Explicação necessária
Vários aspectos determinaram a elaboração da proposta para o edifício sede da COHAB e Secretaria Estadual de Habitação, a saber:
1 . A identificação dos diversos condicionantes existentes no lugar:
a) conflitos relativos a conforto ambiental, especialmente calor e ruído excessivos;
b) trânsito: vias arteriais de alto tráfego;
c) imagem urbana: entorno pouco expressivo e visualmente congestionado;
d) características geo-morfológicas do sítio: a presença do Ribeirão Arrudas, com alto risco de inundação, e a pouca profundidade do lençol freático, onerando a construção em subsolo.
2 . O atendimento completo às demandas programáticas, associado à definição de gradações entre os espaços públicos e privados e à máxima flexibilização dos espaços internos de trabalho.
3 . A adoção de uma racionalidade construtiva estrita, associando complexidade de uso dos espaços internos à simplificação das estruturas e vedações, de modo a garantir a um só tempo qualidade do espaço arquitetônico e economia e agilidade na construção.
1 . Lugar e contexto
Os diversos condicionantes definidos pelo sítio implicaram em soluções arquitetônicas que visam a minimizar os conflitos diagnosticados no lugar.
A implantação do edifício, situando o bloco principal junto à rua Governador Mineiro, afasta as áreas principais do congestionamento das vias urbanas arteriais, evitando conflitos inclusive com a alça de viaduto prevista na implantação do novo terminal rodoviário.
O bloco circular eleva a praça, igualmente distanciando-a do chão e contribuindo para a minimização dos efeitos de ruído e poluição dos automóveis.
Também contribuindo para a redução dos efeitos da poluição e do excesso de ruído, o edifício é envolvido por uma "pele" de chapas perfuradas de aço SAC-41, que regula ainda a incidência direta de sol nos espaços de trabalho, e contribui para a caracterização do edifício, expondo o material principal que define a sua construção: o aço. A regularidade desse elemento se contrapõe à heterogeneidade da circuvizinhança, diferenciando o edifício institucional do entorno residencial e configurando uma potencial referência visual para orientação no tecido urbano.
Devido à predominância da orientação Leste-Oeste nas aberturas, o brise em chapa perfurada foi associado a outros artifícios de controle: a leste, um intervalo de pé direito triplo que caracteriza o foyer contribui para a climatização do edifício através da exaustão do ar quente; a oeste, quadrante mais crítico devido à maior acumulação térmica que decorre da exposição prolongada do edifício ao sol durante todo o dia, o brise é associado a um intervalo de jardim, que além de configurar um filtro adicional aos diversos agentes nocivos, ainda contribui significativamente na ambientação dos espaços de trabalho.
Três grandes vazios, um em cada extremidade e outro intermediário, configuram áreas ajardinadas mais densas, definindo filtros que atenuam especiamente a poluição sonora mais crítica que acontece nas extremidades, de um lado devido à proximidade com a linha férrea, de outro pelo trânsito automobilístico.
Nas coberturas, são empregados mecanismos que propiciam conforto térmico, melhorando consideravelmente a climatização natural do edifício: sobre a praça, o piso elevado protege a impermeabilização dos desgastes de uso e das dilatações excessivas provocadas pela incidência de sol, facilita a drenagem e ainda cria um colchão de ar que confere maior isolamento térmico ao pavimento inferior; na cobertura do bloco principal, que apresenta perfil ligeiramente curvo, a impermeabilização com manta asfáltica anti-raiz é protegida por argamassa armada, brita, terra e grama, o que aumenta o retardo térmico da laje de cobertura.
Devido às limitações de natureza geomorfológicas do sítio, o edifício evita a construção em subsolo, adotando a cota mais baixado terreno (854,00) para a localização do nível mais baixo. A fim de evitar aberturas que possibilitassem eventuais alagamentos, o acesso a todas as áreas internas se faz pelo pavimento intermediário que configura o pilotis e a praça, (cota 857,50), através de rampas no sentido longitudinal do terreno e de escadaria junto à rua Governador Mineiro. Essa diferenciação do nível de entrada contribui ainda para separar a praça e o foyer da confusão e do congestionamento ao nível da rua, conferindo gradações de privacidade aos espaços. A escadaria promove uma integração entre a praça elevada e a rua, a ser urbanizada como uma praça de uso local para os moradores da circuvizinhança.
