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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Tradição, costumes e arquitetura do imigrante. Uma análise da colonização italiana em Urussanga, Santa Catarina.

english
Tradition, customs and architecture of the immigrant. An analysis of the Italian colonization in Urussanga, Santa Catarina.

español
Tradición, costumbres y arquitectura del inmigrante. Un análisis de la colonización italiana en Urussanga, Santa Catarina.

how to quote

ROSA, Artur Hugo da. Urussanga, raízes da cidade. A colonização e a arquitetura do imigrante italiano na cidade de Urussanga SC. Minha Cidade, São Paulo, ano 19, n. 226.01, Vitruvius, maio 2019 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/19.226/7358>.


Casa Cancellier, Urussanga SC Brasil
Foto Artur Hugo da Rosa


A colonização em Urussanga

O movimento colonizador do interior do sul de Santa Catarina por italianos inicia-se em 1877. A primeira colônia fundada foi Azambuja, às margens do Rio Pedras Grandes, em sua confluência com o Rio Tubarão, teve maior prosperidade ainda com a fundação de colônia no vale do Rio Urussanga, para onde se transferiu a sede dos serviços de colonização (1). Os primeiros imigrantes chegaram em 1878. A qualidade dos terrenos era melhor que em Azambuja, porém os primeiros anos foram dificultosos, principalmente em relação a precariedade dos transportes. Muitos homens preferiam trabalhar na construção da estrada de ferro Tereza Cristina, ganhando um bom dinheiro e melhorando o nível de vida da colônia.

Em 1895, Urussanga já contava com 5 mil habitantes, todos italianos do norte. Depois de 15 anos, possuía mais de 50 engenhos de cana e quase outros tantos de alambique, 16 moinhos, 6 ferrarias e 25 negociantes. O cultivo de parreiras e a fabricação de vinho se tornou célebre em Urussanga. Em 1890, Urussanga torna-se distrito de Tubarão, deixando de ser colônia.  Em 1900, consegue autonomia municipal. Neste período, era um município predominantemente italiano, onde a língua italiana era a única falada (2).

A arquitetura do imigrante

Os italianos que chegaram ao sul catarinense eram pobres agricultores vindo de regiões italianas pouco propícias para a agricultura. Desta forma, a construção da casa servia de motivo para tirar as pedras da terra, a fim de melhorar o terreno para o plantio. O imigrante trazia consigo uma bagagem artesanal rica em marcenaria, cantaria e ferraria, de modo que mesmo recém-chegados, providenciaram rapidamente suas construções provisórias. Na Itália, estes imigrantes aprendiam através de cursos formais ou no exercício da profissão pela observação pessoal e passagem da técnica informalmente. Também há casos de aprendizagem de marcenaria, ferraria e cantaria no Exército Italiano, para aqueles que serviam a pátria (3).

Desta forma, o imigrante desenvolveu uma linguagem arquitetônica própria e habilidosa no emprego dos materiais e da técnica construtiva, resultando em uma expressão plástica notável, dentro de uma simplicidade que tendia a simetria, mas de maneira sóbria, evitando as ornamentações.

Vindo de uma terra com baixa capacidade agrícola, aqui o imigrante encontrou regiões bastantes férteis, mas de topografia acidentada e muito granito. Ao tomar posse de suas propriedades e praticar economia de subsistência, com vendas de excedentes da policultura, produziu uma arquitetura que utilizava os materiais disponíveis no próprio lote. Nessas terras, encontraram o que era primordial para as suas construções, aliando sua própria mão-de-obra em todos os processos construtivos.

Os materiais fundamentais nesta arquitetura são a pedra, madeira e o barro. Elementos que existiam em abundância. Ou seja, nada custava ao imigrante, exceto sua própria mão-de-obra. Falquejava-se, rachava-se e serrava-se à mão a madeira. Também manualmente extraíam-se pedras e faziam-se tijolos domésticos (4).

