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research

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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Descrição da pesquisa para revelar a autoria do projeto de arquitetura do Condomínio Parque Aclimação, de Herbert Duschenes, e a relevância das artes plásticas de Pedro Tort Roig e do paisagismo de Roberto Coelho Cardozo para o complexo residencial.

english
Description of the research to unveil the project architect responsible for the Parque Aclimação Condominium, Herbert Duschenes and the importance of Pedro Tort Roig’s visual arts and Roberto Coelho Cardozo’s landscape for the apartment complex.

español
Descripción del proceso de investigación para revelar el arquitecto del Condominio Parque Aclimação, Herbert Duschenes y la importancia de las artes visuales de Pedro Tort Roig y el paisaje de Roberto Coelho Cardozo para lo complejo de apartamentos.

how to quote

VERONESE, Marcio. Herbert Duschenes e o Condomínio Parque Aclimação. Um dos primeiros exemplares de arquitetura moderna no Bairro da Aclimação. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 247.01, Vitruvius, fev. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.247/8030>.


Vista aérea do Condomínio Parque Aclimação – CPA
Foto divulgação [Google Earth]


Num terreno de 15 mil metros quadrados no bairro da Aclimação, em São Paulo, encontram-se elevadas por pilotis 8 torres residenciais, cada uma com 12 pavimentos, abrigando um total de 264 apartamentos. Implantadas em formato de ferradura em torno a uma exuberante área verde central, formam, conjuntamente, o Condomínio Parque Aclimação, considerado um dos primeiros condomínios-clube da cidade de São Paulo, o primeiro com uma piscina elevada em relação a cota do terreno e com claras referências modernistas no partido adotado pelo arquiteto para o conjunto.

O Condomínio Parque Aclimação (CPA) ou Kowarick como referem-se a ele os moradores do bairro, foi construído entre os anos de 1953 e 1958 no terreno que abrigava o palacete da família Kowarick, família de origem austríaca com atividades industriais no início do século 20 no município de Santo André, onde operavam seu lanifício.

Palacete Kowarick Foto autor anônimo
Acervo Administração do CPA

O terreno que acomodava o palacete dos Kowarick e seu imenso jardim já se destacava nos levantamentos topográficos de São Paulo de 1930, entre as cotas 790 e 795m, em posição privilegiada na região, notadamente quanto a visualização do Parque da Aclimação, localizado em cota cerca de 50 metros inferior. A Aclimação, dentre bairros centrais da cidade, está entre aqueles que tiveram o processo de verticalização mais tardio (1). O que fez com que a condição que o incorporador encontrou quando adquiriu o terreno da família, já na década de 1950, não fosse muito diferente: um bairro majoritariamente horizontal.

Levantamento topográfico Bairro da Aclimação, 1930 [Geosampa / Prefeitura Municipal de São Paulo]

No material publicitário divulgado no seu lançamento na imprensa paulista (2) em 1952, destacavam-se as dimensões e o programa da área comum do empreendimento. Uma iniciativa capitaneada pela imobiliária Vaz Guimarães e construída pela construtora Cavalcanti, Junqueira S.A. A primeira, de Constâncio Vaz Guimarães. A segunda, construtora de matriz carioca com atuação na construção pesada e uma das fundadoras do Sindicato Nacional da Industria da Construção Pesada – Sinicon (3).

Material de marketing do empreendimento
Imagem divulgação

Já quando estava completo, em 1958, o Condomínio Parque Aclimação, foi objeto, no mesmo ano, de reportagem na edição 237 da revista Acrópole (4), que dedicou três páginas ao empreendimento. Entretanto, sem a identificação do(s) arquiteto(s) responsáveis pelo projeto do empreendimento.

Material de divulgação incluído no folder original do CPA
Imagem divulgação

Material de divulgação incluído no folder original do CPA
Imagem divulgação

Do total de oito torres, todas com nomes de pedras preciosas que já identificavam algumas das ruas do bairro – Esmeralda, Topázio, Turmalina, Alabastro, Safira, Jaspe, Diamante e Rubi, as cinco primeiras têm duas apartamentos por pavimento ambos voltados para o jardim central do condomínio e com área construída entre 205 e 221 m2. Suas fachadas apresentam jardineiras ornamentais ao longo da área social, envidraçada de piso a teto. As demais, Jaspe, Diamante e Rubi comportam quatro apartamentos por pavimento, subdividindo-se, os dois primeiros em 2 alas. Ambos ganharam uma sacada contígua a área social dos apartamentos. Já o edifício Rubi teve metade dos apartamentos voltados para a rua adjacente ao condomínio e outra metade voltada ao jardim central do mesmo e suprimidas as soluções de jardineiras e sacadas na sua fachada principal.

Fachada do edifício Topázio, com floreiras
Foto Marcio Veronese

Elementos vazados e blocos de vidro foram utilizados para ventilação e iluminação das áreas de serviços de todos os edifícios.

