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my city ISSN 1982-9922

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Aldo Paviani, geógrafo e professor emérito da UnB, defende o plantio de árvores e um maior controle da vegetação na capital do país, mitigando os problemas relativos aos eventos extremos ocorridos no país.

how to quote

PAVIANI, Aldo. Brasília e a natureza. Minha Cidade, São Paulo, ano 22, n. 264.01, Vitruvius, jul. 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/22.264/8522>.


Torres do Congresso Nacional
Foto Nelson Kon


Desde o período imperial, havia entusiastas da transferência da capital para o interior e, com isso, o povoamento ocuparia terras dos sertões do Centro-Oeste. Essa ideia geopolítica foi desejada por José Joaquim da Silva Xavier – o Tiradentes – José Bonifácio, Hipólito José da Costa e muitos outros, políticos, deputados e senadores. Na República, a ideia da transferência da capital para o interior persistiu. Inclusive um artigo foi inserido na Constituição de 1891 e tinha como propósito tornar viável a mudança da capital. Os presidentes da República deveriam tomar iniciativas para efetivar a transferência, obedecendo a constituição. Ainda no Império, foram contratados cientistas, comandados pelo belga Louis Ferdinand Cruls, para realizar estudos indicativos de um sítio no interior com condições ambientais favoráveis à implantação da futura capital do país. No relatório de Cruls há ênfase nos aspectos climáticos, hidrológicos e botânicos, pondo em destaque o ambiente natural – a pedra de toque para abrigar a futura capital.

Feita a transferência e inaugurada Brasília em 21 de abril de 1960, a base da capital foi implantada no Plano Piloto do genial arquiteto/urbanista Lucio Costa, para quem a capital deveria ser bem arborizada. Assim, a cidade nasceu com o propósito de manter o verde. Brasília emergiu com este objetivo, apesar de abertura de vias, implantação de superquadras, da Esplanada dos Ministérios e construção de prédios ter eliminado parte da vegetação original do bioma Cerrado do Distrito Federal (DF). A agressão ao ambiente inteiro só não foi maior porque criada a Novacap, cuidou de parques e jardins e se encarregou de plantar milhares de árvores, o que se mantém nos dias correntes. Diga-se que nem sempre foram árvores próprias do ambiente natural, mas exóticas, que são visíveis na paisagem de Brasília, entremeadas a edifício modernos, como os do Setor Comercial Norte da capital.

Vegetação em meio a edifícios modernos na Asa Comercial do Plano Piloto
Foto Aldo Paviani

Abre-se parênteses para enfatizar que o viço da vegetação existente é quebrado, em alguns pontos, por ações que deveriam ser mais monitoradas: o corte de árvores – muitas vezes sem a devida aprovação das autoridades – e a poda não planejadas. Por isto, cabe a pergunta: há necessidade comprovada de podas radicais? Pode o corte de árvores ter base em laudos técnicos que comprovem sua absoluta necessidade? Os órgãos competentes deram o seu aval para cortes e podas? Sabe a administração do Distrito Federal que as árvores e o verde são vitais para a manutenção de nascentes, que por sua vez são responsáveis pela água que chega às instituições e residências? Diga-se que o oxigênio que respiramos é fabricado em parte pelas árvores que nos cercam? Daí, as podas devem ser bem pensadas pela administração.

Poda parcial sem mutilar a árvore
Foto Aldo Paviani

Uma campanha para a preservação dos biomas amazônico, do Pantanal e do Cerrado deve começar, a partir da introdução de temas ambientais nos currículos de todos os patamares educacionais, sobretudo nas escolas fundamentais. Distribuir livros que enalteçam a natureza, as áreas com cobertura vegetal, com destaque para territórios em que as matas foram agredidas com queimadas e implantação de pastos e de lavouras. Mostrar as extensões em que há riscos de desertificação e grandes áreas com perda de vegetação – enormes extensões de areia com raros tufos de vegetação e pouquíssima água, daí o ambiente inóspito para a maioria de seres vivos.

No caso do DF, a mídia tem mostrado o quanto à vegetação é fundamental para manter o território livre de erosões – as voçorocas. Em Samambaia, Gama e Ceilândia, por exemplo, há áreas degradadas, onde a vegetação local foi eliminada sem reposição e sem ao menos a colocação de gramíneas para manter a coesão do solo. Daí, a força da água, no período chuvoso, provoca erosões de difícil contenção, mesmo porque o substrato rochoso é mais profundo. Ademais, muitas habitações estão em declives, algumas delas condenadas pela Defesa Civil, pois apresentam riscos de danos irreparáveis causados pelas chuvas torrenciais do verão.

Como geógrafo e ser humano cuja sobrevivência e bem-estar dependente da natureza, propugno ampla campanha de reflorestamento, com maior atenção às vantagens de se proteger a natureza de agressões como as queimadas, cortes, podas agressivas, desproporcionais ou desnecessárias. Proteger o verde, com certeza, elevará a qualidade do ar, do solo, dos mananciais, rios e córregos, elevando a qualidade de vida e o bem-estar da população. Por vezes, a vegetação permeia os edifícios, amenizando a temperatura e oferecendo sombra aos passantes e veículos estacionados nas proximidades.

Árvores em meio a edifícios na Asa Norte do Plano Piloto de Brasília
Foto Aldo Paviani

Sabe-se que preservar a natureza evita catástrofes.