Gunter Weimer afirma em seu livro Arquitetura popular brasileira:

“Os mestres artífices italianos se destacavam com maestria na cantaria. Alguns chegavam a tal performance que desprezavam a argamassa entre pedras, tal era a perfeição das juntas” (5).

A pedra, com a existência de uma floresta rica e diversificada em espécies no sul catarinense, foi sendo substituída aos poucos pela madeira. Com o avanço da extração e beneficiamento artesanal e industrial das peças, os mestres artífices passaram a direcionar o uso da pedra apenas para as fundações e a cantina, finalizando o corpo da casa em madeira.

A posse da terra tinha um significado latente de liberdade para o imigrante. A arquitetura residencial detém uma presença discreta de elementos ornamentais. Isto, muito se deve ao trabalho duro e a simplicidade de um povo pobre que valoriza sua própria mão-de-obra. A casa significa a sua afirmação ao seu indivíduo como senhor de si. O lote representa segurança e sobrevivência e o cuidado com a casa demonstrava o seu imenso amor a terra que lhe deu dignidade.

A casa e o assentamento

A casa do imigrante no Brasil se tornou muito diferente do que lhe era familiar na Itália. A primeira iniciativa foi a separação do corpo da casa com a cozinha. A cozinha era tida como uma área de serviços e de alto risco com o uso do fogão a lenha. Com a construção da cozinha em áreas externas, ela se tornava uma edificação de apoio junto com outras construções de funções voltadas a agricultura e pecuária como o chiqueiro, galinheiro e paiol.

A famílias italianas se caracterizam por terem muitos filhos, um dos motivos era para a auxiliar os pais no trabalho rural e doméstico. O reflexo disso era que as casas possuíam um número maior de quartos. Geralmente os quartos se localizavam nas extremidades do corpo da casa, fazendo com que houvesse um corredor central e uma sala mais alongada.

Para o armazenamento de comida, era usado o sótão, que se caracterizava um espaço totalmente livre, com ampla ventilação, pois servia também de depósito e secagem de cereais. No porão era instalada a cantina. Para evitar o emprego de escadas, preferia-se implantar a casa num declive, de modo que, por um dos lados, se tivesse acesso direto à casa e, pelo lado oposto à cantina. Esse espaço não servia apenas para a fabricação e o armazenamento do vinho, mas também para a feitura e guarda de alimentos como queijo e derivados da carne, tais como salame, copa, toucinho (6).

A produção do vinho ainda é uma das principais fontes econômicas de Urussanga. A qualidade dos vinhos das grandes cantinas favoreceu com o desaparecimento das menores. Isso coincidiu com uma ampla urbanização dessa população, motivada pela industrialização da região, com indústrias de plástico. Surgiram novos partidos arquitetônicos, sem cantina ou muito pequenas, com um pavimento, típicos dos centros urbanos.

Urussanga ainda preserva muito da cultura italiana. Aspectos e costumes da população, o sotaque e a culinária ainda trazem as raízes da imigração. Além disso, a religiosidade, as festas, a agricultura, as edificações coloniais e religiosas, como os sobrados e as igrejas, com seus detalhes, que conformaram os núcleos iniciais destes povoados são aspectos da força dessa paisagem cultural e identitária da imigração italiana, que felizmente persiste.

notas

1
PIMENTA, Margareth de Castro Afeche (Org.). Mestres artífices de Santa Catarina. Série Cadernos de Memória. Brasília, Iphan, 2012.

2
DALL'ALBA, João Leonir. Imigrantes Italianos em Santa Catarina. In: BONI, Luis A. de (Org.). A presença italiana no Brasil. Porto Alegre, Fundazione Giovanni Agnelli, 1987, p. 149-156.

3
POSENATO, Júlio. A Arquitetura residencial rural norte-italiana e da imigração italiana no Rio Grande do Sul. In: BONI, Luis A. de (Org.). Op. cit., p. 452-489.

4
Idem, ibidem.

5
WEIMER, Günter. Arquitetura popular brasileira. 2a edição. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2012, p. 173.

6
Idem, ibidem.

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