Fachada do edifício Diamante, com sacadas
Foto Marcio Veronese

Entretanto, ainda que o CPA tivesse certa visibilidade dada a divulgação antes e depois de concluídas suas obras, até recentemente não havia certeza quanto a autoria do seu projeto de arquitetura, um desafio de pesquisa para o autor e outros alunos do segundo semestre de graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, que receberam a incumbência de desenvolver um trabalho de graduação específico sobre o condomínio para a disciplina de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo I.

Fachada do edifício Rubi
Foto Marcio Veronese

A pesquisa se iniciou com uma visita ao condomínio após autorização obtida pela administração junto aos 8 síndicos dos edifícios (já que a Convenção de Condomínio do CPA introduziu, já na década de 1960 o conceito de corpos diretivos apartados para cada um dos edifícios e responsabilidade solidária entre eles na manutenção das áreas comuns do conjunto). Na ocasião foram verificadas algumas pranchas remanescentes dos projetos executivos dos edifícios. E foi a partir de algumas delas é que foi obtida a primeira informação indicativa quanto a autoria do projeto: ACAL - Augusto Cincinato de Almeida Lima Engenharia e Construções. CREA do arquiteto-engenheiro que dava nome ao escritório e que assinava como autor do projeto: 101/41.

Carimbo de prancha do projeto executivo disponível no condomínio
Foto Marcio Veronese

Entretanto, esta informação não parecia conclusiva já que as características do empreendimento e seus traços com características modernistas indicavam que o projeto pudesse ter tido a colaboração de alguém mais próximo da arquitetura que passou a ser desenvolvida em meados dos anos de 1950 na cidade de São Paulo. Assim, através de cruzamentos de dados, chegou-se a uma mostra de arte específica, de 2016, intitulada “Ocupação Maria e Herbert Duschenes” (5) do ItauCultural. Nela, na seção dedicada a biografia de Herbert Duschenes conhecemos sua atuação como arquiteto no país e, mais importante, que foi sócio de Augusto Cincinato no escritório ACAL por mais de 20 anos (6).

Carimbo de prancha do projeto executivo disponível no condomínio
Foto Marcio Veronese

Herbert Duschenes, nascido em Hamburgo na Alemanha em 1914, formado em História da Arte pela Universidade de Hamburgo e tendo cursado Arquitetura entre os anos de 1933 a 1938, na Deutsche Technischen Hochschule – Instituto Politécnico de Praga, então Tchecoslováquia, havia chegado ao Brasil em meados de 1940 e trabalhado no escritório de Jacques Pilon por cerca de 7 anos, mesmo escritório onde participaram como colaboradores Franz Heep e Gian Carlo Gasperini (7), o que lhe colocava na vanguarda quanto ao que vinha sendo feito em São Paulo pelo grupo de arquitetos estrangeiros que imprimiu um vigor notável a arquitetura paulista entre os anos de 1940 e 1960.

Planta do pavimento tipo do edifício Diamante, com 4 apartamentos por pavimento
Foto Marcio Veronese

Foi com esta formação e prática projetual é que Duschenes ingressou no escritório ACAL Engenharia e Construções de Augusto Cincinato, onde desenvolveu projetos nas regiões central e do Higienópolis, em São Paulo.  Por nunca ter obtido registro de engenheiro-arquiteto no então Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura – CREA, todos os projetos desenvolvidos pelo ACAL tiveram autoria creditada a seu sócio majoritário, responsável legal pelo escritório.

Augusto era um engenheiro-arquiteto filho de um cafeicultor paulista da cidade de Araras e que havia decidido atuar no ramo de desenvolvimento imobiliário.

Na década de 1960, ambos fizeram parte do grupo Grupo dos 20, um grupo técnico que se propôs a assessorar na definição das políticas estabelecidas pelo BNH - Banco Nacional de Habitação (8). Duschenes também se dedicou a atividades acadêmicas. Atuou por cerca de 30 anos como professor de História da Arte e Arquitetura no Departamento de Artes Plásticas da Fundação Armando Alvares Penteado - Faap (9).

Quanto a autoria específica do projeto de arquitetura do Condomínio Parque Aclimação, a premissa de que pudesse ter tido a participação de Herbert Duschenes foi confirmada junto a Ronaldo Duschenes, seu filho e também ele arquiteto e ex-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Fragmento de mural presente no condomínio, também retratado na edição 237 da revista Acrópole, de 1958
Foto Marcio Veronese

Para além da arquitetura, as artes plásticas presentes no condomínio chamam atenção pela qualidade artística. Desde 1958, quando tinham sido objeto de publicação pela Revista Acrópole, sabia-se que se tratavam de murais em pastilhas de vidro concebidos por um dos representantes da arte catalã da década de 1940, Pedro Tort Roig (10), cuja obra e atuação nas artes plásticas se concentrou majoritariamente na pintura e que, estrangeiro como Herbert, havia chegado ao Brasil em meados dos anos de 1950.

Fragmento de mural presente no condomínio, também retratado na edição 237 da revista Acrópole, de 1958
Foto Marcio Veronese

Alguns murais têm motivos geométricos. Outros, figurativos. Conjuntamente agregam valor ao partido adotado pelo arquiteto para o condomínio, onde cada edifício tem fachada revestida por pastilhas da cor associada a pedra preciosa que lhe dá nome. Todos têm um painel artístico no hall de entrada sendo que alguns dos figurativos fazem alusão ao processo de extração da pedra preciosa correspondente. Na Revista Acrópole de 1958, recupera-se o nome de um dos painéis: “O Caçador de Esmeraldas”.

