materiais podem ser mensurados. Mas a vida e o pânico que persistem são incontáveis. Segundo informações da prefeitura de Belo Horizonte, foram criados núcleos de alerta de chuvas e implantada uma rede de monitoramento, com 27 estações fluviométricas, 11 estações pluviométricas e 4 estações climatológicas. Fato é que a grande solução proposta pela prefeitura no final de 2008 foi a instalação de mais de mil placas, em 82 locais sujeitos a inundação.   

Locais estes que, aliás, estão mencionados na Carta de Inundação de Belo Horizonte (2), que apontou 82 manchas na cidade. O documento é um instrumento elaborado com base em estudos de modelagem hidrológica e hidráulica que permitiram maior conhecimento das bacias hidrográficas da cidade para facilitar a identificação de trechos críticos ou sujeitos às ocorrências de inundações.

Administração pública subvertida ou administradores subversivos?

A realidade que tem sido cruel com moradores da capital de Minas também tem sido dura com as verdades criadas pela prefeitura e pelo governo do Estado. Em uma cidade pouco inclinada ao acesso democrático, no senso mais comum do termo, prefeito e governador são cegos, surdos e mudos. Em entrevista coletiva recente, o prefeito Márcio Lacerda surpreendeu os cidadãos ao tratar do problema das inundações na cidade. Segundo o prefeito, a população seria responsável pelos próprios riscos em áreas de inundação. Sem perder a seriedade, apesar de parecer piada de mal gosto, ele sentencia o que entende por administração pública nas seguintes palavras: “Nós devíamos ter sido um pouco mais babás do cidadão”. Cabe lembrar que o local da entrevista coletiva no dia 16 de novembro foi justamente o local onde uma pessoa foi morta por causa da chuva um dia antes, 15 de novembro.

É comum e igualmente importante nos perguntarmos sobre qual a cidade que queremos viver, qual a cidade queremos para nossos filhos. Desses fatos anuais, que se juntam a outros como despejos, verticalização desordenada, sucateamento do transporte público, devemos levantar questões sobre qual tipo de gestão nós realmente precisamos. Se uma prefeitura com orçamento de investimento que beira os 10 milhões de reais acha que zelar pela segurança e conforto do cidadão é ter que ser “babá”, algo está muito errado.

Errado e anômalo, deve ser dito. Logo após sua infeliz declaração sobre ser babá dos cidadãos, o sr. Marcio Lacerda é presenteado com a medalha de honra ao mérito da Defesa Civil de Belo Horizonte (3) fazendo muitos dos que sofrem com a insegurança em períodos de chuva sentirem-se em uma outra dimensão que não aquela dos discursos e declarações fantasiosos de que vivemos na melhor capital e no melhor estado do país.

Outro aspecto gritante é a inserção dos interesses privados na capital sobre os interesses públicos. Os mega-contratos com empreiteiras – grandes financiadoras de campanha política em Minas e no Brasil – definem a agenda de investimentos em tempos de copa do mundo. O bem estar social não é parte da concepção de administradores e gestores públicos, e agrava-se no trato da cidade como empresa, dos cidadãos como clientes. A cidade é quase reinventada e redefinida com obras em grandes vias públicas e reforma de estádios. Para se ter idéia, a mesma gestão que reformou a avenida Cristiano Machado, que liga o centro ao lado norte da cidade está implementando um novo projeto para instalação do questionável BRT.

Evite morar em Belo Horizonte em caso de chuva forte 

Ao sair da minha casa na região leste e ir em direção ao centro da cidade eu vejo cinco das mais de mil placas instaladas pela prefeitura. É um trajeto curto, mas principal para evacuação da região. Assim como em outras regiões da cidade que estão em situações piores que a minha, se você precisar de uma ambulância ou de um serviço policial em dias de chuva, esqueça. Vivenciar tais níveis de tensão e estresse em épocas de elevada precipitação pluvial é uma dose de realidade que pode nos ajudar a emergir de um mar de publicidade milionária que intoxica e nos lobotomiza. Pode ser um acordar para o que não temos – a melhor gestão pública do país – e para o que não somos – o estado com melhor infra-estrutura urbana, saúde, educação e segurança. Com a instalação de placas selamos o maior programa de prevenção que a cidade já teve. Mas como se não bastasse, agora teremos a instalação alto-falantes em áreas críticas para avisar a população do risco de morte que é viver em Belo Horizonte. Estou cada vez mais certo de que a piada que circula nas redes sociais pode ser levada a sério: “Evite morar em Belo Horizonte em caso de chuva forte”

notas

1
WERNECK, Gustavo. BH das 200 enchentes. Estado de Minas, Belo Horizonte, fev 2012. Disponível em http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/01/07/interna_gerais,271132/a-bh-das-200-enchentes.shtml. Acesso em 03/12/2012.

2
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Carta de inundações de Belo Horizonte. Disponível em http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=sudecap&tax=17792&lang=pt_BR&pg=5581&taxp=0&. Acesso em 03/12/2012.

3
ARANTES, Larissa. Marcio Lacerda recebe Medalha de honra ao mérito pela defesa civil. O tempo, Belo Horizonte, nov 2012. Disponível em http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=367972. Acesso em 03/12/2012.

sobre o autor

Carlos Alberto Oliveira é historiador, doutorando em História pela Universidade Estadual de Campinas na linha Cultura, Cidade e Patrimônio.

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