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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Este estudo apresenta um bairro de Ijuí que, legalmente, nunca existiu, mas que está presente no cotidiano da comunidade. A investigação se desenrola a partir de uma exploração bibliográfica, relatos e recortes de jornais do século passado.

english
This study presents a neighborhood in Ijuí that, legally, never existed, but that is present in the daily life of the community. The investigation unfolds from a bibliographical exploration, reports and newspaper clippings from the last century.

español
El estudio presenta un barrio de Ijuí que, legalmente, nunca existió, pero que está presente en el cotidiano de la comunidad. La investigación se desarrolla a partir de una exploración bibliográfica, reportes y recortes de periódicos del siglo pasado.

how to quote

SCHMITZ, João Vicente Machado. O Bairro das Palmeiras de Ijuí RS. Minha Cidade, São Paulo, ano 23, n. 272.02, Vitruvius, mar. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/23.272/8736>.


Ijuí RS, centro e de bairros da região norte e oeste
Foto Alexandre Maklein [Wikimedia Commons]


O apagamento à memória da cidade – das arquiteturas e da paisagem urbana – é recorrente. Nesta via, o presente estudo propõe uma análise a um recorte geográfico na cidade de Ijuí, situada no noroeste gaúcho. A pesquisa traz a apresentação de um bairro que, por muitas décadas, serviu como um cartão postal do município, onde a comunidade se reunia para contemplação da área, mas que tem sido apagado.

Destaque em vermelho da área em estudo no mapa da ocupação urbana de Ijuí de 1988
Imagem divulgação

A área de estudo localiza-se no bairro São Geraldo, nas proximidades do antigo Seminário São Geraldo – Capuchinhos e se estende até a divisa do bairro Elizabeth.

Este bairro ijuiense foi assim denominado por ser uma área que contava com inúmeros exemplares de palmeiras. A região, conforme história oral relatada por alguns moradores da cidade, era de propriedade dos Freis Capuchinhos, que fizeram o plantio dos exemplares arbóreos na década de 1950.

Inserção do Palmeiras nos bairros existentes
Imagem do autor, 2022 [base: Google Earth]

Em um primeiro momento, o bairro parecia se materializar a partir de uma mudança significativa por volta do ano de 1974 (1), quando a Cooperativa Habitacional dos Operários da Região Serrano-Missioneira – Coohabicasa inaugurou mais de 120 residências. No mesmo período, estava em processo de construção um conjunto habitacional vertical denominado Residencial Bela Vista. Tudo isso indicava que aquela área seria densamente habitada em um breve período. Entretanto, o nome “Palmeiras” não foi oficializado pela prefeitura municipal.

Possível delimitação do Bairro das Palmeiras
Imagem do autor, 2022 [base: Google Earth]

O recorte de área urbana mencionado possui uma heterogeneidade quanto ao uso do solo – residencial, institucional, comercial e religioso. A área destinada à habitação, mais especificamente da Coohabicasa, foi a gênese desse núcleo enquanto área majoritariamente residencial. Aquele local possui um espaço de lazer comunitário ao ar livre (2) que corta a rua Bernardo Gressler, interrompendo o cruzamento dessa com a rua das Palmeiras que, depois dessa pequena praça, possui uma continuidade por uma estrada ainda não delimitada fisicamente, mas que já possui denominação: rua Paulo Cézar Tiellet (3).

Apesar da área ter sido planejada a partir dos núcleos habitacionais horizontais e verticais que se consolidaram ali através da cooperativa habitacional referida, e as edificações estarem em conformidade com as exigências de seu financiador, o Banco Nacional da Habitação – BNH, tanto os moradores locais quanto os das adjacências sempre se queixavam dos problemas que ocorriam naqueles núcleos.

Embora houvesse apreço à região pelas questões paisagísticas, tendo em vista que o Palmeiras se situa em um dos pontos mais altos do município – favorável à contemplação do pôr-do-sol, de fácil visibilidade ao horizonte à época, por volta dos anos 1950 –, ele teve inúmeros problemas referente à infraestrutura (4); a partir do ano seguinte à inauguração das residências da Coohabicasa, em 1975, a falta de água era constante na região assim como os possíveis transbordos do sistema de esgoto no bairro Elizabeth, onde se localizavam os tanques decantadores das residências (5).

