Este curta-metragem reúne alguns dos casos, em São Paulo e Paris, estudados na pesquisa “Habitar em devir: outras moradas”, financiada pela MSH Paris Nord. São casos de apropriação coletiva de espaços interiores de edifícios, resultado de processos de ocupação espontânea ou promovidas, amparadas pelo Estado envolvendo imigrantes, refugiados, artistas, residentes temporários e pessoas carentes e vulneráveis.

No primeiro caso, o “59 Rivoli”, um coletivo de artistas provenientes de várias regiões do mundo, resultado de um processo de ocupação de uma antiga sede do banco Crédit Lyonnais, iniciado em 1999, localizado na rua de Rivoli, centro de Paris.

O segundo caso situa-se em São Paulo, denominado “Ocupação 9 de Julho”. Trata-se de um antigo prédio público abandonado que abrigava o INSS, Instituto Nacional de Seguridade Social, na região central da cidade, ocupado no final dos anos 1990, e, reocupado em 2016, pelo Movimento dos Sem-Tetos do Centro – MSTC. Atualmente é o lar de cerca de 124 famílias; um espaço plural, com cozinha comunitária, biblioteca, brechó, galeria de arte e frequente programação cultural.

O terceiro caso, também situado em Paris, é o “Le Cent Quatre”. Local resultante de um processo de reconversão e valorização de um antigo edifício que abrigava o serviço funerário municipal, fechado em 1998, situado no 19º Arrondissement de Paris. No mesmo ano, o local passa a ser administrado por uma empresa de economia mista denominada “Services funéraires – Ville de Paris”. À partir daí, a prefeitura de Paris determina a transformação do lugar em um espaço cultural. É um lugar que se tornou um espaço polivalente, uma instituição cultural pública com residências artísticas, ateliês, oficinas, lojas, com uma programação cultural multiétnica. “Le Cent Quatre” tem como “centro gravitacional” os dois grandes halles (Curial e Aubervilliers) que se convertem em grandes praças multiculturais abertas a todos, transformando-se numa espécie de “babel” contemporânea.

Este curta-metragem é um convite à reflexão sobre a construção do comum e de uma futura hospitalidade baseada em permanências instáveis, transitórias, efêmeras. Lugares sem “objetivo”, lugares sem preocupação de valorizar potenciais, existem a partir da chegada do outro.

ficha técnica da pesquisa

Título
Habitar em devir: outras moradas (Habiter en devenir: autres demeures)

Financiamento
MSH Paris Nord

Coordenador do projeto e do Grupo de Pesquisa Cidade e Arquitetura e Filosofia
Igor Guatelli / professor PPGAU FAU Mackenzie

Pesquisadores
Antonio Fabiano Jr. / professor FAU Mackenzie
Chris Younès / professora da École Spéciale D’Architecture e diretora de honra do Gerphau ENSA Paris La Villette
Eugenio Queiroga / professor FAU USP
Fernando de Mello Franco / professor FAU Mackenzie
Fernando Fuão – professor FAU UFRGS
Guilherme Wisnik / professor FAU USP
Isabela Sollero Lemos / doutoranda FAU USP
José Carlos Freitas Lemos / professor FAU UFRGS
Luciano Pessoa / doutorando FAU USP

sobre o autor

Igor Guatelli é arquiteto e mestre em arquitetura e urbanismo (FAU USP, 1991 e 1999), doutor em Filosofia moderna francesa (FFLCH USP, 2005), pós-doutor (GERPHAU Ecole Nationale Supérieure D´Architecture Paris – La Villette, 2011-2012). Atualmente é professor pesquisador adjunto da graduação e professor do PPGAU da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador Associado do Laboratório GERPHAU-ENSA Paris-La Villette e Université Paris 8. É autor do livro Arquitetura dos entre-lugares – sobre a importância do trabalho conceitual (Senac, 2012).