Fragmento de mural presente no condomínio
Foto Marcio Veronese

Infelizmente, dois murais originais, dos edifícios Turmalina e Alabastro, foram removidos e deles não há registros fotográficos. O edifício Turmalina optou por elaborar um novo mural, executado por Isabel Ruas, no local do original. Um terceiro mural, o do edifício Safira, também parcialmente removido foi reconstituído a partir de fragmentos que restaram do original. Quanto ao edifício Alabastro, uma parede branca marca, pela ausência, a ruptura na leitura das artes plásticas incorporadas ao Condomínio Parque Aclimação como um todo.

O paisagismo, de autoria de Susan e Roberto Coelho Cardozo também se destaca no CPA. O norte-americano que já atuava com bastante relevância em São Paulo, foi o autor da primeira versão do paisagismo para o CPA (11). Vale ressaltar que a versão implantada, em 1958, já incluía a piscina semiolímpica elevada em relação a cota do terreno e quadra poliesportiva, dois dos equipamentos que não constavam do projeto original de Cardozo, que nestes locais previa a existência de canteiros (12). A versão do projeto já com os dois equipamentos, assinada por Roberto Coelho Cardozo, não foi localizada.

Por fim, não bastasse a associação feliz da tríade formada por um arquiteto alemão, Herbert Duschenes, um artista plástico catalão, Pedro Tort Roig e um paisagista norte-americano, Roberto Coelho Cardozo na gênese do projeto do Condomínio Parque Aclimação, também a engenharia brasileira marcou importante presença. O cálculo estrutural de todo o conjunto foi desenvolvido por Roberto Rossi Zuccolo, um dos maiores calculistas de sua geração e especialista em concreto protendido (13).

A história do Condomínio Parque Aclimação, a trajetória da pesquisa e a descoberta da relevância dos profissionais envolvidos na concepção arquitetônica, artística e paisagística do conjunto foram consolidados numa compilação acadêmica que foi apresentada aos síndicos, à administradora e aos condôminos do CPA, convertendo-se num instrumento importante para a zeladoria dos moradores quanto ao patrimônio que têm em mãos. Um patrimônio que é também parte da história da arquitetura moderna da cidade de São Paulo, construída há mais de 60 anos no bairro da Aclimação.

Visão parcial do paisagismo do CPA, com a quadra poliesportiva ao centro e piscina elevada em relação a cota do terreno, ao fundo
Foto Amanda Yamada

notas

1
DOREA, Augusta Garcia Rocha. Aclimação. Coleção História dos Bairros de São Paulo. São Paulo, DPH, DAH SC PMSP, p. 13-107.

2
Anúncio de lançamento imobiliário. São Paulo, Folha da Manhã, 13 jan. 1952.

3
GASPAR, Natália Maria. O debate sobre a industrialização da arquitetura na FAU USP durante as décadas de 1950 e 1960. 2016. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2016, p. 102.

4
Parque Aclimação. Acrópole, n. 237, São Paulo, jul. 1958, p. 441-443.

5
ITAU CULTURAL. Ocupação Maria e Herbert Duschenes <http://itaucultural.org.br/ocupacao-maria-e-herbert-duschenes>.

6
HERBERT Duschenes. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo, Itaú Cultural, 2021 <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa481923/herbert-duschenes>.

7
AMARAL E ALMEIDA, Moracy. Pilon, Heep, Korngold e Palanti: edifícios de escritórios (1930-1960). Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2015, p. 184; 187.

8
CARVALHO E SILVA, Joana Mello de. O arquiteto e a produção da cidade: a experiência de Jacques Pilon em perspectiva (1930-1960). 2010. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2010, p. 48.

9
PENNEY, Paola Prestes. A viagem permanente de Herbert Duschenes: arquiteto, educador e cineasta amador. 2019. Tese de doutorado. São Paulo, ECA USP, 2019, p. 169; 174.

10
SANTAEULARIA I ROIG, Frederic. Pere Tort, pintor de la pintura d’avantguarda a l’etapa gestual magica. Barcelona, Terrassa/Els Blaus de Sarrià, 2012 <https://issuu.com/emboscall/docs/peretort/2>.

11
TAMARI, Gabriela Tie Nagoya. Modernidade paulistana: o paisagismo de Roberto Coelho Cardozo. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2017, p. 198.

12
ARAUJO, Demétrius Borges do S. G. de. Roberto Coelho Cardoso: vida, obra, perpetuação e resquícios de uma produção paisagística. Paisagem Ambiente, n. 22, São Paulo, p. 94-109 <https://drive.google.com/file/d/1v6PDzZiB0LhwlYWCaJlZH0eKOZM4iamB/view>.

13
SERAPIÃO, Fernando. Uma história para ser contada. Projeto Design, n. 350, ab. 2009.

sobre o autor

Marcio Veronese é estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie além de graduado em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (1991) com MBA em Finanças pelo IBMEC (1997).

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