O bairro se mostrava no cotidiano do ijuiense, mas ainda sem formalidades. Em 1976 os contratempos seguiram; alguns eleitores receberam seus títulos do Cartório Eleitoral como residentes de um bairro que não existe formalmente: o Palmeiras.  Isso só agravava a situação dos moradores da região, pois implicava na inefetividade de uma associação responsável por aquela área do município a levar questões daquele entorno imediato a terem uma pauta frente à prefeitura municipal (6). O próprio jornal local trouxe apontamentos aludindo o descaso com os moradores à época:

“Há mais de uma semana a Rua Bernardo Gressler no Bairro das Palmeiras não tem iluminação pública. [...] Este é mais um drama para os moradores de um bairro que não existe legalmente” (7).

Situação das palmeiras localizadas ao norte da região de estudo em 2011, 2012, 2014 e 2022
Imagem adaptada pelo autor, 2022 [base: Google Earth]

Apesar da infraestrutura ter sido turbulenta nos primeiros anos, o local foi um atrativo paisagístico que foi se esfacelando com o aumento da demanda por habitações na região; as palmeiras existentes, que davam nome ao conglomerado, passaram a ser suprimidas de forma intensificada a partir da década de 2010, ano aproximado da pavimentação da rua Theodorico Fricke, pontilhado branco na figura recém ilustrada, enquanto o pontilhado vermelho apresenta, em diferentes anos, a supressão da vegetação.

Em 2011 a rua supracitada já se encontrava totalmente pavimentada, com alguns exemplares de palmeiras, da mesma forma que no ano seguinte, em 2012, onde já é possível ver um canteiro de obras na porção leste, exatamente ao lado das palmeiras. Em 2014 os exemplares já haviam sido suprimidos e, em 2022 – naquele local – encontra-se outro canteiro de obras de um edifício.

Alguns exemplares das palmeiras em 2011, com o condomínio Bela Vista ao norte
Imagem divulgação [Google Street View]

As palmeiras ilustradas na figura de satélite 04, podem ser visualizadas através da imagem acima, em 2011, quanto ainda estavam inalteradas, sem a presença de edifícios em suas laterais.

Disse me disse...

Apesar do Bairro das Palmeiras nunca ter sido oficializado pelos órgãos municipais, ele deve seguir representado no cotidiano do ijuiense, sobretudo, dos moradores daquela área. A região se mostra com diversidade enquanto usos, mas o que antes se mostrava como um espaço urbano que era ocupado pela comunidade como área de contemplação, tem se tornado em um espaço fértil ao mercado imobiliário, que tem edificado de forma densa.

O resgate à memória daquele recorte urbano e o que já representou – e ainda o faz – como um cartão postal da cidade, deve ser mantido a fim de perpetuar a paisagem que, mesmo tendo sido alterada de forma significativa, ainda traz traços de áreas de vegetação que remetem às reminiscências.

notas

1
MADP. Acervo documental do Museu Antropológico Diretor Pestana. Jornal da Manhã, Ijuí, 8 out. 1974.

2
IJUÍ. Decreto n. 909, de 1 de outubro de 1983. Determina o fechamento de parte da rua das Palmeiras, ao trânsito de veículos, e dá outras providências.

3
IJUÍ. Lei n. 4258, de 7 de abril de 2004. Denomina de “Paulo Cézar Tiellet” a via pública que menciona, e dá outras providências.

4
MADP. Acervo documental do Museu Antropológico Diretor Pestana. Jornal Correio Serrano. Número de Tombo: AI 000664, Ijuí, 3 mai. 1975.

5
MADP. Acervo documental do Museu Antropológico Diretor Pestana. Jornal Correio Serrano. Número de Tombo: AI 0001445, Ijuí, 16 set. 1976, p. 12.

6
MADP. Acervo documental do Museu Antropológico Diretor Pestana. Jornal Correio Serrano. Número de Tombo: AI 0001289, Ijuí, 21 ago. 1976, p. 4.

7
MADP, AI 0001445. Op. cit.

sobre o autor

João Vicente Machado Schmitz é arquiteto pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí.

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