In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.
português
Os piores casos apontados de óbitos e diagnósticos relacionados ao Covid estão dentro das áreas de comunidades carentes de infraestrutura urbana, saneamento básico e uma habitação salubre e digna, intrinsicamente ligado a proliferação do vírus.
english
The worst cases of deaths and diagnoses related to Covid are found in areas of communities lacking urban infrastructure, basic sanitation and healthy and dignified housing, intrinsically linked to the proliferation of the virus.
español
Los peores casos de muertes y diagnósticos relacionados con Covid se encuentran en áreas de comunidades que carecen de infraestructura urbana, saneamiento básico y vivienda digna y saludable, intrínsecamente vinculados a la proliferación del virus.
MIZUTANI, Meriellen Nuvolari Pereira; MARÓSTICA, Juliana Rodrigues; OLIVEIRA, Carlos Alberto Nunes. O morar para as periferias pós Covid. O Covid -19 e a relação com a área periférica brasileira. Minha Cidade, São Paulo, ano 21, n. 251.02, Vitruvius, jul. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/21.251/8133>.
Um dos maiores desafios sanitários em escala mundial a ser enfrentado neste século é a pandemia do Covid-19 que vem acometendo milhares de pessoas. As pesquisas atuais mostram que essa doença sistêmica, foi inicialmente identificada na China em dezembro de 2019, e chegou ao Brasil ao final do mês de fevereiro. Segundo dados do jornal El País, baseado site do Ministério da Saúde atualizado em 06 de junho de 2020, já foram registrados um total de 672.846 casos confirmados da doença em todo Brasil e 35.930 óbitos, dados esses antes do pedido de omissão dos dados do presidente Jair Bolsonaro (1). Se efetuarmos um recorte para a cidade de São Paulo, segundo dados de 2020 da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – Seade (2) são um total de 140.549 casos e 9.058 óbitos, o que se refere a 3% da população total de São Paulo diagnosticada e 1,71% da população total brasileira, o que pode a princípio aparentar um índice baixo, porém se compararmos com os dados ao redor do mundo também segundo a Seade, O Brasil representa 9,76% dos casos diagnósticos mundialmente e 8,98% das mortes em todo o mundo.
Os dados apresentados no início do presente artigo, evidenciam o quão impactante essa pandemia está sendo para o Brasil, e é sob essa perspectiva que se discute questões o impacto do isolamento social, da prevenção e de como a arquitetura impacta tanto ativa como passivamente no número de pessoas infectadas.
Como poderíamos chamar de o “novo normal” ao modo de vida atual, afinal esta pandemia trouxe justamente a grande diferença na distribuição das riquezas, nas condições diferenciadas entre as cidades, bairros, transparecendo a diferença dos níveis de acesso à qualidade a habitação, saneamento básico e urbanidade, uma vez que o processo de redução da infecção se dá pelo isolamento e quarentena de toda a sociedade, a higienização adequada com água e sabão, sendo portanto necessário políticas de saneamento básico e abastecimento de água, que de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS, apenas 53,2% da população em 2018 possuíam esgotamento sanitário e 83,6% da população tem acesso ao abastecimento de água (3).
E para Anete Brito Ivo é nas áreas periféricas que a necessidade e busca por justiça social e por direitos sociais sobre a cidade é mais intensa, direitos básicos como acesso a moradia, saúde, transporte, educação e consumo cultural (4). As políticas públicas orientadas para a benfeitoria as condições de saneamento básico e moradia mais eficazes para diminuir a mortalidade e a redução de doenças relacionadas às condições do ambiente em que se vive. Uma vez que os índices de pobreza reduziram, mas de forma mascarada dentro dos critérios de avaliação que consideram número de televisão, geladeira e fogão dentro das residências, analisar as áreas periféricas vai muito além dos bens de consumo, e sim das perspectivas de futuro, exclusão social e cultural (5).