2. Usos
Buscou-se nas articulações espaciais do edifício estabelecer uma gradação do público ao privado. Assim, se realiza a seqüência calçada (A) – praça elevada (B) - foyer e circulações (C) - áreas de trabalho (D)- terraços privativos (E), definindo o caráter de cada espaço através de variações qualitativas: a inclinação de piso que confere maior interioridade ao espaço semi-público da praça elevada, o pé-direito triplo da entrada, que caracteriza o percurso semi-público e aberto que corta o terreno e ainda diferencia o espaço do foyer, a variação na largura inicial da rampa interna, que revela o maior acesso de público no pavimento em meio nível em que se instala a Diretoria Administrativa da COHAB e a redução da extensão total de cada pavimento, gerando pátios privativos que servem como extensão dos espaços de trabalho.
A articulação geral dos elementos do programa respeita o caráter mais público da COHAB, localizando as duas diretorias que exigem mais contato com o público no pavimento de entrada e no inferior, o que possibilita um controle de acesso a esses espaços independente do restante do edifício. No 1o pavimento acima da entrada, se localizam os demais setores da COHAB, enquanto o último pavimento é ocupado pela Secretaria de Habitação.
A organização de cada pavimento apresenta uma separação entre áreas servidas e áreas de serviço, concentrando circulações e sanitários gerais no bloco longitudinal integrado ao foyer, enquanto os escritórios ocupam o pavimento em planta livre, com modulação flexível de divisórias padronizada em 1,20m. Prumadas hidráulicas aparecem em todos os pilares centrais, permitindo múltiplos arranjos de salas e conjuntos servidos por sanitários individuais. A setorização funcional apresentada busca estabelecer relações de proximidade entre áreas afins, e define a hierarquia institucional através da ocupação dos espaços ambientados para pátios e vazios pelas áreas hierarquicamente mais importantes do programa apresentado.
Na cobertura aparecem os equipamentos técnicos e instalações: caixas d'água, evaporadores de ar condicionado, subestação. Concentrados junto ao bloco que caracteriza o foyer e rampas, libera o espaço da cobertura para um gramado não pré-determinado funcionalmente, que é servido do apoio mínimo de sanitários e copa, a permitir usos diversos, desde confraternizações de funcionários até cerimônias formais ao ar livre.
O partido adotado permite a ampliação através da verticalização do bloco principal, caracterizando um pilotis intermediário no trecho da atual cobertura, e garantindo o acesso apenas pela continuidade dos elementos de circulação vertical.
3. Construção
A máxima racionalização dos processos de construção orientou as decisões com relação ao emprego de tecnologias já existentes e comprovadamente eficientes. A estrutura metálica de perfis soldados define linhas paralelas independentes de pórticos que são contraventados transversalmente pelos painéis em concreto alveolar Premo Struder ou similar. A associação entre estrutura metálica e lajes pré-fabricadas permite uma montagem rápida e econômica. As vedações apresentam tripla "pele": uma caixilharia em alumínio e vidro define uma fachada livre, sucedida por um intervalo verde à qual é sobreposta a chapa perfurada/brise, em estrutura metálica leve independente do caixilho, montada de modo solidário à estrutura metálica.
As jardineiras laterais são caixas pré-fabricadas em concreto sobrepostas a mísulas soldadas ou aparafusadas diretamente na estrutura metálica principal, o que igualmente assegura uma montagem rápida e limpa.
O módulo da estrutura (6000x7200mm) responde a um só tempo às diversas demandas de uso e fabricação: é múltiplo de 600mm, favorecendo a fabricação da estrutura, é múltiplo de 2,40m, permitindo o máximo aproveitamento das áreas de estacionamento, e ainda é múltiplo de 1,20m, flexibilizando totalmente os arranjos funcionais através das divisórias padronizadas.
Uma preocupação constante com as questões relativas à economia permeou a realização deste trabalho. Além do cuidado com a racionalidade construtiva, uma otimização das áreas exigidas, através de um exaustivo. Enfim, buscou-se a realização de um trabalho que respondesse de modo integrado às diversas demandas que interagem na realização de um objeto arquitetônico uso, construção, lugar, conforto ambiental, contexto cultural, imagem através da manipulação ativa e consciente da forma arquitetônica, buscando a um só tempo racionalidade construtiva, economia, qualidade ambiental e invenção arquitetural.