Por isso e de modo geral, a mídia utiliza o termo meio ambiente para se referir à natureza viva, onde o homem está inserido. Há características ambientais que nos fazem manter e perpetuar as condições do ambiente como essenciais à vida no “planeta azul”. De fato, os componentes ambientais são inseparáveis: a vegetação, os rios, os lagos e oceanos, o solo e a chuva. Especialmente na Amazônia e no bioma Cerrado, a existência de árvores facilita a manutenção da umidade ambiental e evita erosões. Em condições ideais, ocorrerá ambiente propício para que se formem nuvens e a possibilidade de que ocorram chuvas.

Erosão próxima a área residencial
Foto divulgação [Agência Brasília/Governo do Distrito Federal]

Aliás no atual período que a agenda ambiental demarca como sendo mais úmido e propício às precipitações atmosféricas, parece ter se modificado, pois, só se percebem chuvas esparsas e ocasionais e não em todo o território como era de se esperar. Por isso, aqui e ali, não se formam nuvens propícias às chuvas. Provavelmente, dirão alguns, o período chuvoso se retardou. Ou, o que é pior, vamos enfrentar as malfadadas “mudanças climáticas”, que a mídia de todo o mundo passou a acompanhar. Veremos o que acontece até maio, quando poderá se iniciar o período seco no Centro-Oeste brasileiro.

Mas, o que esperar se a natureza é desrespeitada ou agredida? Em diversos pontos da cidade notam-se podas radicais em árvores que poderiam permanecer frondosas, proporcionar sombra, ser abrigo noturno para os pássaros, manter o subsolo úmido e embelezar o ambiente com o verde exuberante.

A vegetação está presente no Setor Comercial Norte do Plano Piloto de Brasília
Foto Aldo Paviani

Contudo, não é o que acontece: troncos jazem na sarjeta e são testemunhos de que temos menos uma árvore no ambiente urbano, já tão impermeabilizado com construções, asfalto e obras urbanas de variadas naturezas.

As ações humanas vão modificando os territórios, antes abertos e ocupados por florestas, rios não poluídos e variada gama de animais silvestres, estes, aos poucos dizimados com desiquilíbrios no ambiente natural. Entre as ações que podem ser bem percebidas estão as queimadas em matas, florestas e no cerrado. Não apenas se dizimam árvores, mas igualmente o fogo destrói o habitat dos animais que nele vivem. É importante preservar fauna e flora originais para que as gerações futuras possam dar continuidade e, se possível, ampliando as espécies existentes. A natureza espera atitudes sensatas para que plantas e animais possam ser protegidos para que se mantenha o cenário verde com o solo fértil. Se o desaparecimento do verde for muito rápido, poderemos presenciar a desertificação. No solo gaúcho, próximo a fronteira com a Argentina e Uruguai (entre Uruguaiana e Alegrete) há porções do território com início de desertificação, provavelmente sem retorno para as pastagens que alimentavam o gado lá existente.

Igualmente, no Nordeste brasileiro, sobretudo no Piauí, há porções desertificadas com impossibilidade de cultivos de qualquer espécie vegetal; o que torna a desertificação um grave problema para a produção de alimentos, onde há populações famintas, empobrecendo ainda mais a região. Igualmente se constata que as chuvas são intermitentes ou mesmo escassas para cultivos e criação de animais para abate.

Vista panorâmica do setor residencial de Brasília
Foto Nelson Kon

No restante do país, há desequilíbrio ambiental, quanto a ocorrência de chuvas. O Correio Braziliense publicou em fins de dezembro do ano passado, que as fortes chuvas “castigam 116 municípios baianos” e “deixaram 20 mortos e 358 feridos”, além 31.405 desabrigados e 31.391 desalojados. Por solidariedade, outros estados fizeram muitas doações de diversas naturezas para mitigar as perdas dos baianos, inclusive com o deslocamento de bombeiros do DF para colaborar na catástrofe pluviométrica ocorrida na Bahia.

São Paulo igualmente sofreu com a ocorrência de temporais, que destroem e matam, segundo registra o matutino brasiliense em 31 de janeiro de 2022. Para se ter uma ideia dos prejuízos e sofrimento dos paulistas, o jornal informa que “inundações e deslizamentos” ocorrem na capital e no interior de São Paulo, com feridos, mortes, famílias desalojas e desabrigadas. Recursos extras no orçamento estadual e ajuda federal deverão reduzir os prejuízos ocasionados por essas catástrofes desastres ambientais.

Tendo Brasil porte continental, não é de todo despropositado recomendar medidas preventivas que possam proteger a população e manter o equilíbrio ambiental para minorar essas tragédias. Um aspecto importante é manter as matas e as florestas nativas, que trarão benefícios. Se, ao contrário, houver desmatamento e queimadas, o território sofrerá as consequências da ação contra o ambiente natural. Por isso, a florestas e matas, sobretudo as matas ciliares, são necessárias para manter o ambiente natural em “estado estável”, como determina a Teoria dos Sistemas. Todos devem assumir sua responsabilidade no equilíbrio ambiental.

nota

NE – modificado da publicação original: PAVIANI, Aldo. Brasília e a natureza. Correio Braziliense. Brasília, 17 fev. 2021, p. 9 <https://bit.ly/3OqJZ2H>.

sobre o autor

Aldo Paviani é geógrafo, professor emérito, docente e pesquisador do Departamento de Geografia/IH, do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais – NEUR e do Núcleo do Futuro/Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares – CEAM.

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