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Nos anos 1940 e 1950, arquitetos e artistas – Carlos Leão, Aldary Toledo, Irmãos Roberto, Francisco Bolonha, Portinari, Djanira, Emeric Marcier, Anísio Medeiros, Bruno Giorgi, Jan Zach, Burle Marx e Tenreiro – deixaram um legado moderno em Cataguases.
KROPF, Elisabete. Arquitetura, turismo, sustentabilidade. Minha Cidade, São Paulo, ano 15, n. 172.01, Vitruvius, nov. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/15.172/5336>.
Cataguases obteve destaque nacional por suas manifestações culturais no século 20. A literatura do grupo modernista Verde, o ciclo de cinema de Humberto Mauro, Pedro Comello e Eva Nil, ambos na década de 1920; e a fase da arquitetura modernista, a partir da década de 1940, realizada em sua maioria pela primeira geração de modernistas do Rio de Janeiro.
Pode-se dizer que o marco inicial da arquitetura moderna em Cataguases é a encomenda, por Francisco Inácio Peixoto – um dos integrantes do grupo literário Verde e idealizador da Cataguases moderna – de sua residência, seguida pela construção do Colégio Cataguases, ambos projetos de Oscar Niemeyer.
A partir de então se desenvolvem inúmeros outros projetos que a elite e a classe média cataguasense encomenda aos renomados arquitetos que atuavam no Rio de Janeiro e representavam a vanguarda da arquitetura brasileira naquele momento. São nomes como Carlos Leão, Aldary Toledo, Irmãos Roberto, Francisco Bolonha, entre outros.
Junto aos arquitetos agregaram-se os artistas plásticos, paisagistas e designers de móveis do período: Cândido Portinari, Djanira, Emeric Marcier, Anísio Medeiros, Bruno Giorgi, Jan Zach, Burle Marx, Joaquim Tenreiro. Além do acervo de obras de artes integradas como: painéis, esculturas e imóveis adornados com um considerável acervo artístico. A partir da década de 1960 destaca-se o arquiteto, morador da cidade, Luzimar Goés Telles com a maior produção de obras modernas de Cataguases.
Um dos motivos destas manifestações chamarem atenção no cenário nacional é o fato de elas terem se desenvolvido numa cidade do interior de Minas Gerais, longe dos grandes centros urbanos do país. Além disso, nessa época a cidade contava com aproximadamente 20 mil habitantes e as condições de transporte e comunicação não eram tão fáceis como nos dias atuais. Ainda assim, essas manifestações se deram quase que simultaneamente às vanguardas dos grandes centros brasileiros, como a Pampulha, em Belo Horizonte.
Em 1994, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, reconhecendo o valor cultural dessas manifestações, efetua o tombamento da cidade com o estabelecimento de uma poligonal de proteção no centro histórico e inclusão de dezesseis bens imóveis tombados individualmente.
Para que a preservação do patrimônio histórico seja uma ação eficiente é necessária a participação cidadã. Mais que a divulgação eficiente dos programas e mecanismos de proteção, é necessário acercar a população do meio em que ela vive, fazer com que as pessoas conheçam a história de sua cidade e socializar a necessidade das ações concernentes ao patrimônio e os benefícios sociais e econômicos que essas podem trazer.
Um tombamento nas características do conjunto em questão, não pode ser fator de “engessamento”, mas deve criar instrumentos que agreguem valores e possibilidades. Estes devem facilitar um desenvolvimento sustentável e planejado, tendo em consideração todas as vocações da cidade, e sua relevante importância no contexto cultural, urbano, histórico, social, antropológico, paisagístico, ambiental, econômico e cívico, e as perspectivas turísticas que o tombamento possibilita.
O 1º CATS, realizado em 2012, teve como objetivo estabelecer em Cataguases um polo de encontro e de discussão sobre a preservação do patrimônio edificado, conscientizando moradores e participantes da importância da arquitetura construída na cidade entre as décadas de 1940 e 60. Ao final do evento, um manifesto foi produzido pelos professores participantes e entregue às autoridades competentes. O manifesto delineava ações com a intenção de que fossem criados programas e projetos voltados para a preservação e conservação de Cataguases. Há várias sugestões dos professores para o aprimoramento do potencial turístico da cidade. Infelizmente podemos constatar, apenas caminhando pelas ruas da cidade, que, nada foi feito desde então e o tombamento, por si só, ou o protocolo estabelecido para a preservação, não tem garantido, na prática, sua função esperada.
