Da República ao Bem Público
O projeto nasceu do desejo de liberdade, de utilizar o espaço público como parte do cotidiano individual não só como edifício mas também como passagem, estar, caminho, mirante, elo de ligação. Esse desejo surgiu através de dois pontos: o tema do concurso “Memorial à República” e o terreno dado. O tema nos leva a refletir sobre o que é um Memorial e o que é a República. O terreno é o objeto concreto onde algumas das respostas a estas perguntas serão respondidas.
A palavra Memorial vem da idéia de memórias, lembranças, não deixar algo cair no esquecimento. A construção de símbolos, heróis, a comemoração de datas se conjugam na montagem da memória nacional, personificando a nação e conferindo-lhe o sentido de identidade.
A palavra República vem do latim res publica, literalmente o bem público, chamando, portanto, a etimologia da palavra a atenção para o bem público, a coisa comum. Para Montesquieu, que se inspira na tradição romana, a virtude republicana é um sentimento que passa pela devoção do indivíduo à coletividade. Esta dimensão de virtude, na campanha republicana em nosso país, está vinculada à atitudes cívicas de cidadania que tem como base a educação para todos. Neste contexto o programa proposto se encaixa perfeitamente no tema como modo de não se perder umas das bases da República através da creche, biblioteca e demais espaços culturais.
A idéia do projeto parte do princípio de que o terreno deveria ser todo caminhável, ora como praça seca, ora como praça sombreada, ora como ligação entre edifícios. Assim, o projeto desenvolve-se a partir da cota mais alta do terreno, a cota 50,00. Nela está a cobertura do bloco educacional, uma grande praça donde contempla-se todo o terreno.
Ela vai até parte do edifício, o resto, assim como parte da cobertura do bloco cultural, constitui grandes espelhos d’água : a evocação do Rio Piracicaba. Da cota 47,00, na rua Tiradentes, entra-se na creche e no berçário, donde uma passarela faz a conexão com o outro lado do território aonde está o bloco cultural. Esta passarela não é só ponte de ligação entre os edifícios, é sombra para a escadaria / arquibancada voltada para a praça seca e, principalmente, é carregada de símbolos da democracia : ela é palanque, espaço de exposição de idéias, do exercício da democracia.
Da cobertura do bloco cultural na cota 47,00, escadas levam os pedestres à biblioteca, ao auditório e ao espaço de exposições entre ambos : uma praça coberta na cota 41,50, pública, sem fechamentos, voltada para a rua e para a praça seca que é a extensão descoberta da mesma praça. Esta praça seca é o centro do conjunto: ela é avistada pelas pessoas nas coberturas, é o palco das “arquibancadas “ formadas pela escadaria ( acessada pela rua Gomes Sales ), pela suave rampa (acessada pela rua Saldanha Marinho ) e pelo talude aos fundos. Dela, todos as lados são opções de caminhos que podem trazer o pedestre ao ponto de partida simplesmente circulando pelo próprio terreno. É a genuína praça da democracia.