Em consonância com diversos pesquisadores, conforme Kelly Roberta Ferracini (6) cita que a vulnerabilidade social e a exclusão tornam-se conceitos muito empregados tanto por pesquisadores e gestores públicos. A vulnerabilidade social para Abramovay (7) é definida como a situação no qual os recursos e habilidades de um certo grupo social são insuficientes e ou inadequados com relação as oportunidades oferecidas plea sociedade. Quanto a vulnerabilidade e disparidade da infraestrutura urbana de qualidade, acesso aos serviços básicos da cidade, a Rede Nossa São Paulo vem mapeando os bairros de São Paulo e apresentou no início do ano de 2020 o mapa das desigualdades 2019, que foi utilizado como fonte e comparação com os dados da Prefeitura de São Paulo em relação aos casos com mais mortes e diagnósticos por Coronavírus, e deste mapa surgiu que os maiores índices estão onde residem os mais pobres e não o com maior número de idosos.
Observando a sobreposição entre os dados pode-se obter dados onde os cinco piores bairros em quantidade de óbitos tanto nos relatórios somatórios de abril como de maio de 2020 pela Prefeitura de São Paulo apontam para as áreas com maiores índices de proporção de domicílios em Favelas em relação ao total de domicílios do bairro, entre 12,3 a 49,1% do total da territorialidade. E se sobrepormos esses mesmos casos nos mapas relacionados a arborização viária, unidades de UBS e empregos formais (não apresentados neste ensaio por meio de imagem, porém analisados seus dados) ambos da instituição Rede Nossa São Paulo, também serão apontados para os piores índices em cada caso, sendo os bairros identificados com maiores casos de morte por Covid (Brasilândia, Sapopemba, São Mateus, Cidade Tiradentes, Sacomã) em abril de 2020 e (Brasilândia, Sapopemba, Grajaú, Capão Redondo, Jardim São Luis) em maio de 2020. A consonância nestes bairros está não só em relação a questão da habitação marginalizada e vulnerável, mas nos menores índices de empregos formais (entre 0,2 a 5,0), poucas unidades básicas de saúde – UBS entre 0,4 a 1, e baixo índice de arborização viária (entre 3 a 361), o que representa em números as questões conceituais apresentadas sobre vulnerabilidade social relacionada a infraestrutura urbana (8).
Das medidas adotadas no Brasil para conter o avanço e a curva do contágio, o distanciamento social e a restrição de atividades públicas e aglomerações através do confinamento domiciliar da população vem sendo adotado nos municípios, partindo-se do pressuposto que todas as pessoas possuem um local de residência em condições mínimas adequadas para um grande período de isolamento, mas é sabido que as condições de moradia da população brasileira, principalmente nas áreas de periferias estão bem distantes desta expectativa.
As cidades cresceram baseadas nas condições sociais, através da setorização de classes, condições econômicas e cidades mal planejadas, e com poucas análises quanto as interferências de vizinhança, aspectos sociais e culturais independentes da classe social residente (9).
Muito vem se discutindo após esta pandemia no que muda o formato de morar, traz-se rodas de debates com relação a criar espaços mais convidativos e prazerosos, a criação de espaços de higienização na entrada das residências para o atendimento das questões sanitárias, tão questionado discurso do home office, ou homeschooling, sendo necessário pensar ambientes que mantenham a privacidade, um bom sinal de internet e o conforto dos escritórios corporativos. Não que estes itens não devam ser pensados, questionados e reestudados por arquitetos, engenheiros e por toda a sociedade como um todo, mas o que trazemos aqui é como pensar no morar desta classe que pode-se considerar excluída, onde muitas vezes um cômodo de quatro por quatro, abriga seis pessoas ou mais. Como as políticas públicas, os profissionais da área da arquitetura e construção podem auxiliar em um melhor morar nestes casos.
A pandemia trouxe à tona mais uma das inúmeras vulnerabilidades da população que vive em periferias e sem as condições mínimas de moradia. Nessa realidade é fato a imensa dificuldade, e até impossibilidade de isolamento social, bem como a prevenção dessa nova doença, visto que ainda muito se sofre por problemas relacionados a condições sanitárias precárias.
Esta crise tanto sanitária como econômica enfrentada a partir da pandemia do coronavírus expõem ainda mais as desigualdades sociais e a necessidade de respostas e soluções múltiplas de diversas áreas.