Segundo o manifesto é clara a falta de um projeto que respeite a “importância mundial” do Conjunto Modernista de Cataguases e sua realidade única, de representatividade como um verdadeiro monumento à personalidade criativa e empreendedora da cidade. Também se percebe a falta de uma política de planejamento urbano para valorizar e qualificar os entornos, o que acaba por transformar cada bem tombado em uma ilha, sem um projeto urbanístico que interligue os diversos componentes, isolando-os e diminuindo a importância histórica do Conjunto.
Percebe-se a dificuldade de preservação e/ou restauração das residências modernistas tombadas, tanto pela falta de comprometimento do Iphan, quanto de uma política que atenda com eficácia essas “residências particulares”, sem interferir no direito de inviolabilidade domiciliar e do indivíduo nela residente.
Apesar do PAC Cidades Históricas – programa voltado aos municípios com conjuntos ou sítios protegidos no âmbito federal – ter uma previsão de investimentos para Cataguases de R$ 29,9 milhões entre 2010 e 2013, com ações de restauro, recuperação e requalificação urbanísticas de praças e outras benfeitorias, nada foi feito até o momento pois não há equipe de projeto na prefeitura que elabore tais projetos para poder ter direito às verbas.
Essa 2ª edição do CATS tem como intenção alertar a sociedade cataguasense, as autoridades locais, o Governo de Minas Gerais, o Ministério da Cultura, os órgãos de defesa, preservação e proteção do Patrimônio Cultural Edificado Brasileiro, para que sejam criados programas e projetos destinados à preservação e conservação deste Patrimônio. Também para o aproveitamento das possibilidades turísticas e de desenvolvimento sustentável, com envolvimento das três esferas de governo, Iphan e entidades representativas, com ações que possibilitem a perenidade do projeto. Devem-se estender as iniciativas não só aos bens tombados e seu entorno, mas entendendo que a proteção do patrimônio ambiental urbano está diferentemente vinculada à melhoria da qualidade de vida da população, pois a preservação da memória e dos referenciais culturais é uma demanda social tão importante quanto qualquer outra a ser atendida pelo serviço público.
Torna-se premente o entendimento da realidade atual da Cidade de Cataguases, da sua população, das características e especificidades inerentes às questões sociais, ambientais e vocacionais e a sua relação com o seu conjunto histórico, arquitetônico e paisagístico. É notório que há muitos anos, o município vem “virando as costas” para os fatores de influência, possibilidades e importância de seus bens tombados para o desenvolvimento sustentável da cidade.
O patrimônio, a cultura e a memória de uma cidade são traduzidos em inúmeras formas, desenhos e elementos urbanos. Viver em contato com estes elementos permite construir o legado cultural e a sensação de continuidade, sem deixar de vivenciar o presente.
São elementos que refletem a identidade nacional e geram aproximação e reconhecimento tanto da sociedade interna como de outros povos e países. Apesar de muitas vezes serem deixados em segundo plano, os componentes culturais são os únicos que influenciam em todas as áreas da sociedade, desde o aspecto político ao econômico, tendo o potencial de gerar retornos dos mais diversos tipos. O mais importante é que a difusão cultural atrai a atenção de pessoas, grupos, instituições e empresas interessadas.
A arquitetura pode ser considerada um reflexo de nossa sociedade. Construções de diferentes estilos, modelos e épocas convivem lado a lado, representando nossa evolução e relembrando-nos de nosso passado. Devemos abraçar o potencial artístico, arquitetônico e natural, que nossa cidade possui e aprender a trabalhar em prol da difusão daquilo que temos para fazer com que Cataguases se torne mais uma vez uma referência nacional.
nota
NE – Palestra proferida no painel: O urbanismo e a dimensão do crescimento na contemporaneidade em que estavam presentes os professores Ephim Shluger – arquiteto e Edwaldo Sergio – turismólogo, 17 de outubro de 2014, dentro das atividades do 2º CATS – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade, ocorrido em Cataguases MG.
sobre a autora
Elisabete Kropf é arquiteta e urbanista, especialista em conforto e edificações sustentáveis, coordenadora geral do CATS Cataguases. Possui escritório em Cataguases, desenvolvendo projetos de arquitetura, decoração de interiores, design de mobiliário e reformas em edifícios residenciais e comerciais.