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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
As cidades são complexas, resultantes de convenções históricas, atividades metabólicas e relações sociais. A criminalidade desafia a urbanização, gerando insegurança. Medidas de segurança pública são necessárias para lidar com essa percepção.

how to quote

PEREIRA, Ana Karoline Soares. Seguridade urbana. Minha Cidade, São Paulo, ano 23, n. 275.02, Vitruvius, jun. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/23.275/8846>.


Seguridade urbana
Desenho Ana Karoline Soares Pereira


As cidades

As urbes são células de cheios e vazios formadas por diferentes organismos de ocupação e organização sob o espaço, que restabelecem de acordo com a atividades antropológicas onde cada bairro tem características próprias, muitas vezes influenciadas pela classe social e histórico ocupacional. Os bairros mais periféricos sofrem com baixa oferta dos serviços públicos, sem lazer urbano, com difícil acesso, e descaso das organizações até nos serviços essenciais, dando brecha a uma criação de uma nova hierarquia interna, muitas vezes se desviando dos normativos impostos (violência e criminalidade). Paralelo a isso, os bairros ainda periféricos, mesmo que de uma classe mais favorecida, continuam sofrendo com a falta de segurança urbana, visto que para a resolução das questões de infraestrutura, cria-se condomínios fechados de grandes muros isolando as vias urbanas e causando sensação de insegurança pública, com base nisso Fernandes afirma que:

“Certas características físicas do ambiente potenciam as oportunidades de cometer crimes pois afetam as percepções do criminoso e, consequentemente, a avaliação que fazem sobre os riscos, explorando as oportunidades em que o cometimento do crime requeira o menor esforço possível, permita retirar os maiores benefícios e apresente o menor risco” (1).

O temor a criminalidade e esse aumento da violência urbana, modifica a forma de habitar a urbe, refletindo diretamente na morfologia das paisagens espaciais. Os espaços livres começam a se modificar por este medo, fortalecendo uma fuga dos meios públicos e uma crescente em ocupar locais privados, aumentando ainda mais a sensação de insegurança nesse cenário, onde o urbanismo e se molda em um modelo apático, gentrificado e “antipobre”, ou seja, produzem efeitos combinados isso significa que a interação espacial de determinada região pode afetar as condições de outras regiões.

Outro efeito dessa crescente violência, é como modifica visualmente a arquitetura, criando uma arquitetura do medo, com muros altos, grades, cercas elétricas, janelas menores, um paisagismo com espinhos, e uma especulação financeira que promove a fuga para condôminos fechados, terceirizando a segurança pública, e tornando o meio público mais propicio a essa criminalidade, visto que isola cada vez mais as ruas.

O crime

A criminalidade depende de alguns fatores de natureza endógenos e exógenos ao urbanismo, desde características contextuais até as individuais, mas que afetam coletivamente, pois a sensação de segurança é essencial para o uso fluido das cidades, pois uma urbe sem segurança e um espaço físico sem identidade e sem uso. Então, como supracitadas influências, buscar novos modelos arquitetônicos e urbanísticos que reestabeleçam as relações da cidade e seus transites torna-se essencial para garantir a segurança pública.

Alguns mecanismos são considerados como estabelecer uma relação plena dos meios urbanos, para isso, é essencial o contato visual com a ruas, isso deve promover e envolver uma arquitetura fluida, onde os edifícios relacionam-se com a rua e oferecerem possibilidades de contato visual, além de promover uma prioridade ao pedestre nas vias, visto que a hierarquia humana- carros traz uma sensação de seguridade maior.

Ponderado o já abordado, o artigo aqui presente desponta de uma necessidade analítica de descrever e promover soluções enquanto compreende a evolução das funcionalidades e do uso do meio público, com base na sua morfologia física e no meio arquitetônico com sua influência política para as questões de segurança urbana.

O objetivo da análise, tem como recorte espacial o Brasil, e elabora uma investigação teórica da interpelação do espaço físico com questões de fenômenos urbanos de cunho violento, e como gerenciar e elaborar mecanismos físicos que possam se manifestar positivamente contra a falta de segurança. Isto é, entender a relação do meio urbano com a criminalidade, e buscar soluções arquitetônicas e urbanísticas para melhorar e garantir a sensação de segurança pública.

Cidade e o crime

Conceituando o meio urbano, temos como local habitado e composto por instrumento básico de infraestrutura, capaz de criar condições adequadas ao desenvolvimento saudável para com seus cidadãos com a única finalidade de gerar bem-estar coletivo, isto é, cidades saudáveis, onde os ambientes urbanos proporcionam transitoriedade plena, alcançando a moradia, o trabalho, a educação, o lazer, ou seja, possibilitam a segurança e o meio ambiente em seus diversos aspectos.

Segundo ainda Silveira “A vida de uma cidade se dá a ler em suas ruas, suas praças, suas casas e edifícios. Ela está impressa em cada um desses lugares” (2). Assim, entendendo uma cidade se entende os processos da sociedade e suas patologias, assim ao avaliar um urbanismo seco, apático e “anti-gente” vemos uma sociedade adoecida com taxas de criminalidade crescentes, com baixa sensação de seguridade, e sem atividade plena de sua cidadania urbana, ou seja, sem vivenciar as suas cidades.