Destaca-se também, que não só as medidas de prevenção e isolamento, mas também os planos de retomada precisam ser pensados considerando a tamanha desigualdade social da cidade. Atendendo ao proposto, o impacto do isolamento social, da prevenção e de como a arquitetura impactam tanto ativamente número de pessoas infectadas.
Por fim, a proposição de uma solução eficiente ao Covid-19 deveria ser pensada após a superação e solução de problemas mais básicos já diagnosticados como a garantia de moradia digna e saneamento básico, este é um momento de buscar reflexões quanto a isso, não existe uma fórmula pronta para trazermos de como será a formação da cidade, do pensar a cidade e principalmente do morar, como a própria Jane Jacobs dizia, é necessário se experimentar, errar para acertar, e porque não experimentar para essa população mais vulnerável, talvez tentar trazer a tona mais as questões da comunidade e do coletivo, pensar em espaços que permitam ser divididos por mais de uma família a fim de atender a essas questões sanitárias e de estudo.
notas
1
NOVAES, Marina. Governo Bolsanaro impõe apagão de dados sobre a Covid-19 no Brasil em meio à disparada das mortes. El País, São Paulo, 06 jun. 2020 <https://bit.ly/3i2R3Ek>.
2
SEADE. SP contra o novo coronavírus. Boletim completo. São Paulo, Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, 06 jun. 2020 <https://www.seade.gov.br/coronavirus/>.
3
MACEDO, Miguel Macedo; ORNELLAS, Joaquim Lemos; BOMFIM, Helder Freitas do. Covid-19 no Brasil: o que se espera para população subalternizada? Revista Encantar Educação, Cultura e Sociedade, v. 2, Bom Jesus da Lapa, jan./dez. 2020, p. 1-10 <https://bit.ly/3wAIZQ7>.
4
IVO, Anete Brito. Uma periferia em debate: questões teóricas e de pesquisa. Caderno CRH, Salvador, 2010, v. 23, abr. 2010 <https://bit.ly/3xF6ZDh>.
5
MACEDO, Miguel Macedo; ORNELLAS, Joaquim Lemos; BOMFIM, Helder Freitas do. Op. cit.
6
FERRACINI, Kelly Roberta. Localizando a vulnerabilidade social na dimensão infraestrutura (IVS-I) versus os investimentos do programa de Aceleração do crescimento (PAC) nos municípios pernambucanos. Ci & Tróp. Recife, 2019, v. 43, n.1 <https://bit.ly/3wFuniB>.
7
ABRAMOVAY, Miriam. Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina: desafios para políticas públicas. Brasília, Unesco/BID, 2002 <https://bit.ly/3ySiNlF>.
8
REDE NOSSA SÃO PAULO. Mapa das Desigualdades 2019 <https://bit.ly/3keQTMH>.
9
VITIELLO, Soraia Cristina Barroso; CONTI, Diego de Melo; OLIVEIRA, Edson Aparecida de Araujo Querido; QUARESMA, Cristiano Capellani; MIZUTANI, Meriellen Nuvolari Pereira. A influência das políticas públicas na produção do espaço urbano: o caso do bairro da Mooca – São Paulo – Brasil. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 15, n. 2, edição especial, 2018, p. 174-087.
sobre os autores
Meriellen Nuvolari Pereira Mizutani é graduada em Tecnologia em Gestão na Construção Civil pelo Instituto Federal de São Paulo (2006), graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Nove de Julho (2012), graduação em Pedagogia pela Faculdade Aldeia de Carapicuíba (2018) e mestrado em Cidades Inteligentes e Sustentáveis pela Universidade Nove de Julho (2019). É professora do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Uninove.
Juliana Rodrigues Maróstica é mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis, Engenheira Civil e com especialização em Gerenciamento de Canteiros de Obras.
Carlos Alberto Nunes Oliveira é mestrando em Cidades Inteligentes e Sustentáveis pela Universidade Nove de Julho – Uninove, graduado em Engenharia de Produção Mecânica pela Uninove (2016) e Pós Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Uninove (2018). Atualmente é técnico laboratorista na Universidade Nove de Julho, responsável pelos laboratórios de exatas do curso de Engenharia Elétrica.