Mas, em nosso país é sintomático que as propostas urbanistas foram medidas tardias, visto que a ocupação no país tinha caráter extrativista, ou seja, sua compreensão como estado de bem-estar para seus habitantes sempre foi insuficiente, e se baseava na relação de exploração e trabalho. Como resultado, temos centros urbanos com problemáticas de funcionalidade, onde por interesse das elites políticas e empresariais de que as urbes se organizam em um caráter progressista, em um crescimento urbano que não traz por si a problemática da insegurança, mas gera um mercado imobiliário violento, e o processo de degradação voraz sobre a cidade, produzindo eixos sociais em níveis antagônicos e visíveis, que fomentam a violência urbana.

Essa criação de centros periféricos, afastam o proletário da zona de trabalho, se estabelecem em zonas de baixo interesse imobiliários, muitas vezes com difícil topografia, que pode causar impactos ambientais negativos, além de sofrerem com a falta de instrumentos urbanos e infraestrutura básico. Esse distanciamento, promove um circuito caótico pela migração trabalhista nos horários de pico. Criando um modo de vida hostil e perverso, onde as jornadas de trabalham tornam-se mais longas devido ao transporte, o lazer se torna escasso, e ainda sofrem com a falta do básico.

Esse uso disperso do espaço público cria bolhas de vazios temporais em espaços públicos, tornando vazios em certos períodos, gerando o oportunismo criminal. Além de que, formaliza a necessidade do mínimo, e fomentar a criminalidade como oportunidade de melhoria de vida, pois sem o básico, conseguir emprego, estudo se torna ainda mais complexo.

Por outro lado, a especulação financeira cria bolhas que visam reduzir a cidade a um espaço fechado e murado, que se formam em uma estrutura de autossuficiência urbana ou o isolamento do “eu”. Este processo de “bricking” de espaços pode ter um efeito positivo na sensação de segurança em casa, mas, por outro lado, pode ter um efeito negativo na sensação de segurança na cidade, pois cria oportunidades para certos tipos de situações criminosas porque não há "olhos na rua".

Entre os problemas que levam a esse tipo de crime estão a subutilização do espaço público, o isolamento de transeuntes em grande número e a falta de equipamentos públicos de lazer. Porque as percepções de segurança podem ser consideradas em conjunto com fatores físicos da infraestrutura de circulação e variáveis do próprio tráfego de pedestres, como a frequência de uso do espaço (3). Espaços públicos e seguros.

Dado como tópico chave desse artigo, o espaço público é literalmente os espaços da cidade, que se desdobra como questão fundamental nas agendas do urbanismo contemporâneo, onde sua estrutura deve seguir uma abordagem funcionalista e utilitarista, isto é onde a acessibilidade, é dada de forma comum e irrestrita a todos os civis, e a rua (incluindo passeio etc.) Deve ser o exemplo máximo dentre todas as tipologias de espaços públicos, pois sua real função é a transitoriedade plena, e segura a todos, dessa forma a segurança se torna tópico organizacional do espaço público.

A questões relevantes a se abordar ao tratar este assunto, como as questões físicas do espaço público, isso é os elementos realmente estruturantes, mobiliário urbano, equipamentos urbanos, diferenças de nível, limites, iluminação, ocupação privada nesse espaço. Em um segundo momento, falamos da dimensão visual, referente aos qualitativos estéticos legibilidades, visibilidade, identificação do usuário com o espaço, o campo de visibilidade dos ocupantes com as vias, e por fim o último tópico trata-se da funcionalidade do espaço, sendo apenas um campo ligante, um espaço de lazer, comercio e afins, e assim ligar soluções utilitárias.

Por essa razão, cabe ao poder público encaminhar medidas urbanas que propicia a ocupação regular dos espaços públicos, cuidando dos aspectos físicos e suas sensações geradas, desde a iluminação, transitoriedade, frequência dos usos, atratividade dos espaços, enfim a qualidade destes.

Conclusão

Assim como todas as questões humanas, a violência fará parte da conjuntura urbana, a discursam aqui presente procura analisar esse contexto e conjunto entre a co-influência urbana e vivência. Ao analisar o todo, percebe-se que trazer olhos para a rua pode gerar uma sensação de segurança bem maior aos transeuntes, e que isolar a zona urbana acaba sendo uma resposta a questões de infraestrutura, mas que agrava ainda mais as questões de segurança.

Assim, procurar formalizar os espaços para melhorarem o espaço de ir e vir de forma plena e segura é essencial, então tentar entender essas mazelas e o primeiro passo para gerir soluções.

notas

1
FERNANDES, Octavio Ianni. O negro no mundo dos brancos. 2ª edição. São Paulo, Global, 2007, p. 51.

2
SILVEIRA, Anny Jakeline Torres. A cerca da leitura das cidades. Varia História, n. 16, Belo Horizonte, set. 1996, p. 79.

3
PRETTO, Nelson De Luca. Inclusão digital: polêmica contemporânea. Salvador, Edufba, 2011, p. 33.

sobre a autora

Ana Karoline Soares Pereira é arquiteta e urbanista (Universidade Salvador, 2023) e pós-graduanda em Gestão de Projetos (Universidade de São Paulo). Possui experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, tendo atuado em projetos de arquitetura religiosa, moteleira, comercial, residencial e em projetos de interiores. Também possui experiência em inspeção predial, com foco na engenharia diagnóstica.

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